Economia
Incêndios causaram R$ 2,67 bilhões em prejuízos ao setor canavieiro no Centro-Sul
Quebra na safra de cana-de-açúcar é estimada em 15%; São Paulo tem maior área queimada, com 263 mil hectares
4 minutos de leitura 06/10/2024 - 08:20
Rafael Bruno | São Paulo | rafael.bruno@estadao.com
A região Centro-Sul do país teve 414 mil hectares de canaviais destruídos pelos incêndios em 2024, especialmente no mês de agosto. A Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana) afirma que os prejuízos somam R$ 2,67 bilhões e o impacto também será sentido na produtividade. A quebra nesta safra está estimada em 15%, segundo a Orplana.
O estado de São Paulo concentra a maior área de queimadas – 263 mil hectares. Os prejuízos com o fogo nos canaviais paulistas somam cerca de R$ 1,59 bilhão e foram confirmados pelo CEO da Orplana, José Guilherme Nogueira, durante webinar promovido pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) na sexta-feira, 04.
Nogueira ressalta que o momento mais crítico ocorreu em agosto, com mais de 11 mil focos de incêndios registrados, com destaque para as regiões de São José do Rio Preto, Araçatuba, Araraquara, Ribeirão Preto e Presidente Prudente. Nesses locais, o déficit hídrico contribuiu para as queimadas, segundo o executivo da Orplana.
“Se a gente pega a média de chuvas dos últimos dez anos é de 1.400, 1.390 milímetros, aproximadamente [de novembro a abril]. E neste ano, já contabilizando um pouco de setembro, a gente percebe um volume de 200, 220 milímetros a menos na média. Isso traduzido nas regiões é ainda pior com uma seca que vem desde a safra 2023/24, pegando a 24/25, e acabou resultando nos incêndios e os prejuízos que vemos”, diz Nogueira.
O CEO explica que não necessariamente os hectares atingidos resultam em 100% de perdas, mas há prejuízos significativos em qualidade e produtividade, pois são consideradas as áreas de cana em pé e também de rebrota.
“Claro que cada caso é um caso, mas existe uma média, um cálculo para se chegar a esses prejuízos. Por exemplo, a cana em pé, se você queima uma cana que estava próxima a 11, 12 meses para ser colhida, você perde em torno de 25%, 30% de receita direto, só por causa da perda da biomassa”, explica o porta-voz.
De acordo com o executivo, incêndios continuam ocorrendo no Centro-Sul. “Infelizmente continua acontecendo, né, no estado de Minas Gerais [teve ocorrências] ao menos até o dia 20 de Setembro soma cerca de 60 mil hectares e o prejuízo de 400 milhões de reais aos produtores, Goiás 43 mil hectares, Mato Grosso 19 mil, Mato Grosso do Sul, 28 mil. Enfim, foram impactos muito relevantes e que obviamente a gente vem tratando e vem buscando soluções para que os produtores consigam se reerguer”, conclui.
Responsabilização pelos incêndios
De acordo com o promotor de justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo, Flávio Okamoto, 16 pessoas foram presas em flagrante como responsáveis pelos incêndios até o fim de setembro.
Okamoto não revelou nenhum proprietário e/ou produtor diretamente associado aos crimes. Entre os mencionados, o promotor revelou uma pessoa com problemas de dependência química, outro se dizendo associado a uma facção criminosa – afirmação desacreditada por Okamoto – e uma pessoa com desequilíbrio emocional.
“O produtor, no caso, está sendo a maior vítima, disso porque, mesmo ele não tendo culpa, vai ter que repor a área de reserva legal, a área de preservação permanente que ele perdeu”, disse o promotor. Segundo ele, o Ministério Público terá “parcimônia e vai tentar, da melhor maneira possível”, não punir o produtor duplamente.
São Paulo Sem Fogo
A especialista ambiental da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Carolina Matos, ressalta que o momento ainda exige atenção e que a Operação SP Sem Fogo só deve sair do status vermelho para verde próximo a dezembro.
Matos também cita outros prejuízos como a floresta queimada e morte de brigadistas e de animais. “Nós temos consequências no curto prazo como a destruição das florestas e das culturas agrícolas, isso ocorre imediatamente quando o fogo passa. Tem também acidentes e mortes, infelizmente perdemos a vida de alguns brigadistas. Há também pessoas que, no desespero de salvar sua propriedade, eventualmente acabaram se ferindo. Sem contar no registro de mortes de animais de criação “, comenta.
A especialista da Cati também cita, a médio/longo prazo, problemas no fornecimento de determinados alimentos. “Um exemplo que nós estamos acompanhando é em relação à cadeia da apicultura e da meliponicultora, [porque] vai faltar o pasto apícola e afastar as abelhas. Problemas na bovinocultura também, pastagens queimadas aí tem que introduzir uma alimentação distinta para os bovinos, sem contar na perda da fonte de alimentação de animais pela fauna nativa”, explica.
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