Durante World Agri-Tech, agentes do mercado financeiro discutiram os riscos da tomada de crédito
A oferta de crédito para o agronegócio deve seguir no ritmo estável na avaliação do E-agro, plataforma digital de financiamento rural do Bradesco. A head da plataforma, Nadege Saad, participou de um dos painéis da World Agri-Tech South America, que abordou o mercado geral de crédito rural no Brasil
“Perspectiva de oferta [de crédito] neutra. Acho que a gente não expande, mas também não retrai”, afirmou Saad durante o debate.“Eu acho que ele vai permanecer neutro pelo cenário de incertezas e porque você tem diversas fontes de crédito disponíveis ao produtor, umas com mais risco outras menos. Nós, do ponto de vista do Bradesco Agro, a gente quer crescer. A gente quer crescer nossa carteira”, disse ao Agro Estadão.
O entendimento é de que a agricultura é uma atividade “cíclica” e essas oscilações são normais. “A gente já viveu outras crises. A gente já viveu escassez de crédito. Eu não vejo a gente tendo um 2024/2025 com menos oferta de crédito”, completou.
Na mesma linha, o presidente da Syngenta para o negócio de Proteção de Cultivos no Brasil, André Savino, caracterizou o momento como uma fase de ajuste, o que já foi vivido em outros momentos.
“[A agropecuária] já passou por ajustes de crises de commodities, ajustes do mercado econômico e ajustes do mercado de oferta e demanda, ou seja, é um mercado altamente volátil. O que a gente vem vivenciando agora é um momento de ajuste sim, como a gente vivenciou 2002, 2008, 2014 e assim por diante”, destacou Savino. Na visão dele, “os fundamentos” do setor são sólidos no Brasil e acrescentou que a “oferta e demanda de alimentação mundial” também favorecem a análise.
A inadimplência também será observada de forma mais clara pelas instituições financeiras. Para Saad, os bancos e demais entes do sistema financeiro devem aumentar as exigências para diminuir os riscos, porém sem afetar a oferta. “Eu vejo uma oferta de crédito mais mitigada em termos de risco”, afirmou.
O diretor de Agronegócio da Serasa Experian, Marcelo Pimenta, destacou a questão do endividamento rural. Para ele, o setor financeiro deve sim fazer uma avaliação mais detalhada, mas mantendo a oferta.
“A questão da inadimplência a gente precisa ter cuidado. E quando a gente vê o número de recuperações judiciais, em comparação ao total de produtores que tomaram crédito, é muito pequeno. O mercado vai ter um escrutínio maior para fazer a análise de crédito, mas é ele que vai suprir a necessidade para a próxima safra”, explicou ao Agro Estadão.
Com o ano agrícola 2024/2025 se aproximando, “será uma necessidade maior [de crédito] do que a safra anterior”, do ponto de vista de Pimenta. Mesmo com o Plano Safra 2024/2025 perto de ser anunciado, Pimenta comentou que os recursos ainda serão poucos diante do cenário geral.
“De maneira geral, é necessário ter mais crédito, porque tem demanda por alimento. O que vai mudar é a composição desse crédito. O orçamento do governo é finito e ele não vai conseguir sustentar toda a necessidade de crédito. Independente do número do Plano Safra, vai ser necessário mais crédito e quem vai preencher essa parte que falta é o capital privado”, disse.
*Jornalista viajou a convite da BASF