Um conjunto de ações em andamento deve contribuir para que diferentes setores da agropecuária brasileira sejam beneficiados com inovações neste e nos próximos anos
Para arroz de terras altas (sequeiro) a Embrapa vai lançar durante a Tecnoshow Comigo, que acontece em Rio Verde (GO) em fevereiro, a variedade de arroz de terras altas BRS A503. O material traz uma série de novas características associadas ao tamanho do grão (mais alongado) e qualidade agronômica, apresentando baixa incidência de gessamento, um problema tecnológico inerente ao arroz que torna o grão de coloração opaca, semelhante ao gesso, reduzindo sua qualidade comercial.
Na produção de frutas exóticas, pesquisadores da Embrapa identificaram genes no cupuaçu, uma fruta apreciada na elaboração de sorvetes e sobremesas, que ajudarão a planta a vencer uma doença que foi a grande responsável pela derrocada da produção de cacau na década de 90: a vassoura de bruxa. Causada por um fungo chamado Moniliophthora perniciosa, a doença provoca uma série de alterações na planta, como o apodrecimento dos frutos e o ressecamento dos galhos, que ficam com aspecto de uma vassoura. Daí o nome vassoura de bruxa. Os estudos permitirão um melhor entendimento da dinâmica entre a planta e o patógeno, o que possibilitará o manejo sustentável da doença, dando mais competitividade à cadeia produtiva do cupuaçu.
Na área de bioinsumos, onde o Brasil é um dos líderes mundiais, pesquisas avançam na adoção da tecnologia de edição gênica para melhorar microrganismos usados no controle biológico. Com o emprego de “tesouras biotecnológicas” (estratégia cientificamente conhecida como Crispr) fungos são modificados para atuarem de forma mais efetiva no controle de outros microrganismos ou insetos que atacam plantas. Os primeiros resultados foram obtidos em 2024 quando fungos do gênero Trichoderma foram editados e produziram três vezes mais melanina, melhorando sua performance no controle biológico em condições de alta luminosidade.
As pesquisas nas cadeias de produção de proteína animal também avançam em várias frentes. Pesquisadores da Embrapa e da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, atuando em pecuária de precisão, desenvolveram um dispositivo corporal para medir a temperatura de animais. A medição é feita por meio de um sensor colocado no canal auditivo. A temperatura corporal foi escolhida pois permite acompanhar uma série de processos como infecções e inflamações, além da ocorrência de cio e estresses variados no animal. O sensor foi patenteado e a ideia agora é buscar parceiros que tenham interesse em explorar comercialmente a tecnologia.
Ainda na cadeia de bovinos, pesquisadores de mais de 20 instituições estão empregando diferentes ferramentas para identificar a “impressão digital” da carne bovina produzida no Sul do Brasil. Com o uso de metabolômica, ciência que permite conhecer a fundo o metabolismo dos animais, é possível relacionar características da carne ao manejo e ambiente de produção e aos eventuais efeitos na saúde humana. A pesquisa lança mão também de ferramentas digitais, mais precisamente a inteligência computacional, isto é, a aplicação de algoritmos genéticos e redes neurais artificiais. Em tempos de DeepSeek, é importante diferenciar este tipo de inteligência da inteligência artificial (IA), que estuda modelos que têm como base o raciocínio humano. O estudo poderá ser replicado para outras regiões do país e ajudará na diminuição da desinformação sobre a composição da carne e seus impactos na saúde do consumidor.
A ciência agropecuária demonstra que tem capacidade de desenvolver soluções para distintas cadeias produtivas e que a convergência de diferentes áreas do conhecimento como agronomia, computação, biotecnologia e eletrônica pode dar origem a soluções que reduzem os custos e tornam a produção mais sustentável. Para que possa seguir trazendo tais contribuições é importante que existam recursos para seu financiamento. Pesquisas que visam a solução de problemas reais do agro brasileiro devem ser priorizadas. A falta de recursos é um problema antigo que insiste em se fazer presente. O Estado brasileiro e o setor produtivo podem e devem se unir para buscar formas criativas de financiamento. Que essas alternativas não passem nem perto do aumento de carga tributária.