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Cana-de-açúcar: conheça a terceira maior cultura do país e fonte de energia limpa

Cultura é difundida há séculos no Brasil; veja o que é, as vantagens e como plantar cana-de-açúcar

A cana-de-açúcar é uma das mais importantes culturas no país. Só em 2023, essa planta gerou R$ 112,5 bilhões, segundo o Valor Bruto da Produção (VPB) do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Isso coloca a cultura como a terceira maior do país, atrás apenas de soja e milho.

Para saber mais sobre a cana, o Agro Estadão conversou com dois especialistas no assunto: o gerente executivo Comercial do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), Rodrigo Almeida, e o engenheiro agrônomo, produtor rural e diretor da Associcana de Jaú (SP), Guilherme Matar Longo. Eles esclareceram algumas dúvidas e deram orientações sobre o cultivo.

O que é a cana-de-açúcar?

A cana-de-açúcar é uma gramínea, ou seja, é da mesma família das gramas, capins e do trigo, por exemplo. A planta tem raiz, caule e folhas, sendo o caule mais usado comercialmente. 

A cana também é uma cultura perene. Isso quer dizer que, mesmo sendo cortada, ela rebrota e cresce novamente. Isso é um fator fundamental para o cultivo ser bastante difundido no Brasil. 

Uma curiosidade da cana é que ela também gera pendões para se reproduzir, no entanto, isso não é bom para a produção, já que quando ela atinge essa fase, o caule passa a diminuir de tamanho e perde o valor para produção de açúcar ou etanol. 

Pendão com flores da cana. Foto: Maria Goreti Braga dos Santos/Embrapa

Cana é fruta?

Não. A cana é uma planta e não é classificada como fruta. O aspecto doce e os usos diferentes podem causar a confusão, mas a cana não é uma fruta, nem mesmo legume ou verdura. 

Origem e história da cana-de-açúcar no Brasil

A cana tem origem no arquipélago de Nova Guiné, na Oceania. Registros apontam que ela foi utilizada na Ásia séculos antes de Cristo e, no Brasil, a cultura foi trazida pelos portugueses. Eles já cultivavam a planta na Ilha da Madeira e ainda no século XVI trouxeram para a costa brasileira, de onde se espalhou e foi um importante motor da economia desde então. 

O diretor da Associcana de Jaú (SP), Guilherme Matar Longo, conta que os italianos, tempos depois, perceberam que era possível fermentar a cana e, a partir disso, produzir cachaça. “Principalmente na região de Piracicaba, criaram-se muitos pequenos engenhos familiares porque eles observaram que a cachaça também tinha um alto valor”, revela. 

Então, a cana-de-açúcar passou a fazer parte do cotidiano das pessoas e, mais tarde, uma tradição culinária. Alguns exemplos disso são os diferentes tipos de rapaduras e a garapa. 

Para que serve a cana-de-açúcar?

Além da rapadura, da garapa e da cachaça, outros dois produtos básicos e muito conhecidos obtidos através da cana são o açúcar e o etanol. No entanto, a cana tem ganhado novos usos, como produção de energia, bioplástico e até SAF (sigla em inglês para Combustível Sustentável de Aviação). 

A produção tem sido cada vez maior no Brasil. Na safra 2023/2024 alcançou o recorde de 713,2 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). 

Produtos feitos a partir da cana: garapa, cachaça e doces. Foto: Paulo Lanzetta/Embrapa

A cana-de-açúcar na geração de energia

Entre as formas de gerar energia, as principais são as seguintes:

Outras produtos e usos dos canaviais

Os especialistas ainda apontam outros usos que a cana-de-açúcar tem e que não são tão conhecidos.

Plantio de cana-de-açúcar. Foto: Claudio Lucas Capeche/Embrapa

Cultivo e manejo da cana-de-açúcar

Pode parecer simples plantar cana, até mesmo por não exigir sementes – um pedaço do caule já é suficiente para brotar. Mas para uma produção empresarial, o nível de tecnologia e exigência é alto, garantem os especialistas. Desde o plantio até a colheita, atualmente, a produção de cana tem passado por inovações constantes, como o lançamento de novas cultivares ano após ano. 

Guilherme Matar Longo afirma que a cana caminha cada vez mais para uma agricultura de precisão, no qual os dados e tecnologias são utilizados do início ao fim do processo para aumentar a produtividade por metro quadrado. 

Por onde começar a plantar cana?

