Inovação

Protocolo BRCana: tecnologia da Embrapa é considerada “a nova revolução” do setor sucroenergético

Produtividade pode aumentar em 70% com o uso do protocolo BRCana, afirma pesquisador

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) lançou o protocolo BRCana, voltado para o plantio de cana-de-açúcar irrigada no Cerrado. A tecnologia é considerada inovadora porque é a primeira do tipo para essa cultura, que tradicionalmente não é irrigada.

O pesquisador da Embrapa Meio Ambiente e responsável pelo estudo, Vinícius Bufon, explica que o protocolo BRCana reúne práticas e recomendações agrícolas para tornar o canavial mais eficiente tanto financeiramente como ambientalmente. É um verdadeiro passo a passo para o cultivo.

“Todos os parâmetros, estratégias, técnicas é o que a gente chama de protocolo de produção irrigada. Imagine que é um monte de chavinhas que eu regulo e pode ter infinitas combinações desses controles. A diferença do BRCana é que esses controles estão dimensionados, ajustados, aperfeiçoados para entregar a maior eficiência ambiental, agronômica, de uso de água e já olhando o sistema de produção de cana atual, do jeito que ele é, moderno e mecanizado”, completa Bufon ao Agro Estadão.

O quanto, como e quando são as variáveis utilizadas nesse modelo de produção, que “não é só jogar água em cima de um sistema de sequeiro”, afirma o pesquisador. “Se você colocar água, de qualquer jeito, em cima de qualquer cultura, vai ter uma resposta, porque é água. Mas isso não é um sistema irrigado de produção. É uma equalização de todas as variáveis para que você extraia maior valor da tecnologia”.

“O nosso objetivo é deixar claro de que é possível fazer uma produção altamente sustentável e irrigada. O uso da água na produção irrigada não é um detrator de sustentabilidade. Para isso, o alicerce é só utilizar água outorgada. Quando você tem uma outorga, o processo está sendo respeitado.”

Vinícius Bufon, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente

Quais os benefícios do protocolo BRCana?

Mais produtividade é uma das principais vantagens apontadas pelo pesquisador, pois esse sistema irrigado favorece a chamada expansão de produção verticalizada, isto é, na mesma área é possível produzir mais. A longevidade também aumenta. Por ser uma cultura perene, um canavial costuma ser replantado de tempos em tempos, e a nova tecnologia amplia esse tempo de renovação.

“A produtividade da cana nesse sistema otimizado salta 70%. A longevidade do canavial sequeiro, que hoje está entre cinco e seis anos, na cana irrigada vai para dez a 12 anos. E dois ciclos, versus 12 anos de produção irrigada, tem um acréscimo de 70% na produção total se comparada a área de sequeiro”, ressalta Bufon.

Fora esses ganhos, a pesquisa também aponta outros benefícios como:

Como funciona o protocolo BRCana?

Bufon conta que o protocolo prevê dois tipos de estratégias para serem aplicadas. Ele ressalta que “uma não anula a outra”, pelo contrário, elas podem se complementar.

Irrigação de salvamento

Foto: Embrapa Meio Ambiente

Essa é uma das estratégias que têm crescido na produção de cana e tem maior potencial de ser incluída no manejo, porque requer um investimento um pouco menor e o método de irrigação tem mais mobilidade. Nessa estratégia, a aspersão é feita por um carretel irrigador, que não fica fixo em um ponto da área. Basta conectá-lo a uma fonte de água próxima. 

Essa estratégia recebe o nome de irrigação de salvamento porque é aplicada no momento da brotação ou na rebrotação da cana – soqueiras – para garantir que esse estágio aconteça. Essa é a fase em que a planta tem mais necessidade de água, além de ser o período que ela está mais frágil. Então, se irriga para “salvar” a brotação. 

“Com apenas 2% ou 3% de toda a demanda hídrica da cana, uma lâmina de 40 a 60 milímetros de água, você consegue garantir uma brotação ótima. O objetivo não é um aumento de produtividade, mas sim de longevidade, com uma quantidade mínima de água. Porque se ela brota mal, ao invés do canavial durar cinco ou seis anos, ele dura dois ou três”, esclarece o pesquisador

Irrigação deficitária ou irrigação com déficit controlado

Essa é a segunda estratégia prevista no protocolo, em que os métodos de irrigação podem variar: ou com pivô central ou por gotejamento – que é um pouco mais cara, mas gasta em média 8% a menos de água e de energia.

Raiz da cana irrigada por gotejamento. Foto: Embrapa Meio Ambiente

Recebe esse nome porque a quantidade de água aplicada ao longo do ciclo da cana vai diminuindo, ou seja, quanto mais adulta, menos água é aspergida. “Quando a cana está nova, a gente supre um percentual maior porque ela é a etapa mais sensível e precisa de mais água. A medida que ela cresce e fica adulta, eu supro cada vez menos, por isso que é uma irrigação deficitária”, completa Bufon.

Basicamente, de toda a necessidade hídrica da cana durante o seu ciclo, a estratégia prevê ofertar entre 25% e 30% dessa necessidade. Além disso, outros 50% são disponibilizados pela chuva, no caso do plantio no Cerrado. “Os nossos números apontam que não é economicamente, nem agronomicamente e nem ambientalmente viável atender 100% da demanda hídrica da cana”, pontua o pesquisador.

Para quem é o protocolo BRCana?

Apesar de ter sido aplicado na fase de teste em usinas sucroalcooleiras, o pesquisador garante que é possível adaptar o modelo para produtores rurais de cana-de-açúcar. Ele também acrescenta que inclusive não que o protocolo não se limita ao cultivo no Cerrado e pode ser transportado para outros biomas e países. 

“Na produção moderna de cana, as premissas básicas de produção não diferem entre grande e pequeno produtor. Por exemplo, o nível máximo em satisfação hídrica que vale a pena financeiramente. Esse número é o mesmo para pequeno ou grande produtor. […] A métrica, o norte, a forma como a gente constrói a tecnologia a gente tenta retirar o viés de escala e a recomendação não está associada a um tamanho ou um tipo de propriedade”, completa Bufon.

Foto: Embrapa Meio Ambiente

Como solicitar o protocolo BRCana?

Os interessados em ter acesso ao  protocolo podem ser solicitado pelo e-mail do pesquisador Vinícius Bufon: vinicius.bufon@embrapa.br.

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