Comissão de Agricultura da Câmara quer convocar o ministro das Relações Exteriores para esclarecer as ações do Itamaraty sobre o tema
O Carrefour Brasil informou, por nota, ser “improcedente a alegação de que hoje há desabastecimento” nas lojas do grupo. O posicionamento do supermercado ocorre após grandes frigoríficos suspenderem as vendas de carnes à rede no Brasil. O movimento do setor de proteína animal é uma resposta à declaração de Alexandre Bompard, CEO global da rede, de que não comercializaria mais carnes de países do Mercosul.
Apesar de descartar o desabastecimento, a nota destaca ainda que, “infelizmente, a decisão pela suspensão do fornecimento de carne impacta nossos clientes”. A rede de supermercados afirma estar “em diálogo constante na busca de soluções que viabilizem a retomada do abastecimento de carne nas nossas lojas o mais rápido possível.”
Conforme mostrou o Agro Estadão, a Minerva, líder na exportação de carne bovina na América do Sul, suspendeu as vendas ao Carrefour Brasil. O movimento conta ainda com JBS e Marfrig, no entanto, as companhias não estão comentando o assunto.
Segundo o Estadão, somente a Friboi, marca de carnes bovinas da JBS, responde por 80% do volume fornecido ao grupo de origem francesa, sendo que na rede Atacadão o fornecimento da marca é de 100%. Segundo fontes ligadas à indústria, a interrupção atinge mais de 150 lojas do Carrefour no Brasil.
A Comissão de Agricultura e Pecuária da Câmara dos Deputados trabalha na aprovação de um requerimento de convocação do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. O objetivo é que o embaixador exponha as ações do Itamaraty a respeito do boicote de carnes ao Carrefour e fale sobre o acordo entre o Mercosul e a União Europeia, o qual a França já adiantou que não irá assinar. A declaração foi confirmada ao Agro Estadão pelo presidente da Comissão, o deputado federal Evair de Melo (PP-ES). Os parlamentares também estão elaborando uma nota de repúdio à decisão do Carrefour de não comercializar carnes de países do Mercosul, o que inclui o Brasil.
No sábado, 23, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) também manifestou apoio, por meio de carta aberta, às entidades do setor agropecuário brasileiro. No documento, os parlamentares afirmam que “se uma carne brasileira não serve para abastecer o Carrefour na França, é difícil entender como ela poderia ser considerada adequada para abastecer qualquer outro mercado”.
Ao Agro Estadão, o presidente da FPA, deputado Pedro Lupion (PP-PR), reforçou a decisão da senadora Tereza Cristina de pedir ao Senado a convocação do embaixador francês, Emmanuel Lenain, e do CEO do Carrefour no Brasil, Stéphane Maquaire, para prestarem esclarecimentos. Segundo ele, nesta terça-feira, 26, haverá reunião da diretoria da FPA, quando poderão surgir novidades sobre os próximos passos.
Durante o discurso de abertura do CNC Global Voices — evento promovido pela Confederação Nacional do Comércio, nesta segunda-feira, 25, em São Paulo — o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, quebrou o protocolo para declarar seu incômodo com o protecionismo europeu, principalmente da França com o Brasil.
“Não é possível que o CEO de um grupo importante, como o Carrefour, não se retrate de uma declaração sobre não contratar as proteínas animais advindas da América do Sul. O Brasil, o Congresso Nacional, os empresários e a população têm que dar uma resposta clara para que esse protecionismo exagerado dos produtores da França não seja motivo de injusto protecionismo contra os interesses de quem se protege debaixo da lei mais rígida do sentido ambiental mundial, que é o nosso Código Florestal”, declarou Arthur Lira. O presidente da Câmara afirmou que o PL 1406/24 sobre “reciprocidade econômica”, em discussão no Congresso Nacional, deve ser analisado pela Casa ainda nesta semana.
“Não apenas infundada, mas também desprovida de coerência com os princípios do livre mercado, da sustentabilidade e da cooperação internacional”, afirma a carta aberta assinada por 44 entidades representativas da cadeia produtiva brasileira.
Para as entidades, “tal posicionamento, além de desvalorizar a qualidade e a sustentabilidade das carnes produzidas nos países do Mercosul, prejudica o diálogo e a parceria necessária para enfrentar desafios globais como a segurança alimentar.”
A carta segue destacando a posição brasileira na produção e exportação de proteínas animais. E ressalta: “nossa produção é amplamente reconhecida pela excelência, sendo abastecida por rigorosos controles sanitários e padrões de qualidade que atendem a mais de 160 países.”
Além disso, o documento enfatiza que a pecuária brasileira aumentou sua produtividade em 172%, enquanto reduziu a área de pastagem em 16%. “As áreas dedicadas à preservação da vegetação nativa pelo agro brasileiro somam 282,8 milhões de hectares, representando 33,2% do território do Brasil. Para se ter uma ideia, essa área equivale a um pouco mais de quatro vezes o território da França ou quase oito vezes o território da Alemanha”, diz a carta.
Por fim, o grupo afirma considerar “que empresas globais como o Carrefour, que operam amplamente no Brasil e dependem de sua produção para abastecer mercados de todo o mundo, devem atuar com base em princípios de cooperação, transparência e respeito ao livre mercado.”
Assinam o documento:
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