O primeiro passo é identificar a variedade de cana mais adequada para o solo e clima da região. Para isso, é possível fazer essas análises com o apoio de instituições como o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), que fica em Piracicaba (SP). Também é recomendado o acompanhamento de um agrônomo para produções em larga escala. 

“Hoje a gente desenvolve lá no CTC um trabalho que a gente chama de ambiente de produção. Basicamente, eu olho para aquele solo e faço uma amostragem daquele solo e classifico em ambientes bons, intermediários ou mais restritivos para a produção e com isso faço a adequação das minhas variedades. Possivelmente, se você não fizer esse trabalho de base, você vai ter um insucesso”, afirma o gerente Executivo Comercial do CTC, Rodrigo Almeida.

Escolhida a variedade mais adequada, é necessário preparar o solo. Dependendo do local, será necessário fazer o processo de calagem – que corrige a acidez do solo. Além disso, é preciso observar a estrutura do solo para que não haja erosão futuramente. Também será necessário uma adubação do solo. Todo esse processo deve ser feito com um agrônomo. 

Como é o plantio da cana-de-açúcar?

A cana possui no caule estruturas chamadas de gemas que é onde a nova planta irá brotar. Essas gemas já estão aptas para dar origem a novas plantas a partir de nove meses que a planta “mãe” germinou e se desenvolveu. 

Com isso, o caule é cortado em vários pedaços deixando as gemas intactas. Esses pedaços são colocados de forma horizontal em sulcos – buracos – com espaçamento de 1,5 metros (para permitir a passagem de tratores futuramente). Depois basta cobrir os buracos com a terra que foi afastada.  

Segundo o produtor e engenheiro agrônomo, Guilherme Matar Longo, o plantio mecanizado tem se tornado cada vez mais comum. Apesar disso, não é raro que alguns produtores ainda façam o plantio de forma manual. 

Já o período do ano, em geral, para o plantio da cana costuma ser feito em fevereiro, maio e abril. “Cerca de 70% do plantio no Brasil é feito nessa época”, pontua Rodrigo Almeida.

Forma comum de aspersão da vinhaça nos canaviais. Foto: Saulo Coelho Nunes/Embrapa

Desenvolvimento da lavoura de cana

O desenvolvimento e consolidação da lavoura exige um monitoramento de perto do produtor, especialmente na fase em que a planta está brotando e formando as folhas e raízes, pois esses são momentos mais propícios para o surgimento de pragas e doenças. Além disso, o produtor também pode fazer a adubação folicular, que é oferta dos nutrientes do adubo só que pelas folhas da cana.  

Nessa etapa também é comum o crescimento de plantas invasoras, por isso são usados defensivos agrícolas para impedir o desenvolvimento dessas plantas concorrentes. 

Colheita da cana

O tempo em que a planta está apta para ser colhida vai depender da variedade escolhida e do planejamento feito. Em geral, essa etapa pode ser feita depois de 12 meses ou depois de 18 meses do plantio, dependendo do tipo de cana. Basicamente, a cana de 12 meses tem mais rendimento porém tem menos vigor, já a de 18 meses tem mais vigor e longevidade e menos produtividade. 

No caso da cana de 18 meses, essa colheita só é feita nesse período na primeira vez. Depois a colheita é realizada também de 12 em 12 meses.

Quanto à forma com que é feita a colheita, a maioria dos produtores realiza de forma mecanizada e crua. Vale ressaltar que já não se utiliza a queima dos canaviais como forma de facilitar a colheita, além de ser proibida por lei. 

Colheita de cana-de-açúcar. Foto: José Roberto Miranda/Embrapa

Vantagens de produzir cana-de-açúcar

Diferente de outras culturas, a cana tem algumas características que favorecem o seu plantio por parte do produtor rural. Na visão dos especialistas no assuntos, essas são algumas vantagens:

Cuidados antes de começar a produzir

Atualmente, quase 40% de toda a produção nacional de cana-de-açúcar vem de produtores independentes de cana. A maior parte continua sendo produzida pelas usinas processadoras. 

Como a cana é uma cultura que exige uma empresa beneficiadora por perto, o produtor interessado neste negócio deve levar isso em consideração antes de começar uma lavoura de cana. Isso porque o frete não compensa para distâncias muito grandes. 

Também é importante o produtor ser auxiliado por um advogado para a formalização do contrato de fornecimento de cana para a usina. Associações de produtores podem ajudar também neste momento.

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