Economia
Ovos: preço sobe para o consumidor, enquanto avicultores enfrentam custos elevados
Apesar da disparada nos preços, avicultores lidam com custos altos e incertezas no mercado

Sabrina Nascimento | São Paulo | sabrina.nascimento@estadao.com | Atualizada às 18h03
18/03/2025 - 16:03

O ovo, um dos alimentos mais consumidos pelos brasileiros, tem registrado altas consecutivas nos últimos meses, atingindo patamares recordes em diversas regiões do país.
Segundo levantamento do Centro de Estudos em Economia Aplicada (Cepea), em fevereiro, o valor médio da caixa com trinta dúzias de ovos brancos chegou a R$ 201,77 em Bastos (SP), enquanto que na “capital do ovo”, Santa Maria de Jetibá (ES), ficou em R$ 220,22 — respectivamente, alta de 19,1% e 33,1% em relação ao mesmo período do ano passado.
Os preços também subiram na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), a maior central de abastecimento da América do Sul. No fechamento de fevereiro, a dúzia de ovos vermelhos foi comercializada a R$ 9,55, em média, com variação de 23,8% nos últimos 12 meses. Enquanto a dúzia dos ovos brancos ficou em R$ 8,37, alta de 24,5% em um ano.
Quem olha apenas uma ponta da cadeia, deve imaginar que o produtor está registrando lucro com a elevação dos ovos. No entanto, o avicultor vem de um ano de estreitamento das margens.
Em 2024, por seis meses consecutivos, o produtor acompanhou queda no preço do ovo. “Na maioria do ano todo, o poder de compra foi negativo para o agricultor. Então, além desse maior custo com os insumos para ração, o avicultor também teve outros aumentos de custos”, disse Claudia Scarpelin, pesquisadora do Cepea, destacando que o quadro pressionou a margem de lucro do produtor.
E, apesar do aumento atual nos preços dos ovos, os insumos essenciais na composição da ração também acompanharam a alta. No caso do milho, houve avanço 17% em fevereiro, com a saca de 60 quilos negociada, em média, a R$ 87,00.
Porém, em fevereiro de 2025, segundo o Cepea, a relação de troca entre ovos e milho se tornou a mais favorável para os produtores de ovos brancos tipo extra dos últimos nove meses, com um aumento de 32% na quantidade de milho que pode ser adquirida com a venda de uma caixa de ovos.
Já no caso do farelo de soja, a relação de troca atingiu um recorde histórico, permitindo que os produtores comprassem 44,7% mais farelo com a venda de ovos, quando comparado a janeiro. “Nós perdemos muito dinheiro em 2023 e no início de 2024 com o milho ao redor de R$ 50, mas, estamos começando a ter margem, mesmo com o milho em cerca de R$ 95. Isso mostra que, o comportamento dos preços nem sempre está relacionado diretamente aos custos, o que realmente influencia é a oferta e demanda”, pontuou Érico Pozzer, presidente da Associação Paulista de Avicultura (APA).
Um olho nos ganhos, outro nos custos
Lourival de Lima, avicultor independente em Tibagi, no Paraná, sabe que o custo de produção, especialmente com milho e soja destinado à ração, é um fator crítico. Porém, ele acredita que a valorização dos ovos, combinada com a crescente demanda, está tornando a atividade mais rentável, após os anos de crise no setor.
O produtor, que iniciou na atividade em 2021 com 5 mil aves, hoje possui 50 mil galinhas, com uma produção média diária de 95%. Ao Agro Estadão, ele contou que se planejou estrategicamente, esperando um momento de alta no mercado para investir na ampliação de sua capacidade de produção. “Estou construindo um outro galão. Cada galpão tem mil metros quadrados. Estou construindo um novo um pouco maior e vou colocar 75 mil aves. Eu começo o alojamento em agosto”, disse.
Já no Espírito Santo, terceiro maior estado produtor de ovos para consumo, os avicultores que permaneceram na atividade vêm se recuperando, pagando suas dívidas e tendo mais equilíbrio das contas. “Hoje, eles estão trabalhando na manutenção das suas granjas, fazendo os investimentos necessários e buscando modernizar e também tentando construir uma reserva para possíveis crises”, explica o diretor executivo da Associação dos Avicultores do Estado do Espírito Santo, Nélio Hand.
Ele sinaliza, no entanto, que diante dos custos dos insumos que vêm subindo, o produtor fica cauteloso, procurando ter uma precaução diante de possíveis desafios futuros. “Por ora, o ovo tem apresentado uma remuneração positiva para o produtor, mas há o risco de, em determinado momento, acontecer um revés”, ressalta Hand.
