A utilização de tecnologias sustentáveis mostra como o Brasil pode ser referência global na agricultura de baixo carbono
A agropecuária brasileira é uma das soluções para as mudanças climáticas, destacaram especialistas durante o fórum de negócios promovido pela Câmara Americana de Comércio (Amcham) nesta sexta-feira, 28. O evento foi dedicado às discussões sobre a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30).
Durante um painel, a presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Silvia Massruhá, reforçou a evolução da agricultura no país nos últimos anos, destacando o uso de tecnologias que contribuíram para o aumento de produtividade, sem expansão proporcional de área. Para Silvia, no entanto, esse avanço precisa ser enfatizado com dados na COP 30. “A gente tem que trazer esses números e traduzir isso para o público, seja para o urbano ou para os próprios produtores”, afirmou.
Um dos exemplos lembrados por Silvia é o uso da integração-lavoura-pecuária-floresta (ILPF), linha de pesquisa desenvolvida pela Embrapa, em Sinop (MT). “É uma das tecnologias incentivadas pela agricultura de baixo carbono. E a gente, em 12 anos de comparação, usando o ILPF, mostrou que estocamos 30 quilos de carbono por árvore por ano. E só com a restauração florestal! 20 quilos por árvore por ano”, enfatizou.
Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS, salientou que a sustentabilidade já faz parte da estratégia de empresas do setor, por isso, na visão do executivo, a agricultura deve estar no centro da solução climática, uma vez que é fundamental para combater a insegurança alimentar. “Hoje só 4% do que o mundo investe em transformação climática vai para a agricultura. Acho que temos que eleger isso como uma agenda prioritária e o Brasil deveria liderar esse negócio porque a agricultura é um agente de transformação para a questão climática e para erradicar a pobreza”, declarou. De acordo com Tomazoni, o país pode contribuir, ainda mais, com o mundo na transição de uma economia mais sustentável.
A agricultura regenerativa, que busca devolver ao solo nutrientes e carbono, foi apontada no painel como um caminho essencial para enfrentar a crise climática. Segundo Márcio Santos, CEO da Bayer, o Brasil já colhe bons resultados com essa abordagem, a exemplo da produção de soja, principal cultura produzida no país.
Mencionando dados Embrapa, o executivo ressaltou que, a média global de emissões por tonelada de soja produzida é de 2,3 toneladas de carbono (CO2). Enquanto isso, no Brasil, com técnicas como plantio direto e fixação biológica do nitrogênio, esse número cai para 1,3. Já em áreas monitoradas na agricultura regenerativa, chega a 0,7, significando menos impacto ambiental sem comprometer a produção. “Ou seja, se você está comendo um produto de soja em algum lugar, essa soja foi produzida aqui, você está usando menos carbono. A gente tem uma oportunidade de ter uma narrativa maravilhosa e a agricultura regenerativa, para nós, é o centro disso”, enfatizou Márcio.
Outro ponto abordado no painel foi o equilíbrio entre produção e preservação de florestas. Davi Canassa, diretor da Reservas Votorantim, destacou que o Brasil é um dos únicos países do mundo a produzir em larga escala mantendo grandes áreas de floresta preservada. “A floresta foi vista por muito tempo como uma obrigação, mas hoje já entendemos seus benefícios diretos para o agro, como a produção de água e o estoque de carbono”, afirmou.
No entanto, Canassa lembrou que a degradação florestal causada pelas mudanças climáticas ameaça essa vantagem brasileira. “As florestas estão sendo pressionadas por mais de 1,5 °C, infelizmente, que nós já temos. E o IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas] já mostrou que nos próximos 40 anos, talvez a gente perca mais de 40% das florestas por causa desta pressão ambiental”, destacou. Porém, segundo ele, uma gestão responsável das áreas produtivas pode amenizar esse problema.