Agropolítica

Plano Safra: “Agricultura não consegue ser feita com 20% de juros”, diz Tereza Cristina

Representantes do setor manifestam temor de que juros do próximo Plano Safra torne “inviável” a atividade agropecuária

Às vésperas do anúncio de um novo Plano Safra, a ex-ministra da Agricultura e senadora, Tereza Cristina (PP-MS), disse estar preocupada com o que virá. O motivo do sinal de alerta é devido ao volume de recursos e, principalmente, aos juros que podem superar a taxa Selic, que atualmente está em 15% ao ano.

“A agricultura não consegue ser feita com 20% de juros, é inviável isso. Nós precisaríamos de crédito com juros do tamanho que caibam no bolso do agricultor e do pecuarista e seguro rural. Eu acho que se a gente tivesse essas três coisas acontecendo no Brasil, não precisava estar discutindo todo ano quanto vai custar o Plano Safra, se vai ter ou não dinheiro”, destacou a senadora a jornalistas nesta quinta-feira, 26, em Mato Grosso do Sul. 

A parlamentar participou do lançamento de um programa de incremento de produtividade do milho em uma fazenda de Ponta Porã (MS). Durante o discurso para cerca de 100 produtores da região, Tereza Cristina disse para que eles se preparem, pois este deve ser “um ano muito difícil”.

“Eu não queria ser estraga prazer, mas nós estamos enfrentando, na agricultura, este ano e no ano passado, anos difíceis. Eu estou muito preocupada com o que vem em termos de Plano Safra. Ninguém sabe direito o que vem. Nós temos aí o seguro rural, que foi cortado ao meio”, enfatizou a ex-ministra.

Tanto para ela como para outras entidades do setor, o recado com o contingenciamento de R$ 445,1 milhões do seguro rural não foi positivo. Paulo Renato Stefanello, diretor administrativo da Aprosoja-MS, também tem a visão de que essa restrição de aproximadamente 42% dos recursos do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) pode afetar o próximo Plano Safra.

“O governo não tem demonstrado um interesse muito grande em estar contribuindo com o Agro e melhorando o financiamento. Tem muita promessa, mas a gente já tomou um susto com o seguro rural, que cortou quase pela metade o subsídio. Então, isso vai impactar muito”, comentou ao Agro Estadão. 

Aumento de juros é inevitável

Na avaliação do diretor-secretário da Federação da Agricultura e Pecuária de MS (Famasul), Fábio Caminha, o cenário macroeconômico do país já permite concluir que os juros para a próxima safra serão mais altos. No caso do Plano Safra 2024/2025, os recursos destinados aos grandes produtores foram ofertados com 12% ao ano, isso com a Selic a 10,5%.

“A gente acredita que não tem como fugir muito, o Plano Safra vai vir com juros mais elevados. Não sabemos ainda a quantidade de recursos, já tivemos a notícia que o seguro agrícola diminuiu, então a gente não está com esperança de que seja muito bom. Estamos aguardando. A produção brasileira precisa de um plano robusto para que ela consiga rodar”, analisou Caminha ao Agro Estadão.

Entendimento parecido ao do diretor da Aprosoja-MS. “O que mais impacta na gente é o custo do dinheiro. Então, uma taxa de juros acima de 12% é uma coisa que a atividade fica muito difícil de pagar”, acrescentou.

Estagnação do crescimento em MS

Quem também esteve presente no evento em Ponta Porã foi o governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel. Sobre as preocupações com relação à política de crédito rural afetarem os produtores do estado, o governador disse que isso vêm de safras frustradas.

Sobre as colheitas ruins dos últimos anos, o diretor da Famasul pontua que o produtor toma mais crédito do que o normal para se manter na atividade. Com juros altos, essa capitalização pode ficar comprometida.

“O Mato Grosso do Sul vem sofrendo uma descapitalização dos produtores devido às frustrações de safras acumuladas.  Nos últimos anos, a gente teve poucas safras de alta produtividade, isso faz com que o produtor demande um pouco mais de crédito. Então, com certeza, para o Mato Grosso do Sul ainda é mais importante que o Plano Safra venha em condições satisfatórias”, indicou Fábio Caminha.

Quando questionado se o crédito mais caro pode diminuir a produção no estado, Riedel cogitou uma possível estagnação do crescimento. “Os produtores são muito resilientes, não é a primeira nem a última crise. Vão plantar, vão equacionar, vão produzir e usar a tecnologia. Agora, é um ambiente de perda de capacidade de investimento, talvez haja estagnação de crescimento de área e de investimento em tecnologia”, acrescentou.

*Jornalista viajou a convite da Corteva