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Convênio entre Governo de SP e Ocesp autoriza financiamento de máquinas por cooperativas agropecuárias

Objetivo é que o número de tratores vendidos por meio do programa Pró-Trator aumente de 160 em 2024 para mil ao longo deste ano

Um protocolo de intenções firmado entre a Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo (SAA) e a Organização das Cooperativas do Estado (Ocesp) promete atender antigas reivindicações de agricultores e agroindústrias que fazem parte de cooperativas agropecuárias. Uma delas é a autorização para que essas instituições financiem máquinas agrícolas por meio do programa estadual Pró-Trator e Implementos com juros subsidiados em quatro pontos percentuais ao ano. Com isso, a expectativa é aumentar em 600% neste ano a aquisição de tratores pelos produtores paulistas.  

O Pró-Trator foi lançado em 2022, durante a Agrishow, a maior feira de tecnologia agrícola da América Latina, realizada em Ribeirão Preto (SP). No ano passado, os juros começaram a ser subvencionados, mas apenas instituições financeiras, como bancos e cooperativas de crédito, podiam integrar o programa.

A inclusão das cooperativas agropecuárias deve permitir que os recursos cheguem mais rápido aos agricultores. Essa é a expectativa de Daniel Miranda, secretário executivo do Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista (FEAP). Ele projeta que, só em tratores, a comercialização pelo programa deve superar a marca dos mil veículos neste ano, contra 160 no ano passado. O volume de repasses, que foi de R$ 280 milhões em 2024, deverá ter um incremento de 400%. 

Na prática, se um financiamento tem, hipoteticamente, uma taxa de juros de 14% ao ano, o governo assume 4%. Miranda explica que o esperado é que São Paulo contribua para o país reverter o cenário de retração nas vendas de máquinas agrícolas registrado em 2024, quando a receita líquida do setor caiu 19,9%, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). “O recurso do FEAP é democrático, discutido por várias entidades ligadas ao agronegócio paulista. Então, pode ser que esse percentual ainda varie. Nunca para menos de quatro pontos, sempre para mais”, afirma o secretário executivo. 

Assinatura na Suíça

A assinatura do acordo foi feita em 7 de fevereiro, durante o Intercâmbio Técnico do Cooperativismo Agropecuário, organizado pela Ocesp na universidade suíça de St. Gallen e que reuniu mais de 50 presidentes de cooperativas agropecuárias paulistas.

Guilherme Piai e Edivaldo Del Grande assinaram protocolo na Suíça. Foto: SAA/Divulgação

O secretário estadual da Agricultura, Guilherme Piai, que estava presente, anunciou outras medidas que visam atender demandas das cooperativas. Entre elas, estão a inclusão do café e do leite no Programa Paulista da Agricultura de Interesse Social (PPAIS). Para os cafeicultores, haverá o desenvolvimento de um processo, por meio do Instituto de Terras do Estado de São Paulo (ITESP), para simplificar a adesão do grupo ao programa. Já a cadeia leiteira será incluída por meio do Hub do Leite em parceria com a Cooperativa de Laticínios do Médio Vale do Paraíba (Comevap), que atende 600 produtores com pesquisas aplicadas pela Agência Paulista de Tecnologia para os Agronegócios (Apta).  

O secretário anunciou, também, a criação da Diretoria de Cooperativismo e Associativismo na Secretaria de Agricultura, no intuito de possibilitar a participação das cooperativas nas discussões e formulação de políticas públicas pelo governo paulista. 

Para o presidente da Ocesp, Edivaldo Del Grande, o protocolo de intenções demonstra que o governo tem se aproximado do movimento cooperativista para ouvir o setor produtivo, que ele classifica como um grande agente de desenvolvimento social. “As cooperativas rurais trabalham, em sua maioria, com mini e pequenos agricultores. Elas conhecem a realidade do campo e, quando podem orientar as ações, os dois lados só têm a ganhar. Os governos porque podem tomar decisões mais acertadas e os produtores são beneficiados com pesquisa e tecnologia”, explicou Del Grande ao Agro Estadão. 

O convênio, na visão dele, deverá impulsionar mais uma série de medidas que permitam agregar valor aos produtos cultivados em São Paulo. “Além de permitir o acesso a máquinas que os agricultores não conseguiriam de outras formas, esse alinhamento entre iniciativa privada e governo fortalece as parcerias, que são o espírito do cooperativismo, e melhora a vida das pessoas”, afirma Del Grande. 

Unidade de recebimento de amendoim da Casul. Foto: Casul/Divulgação

165 mil produtores

O estado concentra, segundo a Ocesp, 181 cooperativas agropecuárias, que reúnem 165 mil produtores. A Casul, localizada em Parapuã (SP), no oeste paulista, tem pouco mais de 8 mil cooperados de 85 municípios do entorno. 

A cooperativa, fundada em 1960 para atender cafeicultores, precisou virar a chave no início da década de 1990, devido a uma crise que afetou a produção do grão. As atividades principais se voltaram para o cultivo de seringueiras e do amendoim, com processos verticalizados. 

Além de indústrias, a Casul mantém 16 lojas de insumos em São Paulo e mais algumas em outros estados. Para o presidente, Júlio Carlos de Arruda, as medidas anunciadas pelo governo paulista poderão representar a oportunidade de uma nova transformação nos negócios da instituição. 

“Na época da transição do café para outros produtos, se a gente não inovasse, se a gente não se reinventasse, a cooperativa tinha fechado. Agora, a transformação tende a ser diferente. Com a possibilidade de financiarmos máquinas a juros subsidiados, teremos a chance de ajudar a melhorar a frota dos nossos cooperados”, afirma Arruda.