Economia
Clima, dívidas e guerra comercial pesam sobre soja; veja o que dizem os analistas
Possível acordo China-EUA pode trazer “dor de barriga” para o Brasil e queda nos preços da soja

Daumildo Júnior | Brasília | daumildo.junior@estadao.com
17/10/2025 - 05:00

Especialistas analisam que um acordo entre Estados Unidos e China para pôr fim à guerra comercial entre os países pode ter um impacto negativo para a soja do Brasil no curto prazo. Por outro lado, o momento atual tem favorecido os produtores brasileiros que observam a disputa de Pequim e Washington e a valorização dos prêmios de exportação nos portos.
“No curto prazo, tem favorecido muito o nosso mercado, principalmente, em relação aos prêmios. O que a gente tem visto são recordes de exportação. Caso eles [EUA e China] tenham uma reaproximação, e aí vai depender do volume que eles vão colocar nesse compromisso de comercialização entre eles, vai trazer sim uma dor de barriga [para o Brasil] até que as abóboras se ajeitem na carroça, até que se consiga entender qual é o impacto. Pelo menos no curto prazo, vai trazer um reflexo nos preços aqui no Brasil caso isso aconteça”, comentou a jornalistas o superintendente do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (IMEA), Cleiton Gauer.
Visão compartilhada pelo pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq), Mauro Osaki. Ele alerta que esse acordo pode trazer uma imposição de cota de compra de soja norte-americana pelos chineses. “Isso pode ser desfavorável para nós”, acrescentou. Porém, ponderou que não significa que o mercado da China estará inviabilizado.
“O volume que os Estados Unidos tem para atender ao mercado chinês não é suficiente. Então, vai sobrar esse mercado para nós e Argentina”, disse. Além disso, indicou que o Brasil deve estar preparado, já no fim a disputa será pelo menor preço. “Aquele que for mais competitivo vai conseguir manter esse mercado. A lição de casa para nós é ter uma eficiência logística e tributária para não perder esse mercado”, completou.
Os sojicultores norte-americanos enviaram um pedido para que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, feche um acordo comercial com a China. A colheita por lá segue em andamento e o país asiático ainda não comprou a oleaginosa dos americanos.
Problemas internos
Os especialistas participaram da apresentação da expectativa para a safra 2025/2026 para milho e soja organizada pela Associação Brasileira dos Produtores de Milho e Sorgo (Abramilho) e Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) nesta quinta-feira, 16. O cenário para a atual temporada é uma rentabilidade menor, com margens apertadas e a decisão por investimentos ficando para depois.
Segundo o diretor executivo da Aprosoja Brasil, Fabrício Rosa, o atual momento interno do produtor brasileiro é um resultado das últimas três safras. Além disso, somam-se a isso questões climáticas e endividamento do produtor.
“O cenário que nós trouxemos nos últimos anos avisam para essa conjuntura que nós vivemos hoje. Era uma conjuntura que, num primeiro momento, trazia preços elevados [das commodities] e com custos acompanhando esse aumento. Num segundo momento, houve uma queda de preço e os custos de produção não acompanharam a queda, apertando bastante a margem dos produtores”, destacou.
Rosa ainda enfatizou a situação dos chamados ativos problemáticos. Basicamente, são créditos atrasados em mais de 90 dias e que são referentes a renegociações feitas anteriormente. Ele atribui o problema da inadimplência a esse histórico.
“Hoje, 33% da carteira de crédito rural do Rio Grande do Sul tem atraso de mais de 90 dias de operações que já foram renegociadas. No Rio Grande do Sul, a situação é insustentável. Outros Estados como Mato Grosso do Sul e Maranhão, com 20% da carteira numa situação semelhante e o resto do país numa gradação entre 10% e 15% da carteira. O normal é 4% de ativos problemáticos”, comentou.

Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Economia
1
Banco do Brasil inicia renegociações de dívidas na próxima semana
2
Soja: Argentina zera impostos e ameaça exportações do Brasil para a China
3
Safra 2025/2026 deve bater novo recorde com 353,8 milhões de toneladas
4
Importações de milho pela China caem 90,5% em agosto
5
Margem da indústria de carnes segue pressionada por tarifa dos EUA
6
Governo confirma municípios habilitados para renegociação de dívidas rurais

PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas

Economia
Setor de café pede urgência em negociação das tarifas com os EUA
Exportadores relatam cancelamentos, postergação de contratos e temem perder o consumidor dos EUA com mudança no padrão do blend do café

Economia
Brasil e EUA encerram reunião; Abiec acredita que carne bovina foi prioridade
Setor aposta em dependência da carne bovina brasileira diante do menor rebanho dos últimos 75 nos EUA

Economia
Soja do Brasil será afetada brutalmente por acordo entre EUA e China
Para conselheiro de uma das principais empresas processadoras de soja do Brasil, acordo entre as duas potências é inevitável

Economia
Produtores dos EUA pressionam Trump por acordo com a China
Associação Americana da Soja cobra fim do impasse comercial com Pequim e decisão da EPA sobre metas de biocombustíveis para 2026 e 2027
Economia
Comitiva busca abrir novos caminhos para o Agro brasileiro na Índia
Grupo liderado por Geraldo Alckmin vai levar pautas do setor, com o objeto de ampliar as exportações para o país asiático
Economia
Inpasa e Amaggi encerram parceria por etanol de milho
Empresas desistem de joint venture em Mato Grosso após divergências sobre estrutura e governança
Economia
Trump acusa China de 'hostilidade econômica' ao não comprar soja dos EUA
Presidente americano disse que pode encerrar, como retaliação, as relações comerciais com os chineses para compra de óleo de cozinha
Economia
Manga, uva e pescado: como estão esses setores dois meses após o tarifaço?
Abipesca diz que as empresas exportadoras seguem sem mercado e sem crédito, apesar da ajuda anunciada pelo governo