Economia
Tarifaço de Trump pressiona setor lácteo brasileiro que vê alta de custo
EUA são o segundo principal destino das exportações de produtos lácteos do Brasil, respondendo por 13% dos embarques

Sabrina Nascimento | São Paulo | sabrina.nascimento@estadao.com
09/04/2025 - 08:00

O tarifaço de Donald Trump segue mexendo com os mercados e cadeias produtivas globais. No setor lácteo, não é diferente. Os efeitos da tarifa de 10% sobre o Brasil ainda estão sendo projetados, entretanto, o sinal de alerta está aceso — tanto do lado das exportações (apesar de o país ser historicamente um importador), quanto do aspecto do custo de produção.
Embora os Estados Unidos (EUA) não sejam o principal destino dos lácteos brasileiros, o país ganhou relevância nos últimos anos. Em 2024, eles foram o segundo destino das exportações do Brasil, respondendo por 13% do total embarcado no ano, atrás apenas do Chile. Ao todo, o país comprou 4,1 milhões de toneladas de produtos lácteos brasileiros, convertidos em litros de leite equivalente.
No ranking dos três principais itens enviados pelo Brasil aos EUA estão leite condensado, creme de leite e queijos.
Exportações de lácteos para os EUA em 2024 | ||
---|---|---|
Grupo | Exportação (kg) | Exportações (US$) |
Leite condensado | 1.640.514 | 4.233.214 |
Creme de leite | 1.085.236 | 3.382.663 |
Queijos — total | 901.555 | 6.161.887 |
Doce de leite | 261.653 | 1.201.955 |
Leite UHT | 60.662 | 71.978 |
Manteigas | 47.819 | 320.062 |
Leite em pó integral | 12.079 | 85.586 |
Iogurtes | 10.859 | 21.179 |
Leite modificado | 3.466 | 34.053 |
Leite em pó desnatado | 2.464 | 18.013 |
Soro de leite | 1.590 | 1.539 |
Outros | 16 | 27 |
Total | 4.190.869 | 16.163.407 |
A pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Natália Grigol, ressalta que, no contexto de que o Brasil exporta entre 0,5% a 1% da sua produção, os embarques do setor lácteo para os EUA são relevantes. “Esses anúncios das tarifas pegam sim o mercado de alguma maneira, eles trazem certas preocupações para o mercado lácteo, tanto pela questão do destino, pelos EUA serem um comprador, quanto também pela reação dos outros países face a essas tarifas”, disse a pesquisadora ao Agro Estadão.
Segundo a especialista, outro aspecto a se considerar é o impacto indireto nos custos de produção, principalmente se houver um aumento na demanda da China por grãos brasileiros, como soja e milho, essenciais na formulação da ração animal.
Grigol lembra que os custos de produção dos produtores de leite estão, atualmente, em um patamar mais confortável na comparação com anos anteriores, especialmente com 2022, considerado um dos piores momentos para a pecuária leiteira.
Em boa parte do último ano, os preços de grãos e demais insumos recuaram e contribuíram para uma certa estabilidade, com o custo operacional efetivo subindo apenas 2,5% no acumulado do ano. No entanto, essa alta foi pontual, concentrada principalmente nos meses de outubro e novembro, por conta de queimadas que afetaram a produção de alimentos no campo.
O câmbio também pesou nesse quadro, encarecendo os produtos importados utilizados na suplementação animal. “A China é uma potência. Tudo que ela decide fazer afeta o mercado global. Se, por exemplo, ela decidir substituir grãos dos EUA por grãos brasileiros, podemos ter uma redução da oferta interna e aumento de preços aqui dentro”, explica Natália. “Isso encarece a produção não só de leite, mas de todas as proteínas animais”, afirma a pesquisadora, ressaltando que antes do tarifaço já existia uma perspectiva de alta no custo de produção, agora, com os desdobramentos das tarifas essa projeção deve ser consolidada, mesmo diante de uma safra recorde sendo colhida pelo Brasil.
Oportunidade x Desafios
A reconfiguração do comércio global é descrita pela pesquisadora como uma “dança das cadeiras”. Ela pontua que as tarifas norte-americanas podem gerar excesso de produtos lácteos em outros países exportadores para os EUA, como Uruguai e Argentina — principais fornecedores do Brasil via Mercosul —, ou o contrário: redirecionar esses volumes a novos mercados, aumentando a concorrência e os preços.
Há também a especulação sobre novos destinos comerciais. “Mas tudo depende do perfil de consumo desses países e da capacidade brasileira de atender à demanda”, observa Natália.
No entanto, ela ressalta que, apesar das possíveis oportunidades, a competitividade brasileira na exportação ainda é baixa, apesar da eficiência produtiva. “Temos alguns produtos fortes, como leite em pó e creme de leite, mas ainda há barreiras logísticas, sanitárias e de custo que dificultam a inserção no mercado externo”, salienta.

Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Economia
1
Conheça a cagaita, uma fruta do Cerrado com muitos usos e benefícios
2
Conheça 5 raças de cavalo criadas no Brasil
3
Brasil já está no limite da capacidade de exportação de soja para China, diz Aprosoja
4
Já provou uvaia — fruta brasileira amarelinha, ácida e saborosa?
5
Manejo, raças e produtividade: um raio-x das maiores fazendas leiteiras
6
Guerra comercial entre EUA-China ameaça exportações brasileiras, mas pode favorecer café e carne

PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas

Economia
Abiarroz: Brasil exporta 86% mais produto em casca em março ante março de 2024
Em receita, as vendas somaram US$ 45,3 milhões, resultado 109% maior que em fevereiro e 5% superior ao de março de 2024

Economia
GO: vacinação contra raiva de herbívoros começa em 1º de maio
Campanha será a última com obrigatoriedade em 119 municípios goianos; declaração de rebanho também é exigida, até 30 de junho

Economia
Feicorte 2025 é lançada com expectativa de atrair mais de 10 mil visitantes
Maior feira indoor de gado de corte da América Latina será realizada entre 17 e 21 de junho, em Presidente Prudente (SP)

Economia
Brasil mira a Ásia para ampliar exportações de gergelim e feijões especiais
Missão do Ibrafe e Apex Brasil percorre China e Coreia do Sul para fechar novas parcerias técnicas e comerciais
Economia
MG: safra de cana deve recuar 7,1% em 2025/26, mas área plantada cresce 10%
Estiagem prolongada afeta produtividade e qualidade da matéria-prima, mas estado segue como segundo maior produtor nacional
Economia
ExpoZebu começa neste sábado com expectativa de R$ 200 mi em negócios
Maior feira de pecuária zebuína do mundo celebra 90 anos reunindo criadores, autoridades e visitantes internacionais em Uberaba (MG)
Economia
China reafirma não estar negociando sobre tarifa com EUA e pede fim de 'confusão'
Presidente norte-americano havia dito que teve reunião com representantes chineses, sem dizer quem seriam
Economia
Arroz: termina nesta sexta prazo para antecipar direito de venda à Conab
Poderão antecipar o exercício do contrato os produtores e as cooperativas da Fronteira Oeste do RS e também do PR, MS e de MG