Tarifa de 25% sobre aço e alumínio estão em vigor; governo brasileiro seguirá em negociação com os EUA
A taxa norte-americana de 25% sobre o aço e o alumínio do Brasil e de outros países, independentemente da origem, entrou em vigor nesta quarta-feira, 12.
A União Europeia, atingida pela medida, afirmou que a partir de 1º de abril irá aplicar taxas sobre 26 bilhões de euros em produtos dos Estados Unidos.
No caso do Brasil, neste primeiro momento não deve haver retaliação. Segundo o ministro Fernando Haddad, por orientação do presidente Lula, o Brasil seguirá na mesa de negociação com os EUA. Haddad falou com a imprensa após reunião, na manhã desta quarta-feira, com representantes do Instituto Aço Brasil.
Na última semana, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, teve uma reunião com o secretário de Comércio norte-americano, Howard Lutnick, para tratar das taxas e sobretaxas dos EUA. Outro encontro deve ocorrer nos próximos dias, mas ainda sem data definida.
Somente no ano passado, a indústria do Brasil respondeu por cerca de 15% de todas as importações de aço feitas pelos EUA, representando 4,61 milhões de toneladas líquidas, segundo relatório da American Iron and Steel Institute.
Apesar do impacto ao setor, o presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Velloso, afirmou que a medida pode beneficiar a exportação de máquinas agrícolas brasileiras para os EUA, já que o mercado consumidor norte-americano será prejudicado pelo aumento dos preços.
“[Se aplicar] imposto de importação, o aço vai ficar mais caro nos EUA e isso vai prejudicar a indústria norte-americana de máquinas agrícolas e todos os setores que utilizam o aço como matéria-prima. Aqui no Brasil, não acontece nada”, avalia. Segundo Velloso, o Brasil exporta US$ 14 bilhões por ano em máquinas, sendo 26% desse total destinado aos EUA. “Esse volume de máquinas que vendemos para os EUA pode aumentar. Elas [máquinas] vão ficar mais competitivas porque nos EUA vão ficar mais caras”, afirma Velloso, ao Agro Estadão.
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) optou por não se pronunciar sobre o assunto no momento, informando à reportagem do Agro Estadão que se manifestará durante coletiva de imprensa prevista para esta semana.
Como mostrou a reportagem do Agro Estadão, a taxação das importações do aço e do alumínio também pode beneficiar o agronegócio brasileiro no mercado internacional. A decisão de Trump não mira diretamente o Brasil, mas os chineses, e repete a mesma estratégia econômica feita no primeiro mandato do presidente, quando os EUA impuseram uma taxa de 25% sobre as importações de aço e de 10% sobre as de alumínio. Na época, o governo chinês retaliou impondo tarifas sobre mais de 120 produtos norte-americanos, muitos deles agropecuários, como frutas, suínos e soja.
Na reportagem, o ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil e também colunista do Agro Estadão, Welber Barral, avaliou que o agronegócio brasileiro pode se beneficiar com o aumento da demanda da China. “Isso aconteceu no outro governo Trump. A China começou a comprar mais soja e carnes do Brasil. Então acabou beneficiando o Brasil naquela outra vez. Teoricamente, poderia acontecer de novo”, disse à reportagem.
O professor de economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Joelson Sampaio, avalia que algumas empresas brasileiras do setor do aço tendem a sofrer mais com a taxação norte-americana. “Empresas como a ArcelorMittal, que tem uma exportação bastante significativa para os EUA, tenderão a sofrer mais. Empresas como a Cemig, que exporta mais para a América Latina e outros países, tendem a sofrer menos”, destacou em entrevista ao Agro Estadão.
Em nota, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, lamentou a decisão do governo norte-americano. “Vamos atuar em busca do diálogo para mostrar que há caminhos para que seja revertida. Temos todo o interesse em manter a melhor relação comercial com os EUA, que hoje são o principal destino dos produtos manufaturados do Brasil, mas precisamos conciliar os interesses dos setores produtivos dos dois países”, ressalta.
Durante um discurso no Congresso norte-americano na semana passada, Donald Trump anunciou que, a partir de 2 de abril, irá implementar a política de tarifas recíprocas sobre países que cobram altas taxas dos EUA. Na ocasião, o republicano citou novamente o Brasil.
Conforme memorando assinado em fevereiro, Trump ordenou que sua equipe avaliasse a taxação brasileira sobre o etanol norte-americano. A medida, segundo o documento, visa corrigir desequilíbrios históricos no comércio internacional, uma vez que a tarifa de importação do etanol brasileiro é de 18%, enquanto o etanol exportado pelos EUA para o Brasil enfrenta uma tarifa de apenas 2,5%.
Caso não haja acordo entre o governo brasileiro e os Estados Unidos, a partir de 2 de abril, entrará em vigor a tarifa de 18% sobre as exportações de etanol norte-americano para o Brasil. Ao Agro Estadão, o ex-embaixador do Brasil em Washington e Londres, Rubens Barbosa, disse que, com essa medida, os países irão reorganizar suas exportações, uma vez que os EUA e a China são os principais mercados globais.
“No caso americano, eles vão ficar fechados ou vão diminuir muito espaço para a exportação do resto do mundo. Porque o objetivo principal do Trump é, primeiro, reduzir o déficit comercial. Depois, as políticas industriais para criar investimentos nos EUA, com transferência de fábricas do México, do Canadá e de outros países para os EUA. Então, dependendo do tempo que essa política for mantida, vai criar um constrangimento para o sistema de comércio internacional, afetando todos os países”, detalha.
A política tarifária dos Estados Unidos (EUA) foi o tema central da reunião entre o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, e o secretário de Comércio norte-americano, Howard Lutnick, na última quinta-feira, 06.
Em comunicado, o MDIC apontou que ambas as partes concordaram em manter, nos próximos dias, reuniões bilaterais para tratar das tarifas de importação sobre aço do Brasil e a aplicação de reciprocidade sobre o etanol.