Tecnologia alia reaproveitamento de cama de aves a nutrientes importantes para folhagens e flores
Se você é ‘um pai’ ou ‘mãe’ de planta, provavelmente, já se perguntou sobre o que pode e o que não pode oferecer para as ‘filhas vegetais’. Foi pensando na praticidade para o consumidor urbano que a unidade Solos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) desenvolveu um fertilizante focado para plantas de casa. E como revela um dos pesquisadores da tecnologia, a ideia foi deixar a mãe ou pai de planta “feliz”.
“Esse fertilizante é para deixar o consumidor feliz. A planta está bonita, ele está feliz. A planta ficar bem é fácil para gente fazer. Temos anos que a gente trabalha com isso. Agora, unir questões como a planta ficar bem, o consumidor não ter trabalho, o produto ser uma embalagem fácil de mexer, esse foi objetivo”, comenta Vinicius Benites à reportagem.
Outro ponto-chave do fertilizante é que ele pode ser usado por pais de plantas e de pets. Isso porque o fertilizante tem uma substância que repele os animais, ou seja, evita o risco de intoxicação por ingestão, no caso daqueles pets que gostam de dar uma conferida nos vasos de plantas. “Nós adicionamos a esse produto um derivado da indústria de carvão, que é o cheiro de fumaça. É uma pequena quantidade, porque isso repele animais. Os animais não comem”, destaca.
Além disso, a Embrapa também pensou em outro aspecto considerado pelos consumidores urbanos: a utilização de produtos reutilizáveis. O fertilizante tem na composição cama de aviário. Esses motivos fizeram com que o produto tivesse 93% de aceitação em uma fase de testes com 46 usuários de diferentes regiões do país. “Recebemos muitos comentários do tipo: ‘Eu tinha plantas que nunca tinham florido e começaram a florir’”.
Benites explica que o fertilizante é um orgânico-mineral, isto é, mistura matéria orgânica (cama de aves) com nutrientes necessários para a planta. No meio agrícola, uma das fórmulas de nutrição das lavouras mais conhecidas é o NPK — nitrogênio, fósforo e potássio. O fertilizante da Embrapa, além desses compostos básicos, têm outros elementos que ajudam a planta.
“Nós trabalhamos para que ele fosse um produto multinutriente. Ele tem todos os nutrientes que a planta precisa: NPK, cálcio, magnésio, enxofre, ferro, manganês, zinco, boro, cobalto e molibdênio”, acrescenta o pesquisador.
O componente da cama aviária, além de sustentável, é rico em matéria orgânica. “Tem dois benefícios da cama: o fornecimento de microrganismos para o solo, para enriquecer a biota do solo; e o fornecimento de substrato para o crescimento dos organismos que já estão no solo, já que estou oferecendo também matéria orgânica para o solo”, completa.
O dito que a diferença entre o remédio e o veneno é a dose também se aplica aos adubos. Por isso, os pesquisadores desenvolveram o fertilizante pensando em uma proporção média que seja suficiente para atender as demandas gerais de uma planta e afastar o risco de morte por excesso. Como pontua Benites, o produto foi feito para alcançar diferentes tipos de solos e plantas, sendo necessário balancear bem, já que uma samambaia tem uma carência distinta de um manjericão, por exemplo.
Nesse sentido, a orientação do pesquisador é clara: não abusar e seguir o recomendado. “É muito comum a pessoa comprar um fertilizante mineral, jogar uma colher na planta e ela morrer. Fizemos os testes e mesmo aplicando até três vezes além do recomendado, a planta sobrevive. Mas do que isso, ela morre. E é importante deixar claro que é um fertilizante concentrado. Não é esterco”, alerta.
Quanto à dose indicada, são dez gramas para cada dois quilos de solo no vaso. A reaplicação deve acontecer a cada dois meses. Para facilitar ainda mais, a ideia é que o produto seja acompanhado de um medidor com a gramatura base.
Uma pesquisa de 2024 do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) e do Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor) indicou que o PIB do setor de flores e plantas ornamentais alcançou R$ 18,38 bilhões em 2022. Mesmo assim, e apesar do potencial de alcançar o público da cidade, a tecnologia ainda não está disponível para a venda. A Embrapa Solos está buscando empresas parceiras que queiram iniciar o processo de fabricação, já que essa não é a finalidade da estatal de pesquisa. O contato com a unidade pode ser encontrado neste link.
Benites explica que a ideia é de que o produto possa ser produzido por “arranjos regionais”, ou seja, fábricas em diferentes pontos do país atendendo uma determinada localidade. Isso pode resolver questões logísticas envolvendo a cama de aviário, por exemplo. “Quando você trabalha com produtos regionais, você tem menos impacto de frete e de transporte de massa”, conclui o pesquisador.