Senadora afirma, ainda, que juros de 18% tornam inviável investimentos na agricultura
A senadora Tereza Cristina (PP-MS) afirmou nesta terça-feira que há um novo ambiente político entre Europa e Brasil, mais favorável ao avanço do acordo entre o Mercosul e a União Europeia (UE). “Vejo um clima totalmente diferente, um distensionamento”, declarou. Segundo ela, os países europeus “veem o Brasil com outros olhos” atualmente.
Apesar do tom otimista, a ex-ministra da Agricultura também defendeu a aplicação da chamada lei da reciprocidade, que prevê medidas comerciais contra países que adotem barreiras ao Brasil. “Com certeza, de forma pragmática e responsável”, disse, durante evento promovido pelo Sistema CNA/Senar, em parceria com o Estadão e a Broadcast, em São Paulo.
Tereza Cristina ponderou, no entanto, que o cenário global exige cautela. “Toda essa mudança, toda essa transformação na área do comércio internacional exige muita cautela. Principalmente no Brasil”, afirmou, destacando o peso do agronegócio brasileiro nas exportações globais.
A lei da reciprocidade voltou ao centro dos debates após a aprovação, pela União Europeia, da EUDR, a legislação antidesmatamento do bloco. Para a senadora, a norma europeia foi “construída para atingir o Brasil” e pode ter impactos significativos sobre as vendas externas do país. “A Lei da Reciprocidade precisa proteger o Brasil de qualquer situação”, reforçou.
Ela ressaltou, ainda, que o texto brasileiro foi elaborado com base em princípios amplos, sem direcionamento a países ou blocos específicos, e pode ser ajustado. “Ela foi feita com responsabilidade. Foi construída em uma Câmara onde já se começaram os debates. Já temos elementos — jurisprudência, experiências — para criar determinados momentos de reação”, afirmou.
A aplicação prática da medida, contudo, dependerá do “juízo do presidente”, disse, em comentário em referência ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
A ex-ministra da Agricultura criticou, ainda, a falta de acesso ao crédito pelo produtor e a suposta ausência de prioridade dada ao agronegócio pelo governo federal.
“A agricultura brasileira precisa de crédito. E ela precisa de um crédito que caiba no seu bolso. Juros de 15%, 18% são impagáveis para a agricultura”, disse. “Com juros tão altos, o agricultor não consegue se planejar, continuar investindo. Ele mal consegue fazer o custeio da sua lavoura nesses juros. E, assim mesmo, muitos vão ter problemas.”
Para ela, o próximo Plano Safra precisa ser mais robusto, e os recursos do Tesouro têm sido insuficientes para atender demandas urgentes. “Hoje, o dinheiro do Tesouro só financia um terço da produção agropecuária”, apontou. Segundo a senadora, “há anos tentamos alavancar o seguro rural, mas o governo quer o produtor com o pires na mão”.