Inovação
Vacinas contra EPS reduzem antibióticos em suínos e geram economia de 69%, indica pesquisa
Doença é endêmica e tem sido combatida de forma preventiva com incorporação de medicamentos na ração dos animais

Daumildo Júnior | Brasília | daumildo.junior@estadao.com
19/05/2025 - 08:00

É comum que granjas de suínos incluam medicamentos na alimentação dos animais, especialmente antibióticos, para tratar de forma preventiva a Enteropatia Proliferativa Suína (EPS) — também conhecida como ileíte suína. No entanto, uma pesquisa demonstrou que o uso de vacinas contra a EPS aliadas a medidas de manejo entregam os mesmos níveis de controle da doença com um custo 69% menor.
O estudo, conduzido pela MSD Saúde Animal, foi feito com 900 animais de uma granja e comparou o uso de vacinas e de medicamentos. Ao Agro Estadão, o médico-veterinário e gerente comercial de Suinocultura da empresa, Marco Aurélio Gallina, explicou como foram feitos os testes.
“Essa avaliação que fizemos foi uma avaliação de campo, ou seja, como a vida é. Pegamos os animais e dividimos em três grupos com três tratamentos. Nós utilizamos o padrão de tratamento que a própria granja já utiliza. O grupo um só recebeu ração medicada. O grupo dois recebeu a ração medicada com a vacinação. No grupo três, foram retirados da ração os medicamentos que atuam contra ileíte e foi feita a vacinação contra a doença”, esclareceu.
Os resultados observados foram desempenhos similares ao final do ciclo de criação. No entanto, o grupo três indicou uma queda significativa nos custos de produção. Na comparação com o grupo 1, a economia foi de US$ 1.156. Já no paralelo com o grupo 2, esses custos ficaram menores, em US$ 1.116,80.
“Nessa avaliação, nós conseguimos reduzir o volume [de antibióticos], cerca de 70%, o que gerou uma economia de 69%. […] A diferença foi de uma economia de R$ 21 por suíno entre o grupo que recebeu só a vacina [grupo 3] e o grupo que recebeu só ração medicada [grupo 1]”, destacou Gallina, que usou o dólar na casa dos R$ 5,41 para encontrar o valor por cabeça em real.
Segundo o especialista, a ideia da pesquisa serve para demonstrar que há alternativas ao uso de antibióticos. A preocupação com o uso preventivo desses remédios é aumentar a pressão de seleção de organismos resistentes. Isso quer dizer que um uso em larga escala pode antecipar o surgimento de bactérias que não morrem com os medicamentos atuais, além de que há uma preocupação com a saúde não só dos animais, mas também dos humanos.
Ileíte: vilão silencioso
Como o médico-veterinário pontua, a EPS é uma doença endêmica no Brasil e no mundo, ou seja, tem grande incidência em todo o território nacional. Ela não é uma zoonose, então não tem risco para os seres humanos. Porém, é uma preocupação no dia a dia dos suinocultores, uma vez que “estudos nacionais indicam que 100% das granjas são positivas, sendo que 70% a 75% dos animais testam positivo”. Devido a essa alta prevalência, os produtores já adotam o uso de medicamentos na ração.
A bactéria que causa a doença é denominada Lawsonia intracellularis. Ela se instala dentro das células do íleo, a parte final do intestino delgado — por isso, o nome ileíte. Basicamente, é uma inflamação no íleo. A ação dos medicamentos é difícil, já que é uma bactéria intracelular. “Há muito tempo, mais de 30 anos, a doença era muito severa”, contou Gallina.
A EPS pode se manifestar de duas formas: uma aguda e outra crônica. O sintoma mais claro da primeira é uma diarreia de sangue no suíno, que pode agravar e levar o animal a óbito. Na segunda forma, não há sintomas expressamente visíveis e não costuma ser mortal. No entanto, o suíno perde peso de forma constante, mas não perceptível a olho nu, já que é um pouco a cada dia.
“Ela causa o prejuízo na fase final da engorda dos animais. […] Nos casos crônicos, o animal vai perdendo um pouquinho por dia de conversação alimentar e de ganho de peso. […] Essa perda de peso varia muito por granja, mas de três a quatro quilos por suíno é tranquilo perder, mas o produtor não vê”, comentou o especialista.
Vacinas
O caminho das vacinas contra essa doença é relativamente recente, com início comercial em 2018, por parte da MSD. Atualmente, a empresa tem dois tipos de vacinas para controle da EPS: a Porcilis Ileitis (aplicação intramuscular) e a Porcilis Lawsonia ID (aplicação intradérmica).
Cada uma tem suas próprias orientações de uso, mas há uma recomendação comum a todas elas. “A maioria das vacinas é feita nos leitões no momento do desmame, entre 21 e 28 dias de idade”, indicou Gallina. Isso acontece para que o sistema imunológico já esteja preparado, pois, com o fim do colostro, essa imunidade extra obtida pelo leite materno é perdida com o passar dos dias.
O gerente também revela que a MSD está desenvolvendo uma terceira opção de vacina com tripla ação. A bactéria da EPS será um dos alvos do imunizante. “Nós vamos lançar uma terceira, que são três agentes diferentes que praticamente todas as granjas precisam. Por que essas três vacinas foram combinadas? Pensando na redução de antibióticos, a agroindústria está investindo cada vez mais em prevenção, mas reduzindo a medicação preventiva, principalmente, os antibióticos” disse.

Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Inovação
1
Estudo usa inteligência artificial para mapear 50 anos de agricultura
2
Fungicida biológico para substituir químicos no tratamento de sementes
3
Pesquisadores usam IA para avaliar maciez e gordura da carne
4
Biológico com concentração multiplicada por 10 promete facilidades aos produtores
5
Tecnologia brasileira monitora remotamente uso de água e crescimento de florestas
6
Imagens de satélite ajudam a prever produtividade de cana e soja

PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas

CONTEÚDO PATROCINADO
Saiba como a semeadura dos grãos pode ser melhor realizada
A irregularidade na semeadura causa perdas de produtividade, como aponta a Pesquisa Agropecuária Tropical (PAT). Conheça a DONNA, a semeadora pantográfica que garante uniformidade e otimiza a janela agronômica mesmo em solos úmidos

Inovação
Embrapa combina IA e sensores para identificar lagarta-do-cartucho no milho
Nova tecnologia detecta lagarta-do-cartucho no milho com mais precisão e evita perdas de até 70% da produção

Inovação
Tecnologia brasileira monitora remotamente uso de água e crescimento de florestas
Solução desenvolvida pelo Instituto Senai em parceria com a startup Agroambiência usa microeletrônica e tem nível alto de precisão

CONTEÚDO PATROCINADO
Aumente a eficiência no campo com o pulverizador ideal
Equipado com motor de 190cv, tanques versáteis e tecnologias como GPS e piloto automático, o Pulverizador Baldan Avola otimiza rotas e elimina sobreposições, garantindo aplicação exata em qualquer terreno
Inovação
Estudo usa inteligência artificial para mapear 50 anos de agricultura
Levantamento identificou seis áreas de pesquisa, lacunas em culturas básicas e crescimento previsto em práticas sustentáveis até 2030
Inovação
Biológico com concentração multiplicada por 10 promete facilidades aos produtores
Produto será lançado em 2026 pela Corteva com a expectativa de otimizar logística, transporte e reduzir o número de embalagens na lavoura
Inovação
NetZero investe R$ 15 mi em 1ª fábrica de biochar a partir da cana no Brasil
Com inauguração prevista para fevereiro de 2026, a fábrica., localizada em Campina Verde (MG), terá capacidade de 4 mil toneladas anuais
Inovação
Startup brasileira é finalista em desafio global de uso da água
Agtech apresenta tecnologia que promove mais produtividade e qualidade nutricional nas lavouras