União transferiu recursos ao BNDES, mas operações ainda não constam no Sistema de Operações do Crédito Rural e do Proagro (Sicor)
A União transferiu R$ 12 bilhões ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para operar a linha de crédito destinada à renegociação de dívidas rurais, autorizada pela Medida Provisória 1.314/2025. A formalização foi publicada nesta quarta-feira, 15, em despacho do Ministério da Fazenda no Diário Oficial da União.
Apesar da transferência, a linha de crédito ainda não está disponível. Agricultores que buscaram atendimento em bancos relataram impossibilidade de registrar propostas, mesmo com a abertura do protocolo do programa BNDES Liquidação de Dívidas Rurais (criado para operacionalizar a MP) prevista para esta quarta.
Segundo apuração do Agro Estadão, a informação dada aos produtores rurais é que a linha não consta no Sistema de Operações do Crédito Rural e do Proagro — o Sicor — plataforma de registro de operações usada pelas instituições financeiras e administrada pelo Banco Central (BCB). Uma reunião entre representantes do Banco Central e instituições financeiras estaria prevista para sexta-feira, 17, para alinhar os procedimentos e liberar as propostas. A reportagem solicitou a confirmação ao BCB, mas ainda não teve resposta.
De acordo com Grazi Camargo, coordenadora do movimento SOS Agro RS, os bancos informaram que a coleta de propostas só deve começar a partir da próxima semana, provavelmente após o dia 20. “A linha da MP dos R$ 12 bilhões não começou a ser contratada. Nenhum produtor consegue acessá-la. Nos bancos, a resposta é sempre a mesma: o sistema não está disponível”, afirmou.
O anúncio da Medida Provisória ocorreu há 40 dias, durante a Expointer. “Os produtores estão indignados. O plantio da soja e do arroz já começou no Rio Grande do Sul, e ninguém consegue resolver o passivo das dívidas que vêm das enchentes e das perdas da seca. Estamos 20 dias atrasados e isso certamente vai impactar na produção”, disse.
Como resultado de cinco anos consecutivos de eventos climáticos extremos, o movimento estima que cerca de 30% dos produtores gaúchos deixem de plantar da soja neste ciclo, por falta de condições financeiras.
“A sensação é de abandono total. O produtor não tem como se recompor sem recurso. O governo demora, e o plantio atrasa. Parece que esquecem que o agronegócio não é só o grande exportador, mas também o agricultor que planta feijão, cebola, hortaliça. Todos fazem parte da mesma cadeia”, afirmou.
O atraso na implementação da linha ocorre em um momento de forte pressão psicológica sobre o produtor rural gaúcho. “O desespero é grande. Há produtores endividados, sem acesso a crédito e sem perspectiva. Nosso esforço agora é evitar que mais pessoas percam a esperança”, afirmou Grazi.
*Com informações do Broadcast Agro