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Com leite de búfala, empresa mineira triplica tamanho e mira no exterior
A empresa familiar Bom Destino produz queijos e derivados 100% leite de búfala e está prestes a fornecer os produtos para hotel nas Maldivas

Fernanda Farias | fernanda.farias@estadao.com
10/07/2024 - 08:00

Em três anos, a empresa Bom Destino viu as vendas dos produtos à base de leite de búfala crescerem 300%. A procura intensa pela mozzarela de búfala – o carro-chefe da marca – a burrata e o iogurte não surpreenderam o administrador, Aurélio Arruda Souza.
É que a aposta no leite de búfala começou lá atrás, há mais de duas décadas, quando o pai e o tio de Aurélio decidiram arriscar diante de um momento de crise. Os dois irmãos haviam fundado a empresa alguns anos antes e sabiam que oferecer um diferencial para os clientes poderia os levar a conquistar uma fatia importante do mercado.
“Para sobreviver no mercado de mozzarela de vaca era muito difícil porque era uma marca nova no mercado. Então a gente não tinha valor agregado no mercado e não tinha volume pra ganhar em escala. Foi quando surgiu a oportunidade de migrar para o queijo de búfala”, conta Aurélio.
Pioneira no mercado de leite de búfala em Minas Gerais, a Bom Destino também é uma das poucas empresas que possuem selo de certificação que comprova que todos os produtos são feitos exclusivamente com leite de búfala. Atualmente, a marca detém cerca de 40% do mercado brasileiro de derivados do leite de búfala. O principal estado consumidor é São Paulo; logo atrás estão Minas Gerais e Rio de Janeiro.
O sucesso é atribuído à matriarca da família, avó de Aurélio. “Ela era produtora de leite bovino e ficou viúva muito cedo. Foi quando meu avô morreu que meu pai e meu tio começaram a trabalhar com a minha avó. Meu pai tinha nove anos e meu tio, 11”, conta.

Ao completar 35 anos, foco é nas exportações
Em maio, a Bom Destino completou 35 anos com planos ousados para a comercialização. A expectativa é aumentar as vendas no mercado nacional em 40% e ampliar o número de compradores internacionais. As exportações começaram neste ano, com envio de duas toneladas por mês de queijo de leite de búfala para os Estados Unidos.
“Hoje, somos habilitados para exportar para Paraguai, Uruguai, Argentina e Peru. E estamos em contato com uma rede de hotéis nas Maldivas, no Caribe”, comenta Aurélio.




Por mês, são produzidos um milhão de litros de leite de búfalas e 260 toneladas de laticínios – distribuídas em 50 itens. Resultado do trabalho de 420 funcionários que atuam na indústria e nas quatro fazendas da empresa, que fica no Distrito de Oliveira, sul de Minas Gerais e a 150 quilômetros da capital Belo Horizonte.
Segundo a administração, a estrutura será ampliada para aumentar a capacidade de produção diária de 75 mil litros de leite para 120 mil litros de leite. “Inovação está no nosso DNA, estamos sempre pensando e lançando novidades para o consumidor. Hoje, somos o maior mix de derivados de leite de búfala no Brasil”, comemora o administrador.
Como as búfalas são tratadas na fazenda
O leite usado para produzir queijos, manteigas, iogurtes, burratas, entre outros produtos, é captado dentro da fazenda, onde vivem cinco mil animais. Parte também vem de 110 produtores associados, que seguem os mesmos critérios de qualidade da marca.
O administrador Aurélio de Souza conta que os bubalinos são criados livres. “Eles são tratados a pasto e têm conforto muito maior que o animal confinado. Ele fica em sistema de piquetes rotativos, com alimentação balanceada e adequada para as necessidades dele”, afirma Aurélio.


“Em relação ao bovino, o búfalo é muito menos estimulado a chegar no seu limite de produção. Ele é livre de medicamentos e hormônios devido à sua rusticidade”, complementa. Justamente pela rusticidade, o custo de produção é inferior ao dos bovinos.
O Brasil tem um rebanho de 1,6 milhão de cabeças de bubalinos, de acordo com o IBGE. As raças Murrah e Mediterrâneo são as mais comuns. Os búfalos Mediterrâneos têm origem italiana e aptidão tanto para produção de carne quanto para de leite. Já a Murrah é uma raça de origem indiana e tem como características a cabeça leve e os chifres curtos em forma de anéis.
Leite de búfala tem alta rentabilidade para o produtor, mas ainda enfrenta resistência do consumidor
Considerado um produto nobre, o leite de búfala é 60% mais valorizado que o leite bovino. Bom para o produtor que é melhor remunerado. Mas o consumidor ainda não foi totalmente conquistado.
“O nosso desafio mesmo é criar o hábito de consumo, ensinar o brasileiro a consumir os produtos de búfala que são desconhecidos da maioria das pessoas”, reflete Aurélio, lembrando que os preços não são muito diferentes dos queijos especiais feitos de leite de vaca.
“O consumo de parmesão, gorgonzola é infinitamente maior que o queijo de búfala, porém o preço deles é duas vezes maior que uma burrata ou uma muçarela fresca bolinha”, avalia.
Para o empresário, criar a cultura do consumo de leite de búfala é um trabalho a longo prazo, com participação em eventos, exposição de produtos e degustação. “Nosso trabalho precisa ser impecável, para que lá na frente, o consumidor prove, compre e ‘recompre’ os produtos”, argumenta.
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