Afinal, por que o preço dos ovos subiu?
Na última semana, conforme mostrou reportagem do Estadao.com, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, questionou a alta no preço dos ovos ao consumidor. “Eu estou querendo descobrir onde é que teve um ladrão que passou a mão no direito de comer ovo do povo brasileiro”, afirmou.
Ao Agro Estadão, a pesquisadora do Cepea, Claudia Scarpelin destacou três fatores que explicam a atual conjuntura: descarte de aves mais velhas, impacto da onda de calor na produção e elevação dos custos de insumos essenciais, como milho e farelo de soja. “Associado ao aumento na demanda em fevereiro, com a volta às aulas escolares, a população voltou com seus atos de consumo, consumindo mais ovos. Então, esses fatores fizeram com que houvesse uma valorização mais expressiva de janeiro para fevereiro”, salientou.
Ainda segundo a especialista, o elevado preço das carnes bovina, suína e de frango tem feito a população consumir mais ovos, aumentando a demanda pelo produto.
Calor afetou a produtividade das aves
Em 2024, a produção de ovos de galinha atingiu um novo recorde: 4,67 bilhões de dúzias — aumento de 10% em relação ao ano anterior, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados nesta terça-feira, 18.
Apesar disso, a demanda aquecida no início de 2025 se deparou com a baixa oferta de ovos, um cenário impulsionado pelas altas temperaturas que impactaram diretamente a produtividade das granjas.
No Espírito Santo, terceiro maior produtor nacional de ovos para consumo, estima-se uma redução de produtividade em 5%. “Isso [o calor] faz com que haja redução na postura e comprometimento na qualidade da casca, que fica mais frágil, com maior risco de trincar. Além disso, o período de postura é mais longo, ou seja, a galinha demora mais para pôr ovos. Esses fatores contribuem para afetar a oferta de ovos no mercado”, afirmou Hand.
A alta das exportações tem influência no preço dos ovos no Brasil?
No último mês, as exportações brasileiras de ovos saltaram 57,5%, de acordo com levantamento da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). O movimento foi impulsionado, principalmente, pelas compras do Japão e dos Estados Unidos (EUA), que aumentaram os volumes importados em 111,3% e 93,4%, respectivamente. Desde 2022, os norte-americanos têm enfrentado um surto de H5N1, popularmente conhecido como gripe aviária, afetando a produção no país.
A ABPA descarta qualquer relação entre as exportações e o aumento do preço dos ovos no mercado interno. Segundo a entidade, mesmo com a alta expressiva dos embarques no ano, em torno de 38% em volume, o montante não alcançou 1% do total produzido no país. “Para efeitos comparativos, neste ritmo, é esperado que o Brasil exporte 35 mil toneladas de ovos neste ano, diante de uma produção nacional de 3,6 milhões de toneladas de ovos”, destacou em nota enviada ao Agro Estadão.
Apesar da maior demanda externa, a pesquisadora do Cepea pondera que é necessário acompanhar os próximos meses. “Eles [os EUA] foram o segundo principal destino das nossas exportações em fevereiro. Mas para afirmarmos que isso de fato vai impactar o nosso preço eu teria um pouco de cautela e esperaria para ver como é que vai se comportar o volume exportado nesse primeiro semestre. Então, a gente terá uma noção se realmente vai impactar no mercado interno ou não”, disse.
O presidente da APA destaca ainda que, além de representar menos de 1% da produção, as exportações do setor, majoritariamente, ocorrem de maneira industrializada, ou seja, ovo líquido ou em pó. “Esse ovo in natura que é exportado, que a gente vê aí, são os ovos férteis que vão para países onde vai nascer pintinho. Normalmente, esses ovos vão de avião. Então não ponham culpa na exportação de ovos que não existe”, enfatizou Pozzer.
Quando o preço do ovo deve cair?
Em relação às perspectivas de mercado, espera-se que os preços dos ovos voltem a se acomodar após a Páscoa, quando a Quaresma, tradicionalmente um período de maior consumo, terá terminado. “A tendência não é que continue, durante o ano todo, esse preço nesse patamar de R$ 210”, afirma Claudia.
Além disso, com a chegada do outono-inverno nos próximos meses, a normalização das temperaturas e o aumento na oferta de aves poedeiras podem contribuir para estabilizar a produção e reduzir a pressão sobre os preços ao longo do ano.

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