Plano Safra aporta aproximadamente 40% do recursos anuais necessários, mas tem sido única fonte de recurso
Um estudo projetou que a agropecuária brasileira precisaria de um montante entre US$ 120 bilhões e US$ 170 bilhões de investimentos até 2050 para ser net zero, ou seja, emitir a mesma quantidade de gases do efeito estufa que remove da atmosfera. Ainda conforme o levantamento, o volume de recursos viria não só de linhas recorrentes do Plano Safra mas também de fontes não recorrentes, como investimentos verdes estrangeiros.
Os cálculos foram apresentados ao presidente da Conferência sobre o Clima (COP 30), André Corrêa do Lago, nesta quinta-feira, 09, em Brasília (DF). O estudo foi feito pela Coalização de Agricultura para Descarbonização que reúne 43 entidades e empresas do setor agropecuário.
Mantendo-se os investimentos como estão atualmente, há uma defasagem anual de US$ 4 bilhões anuais para fazer a transformação dos sistemas produtivos. Além disso, o estudo também mostra que o Plano Safra é a única de fonte de recursos capaz de iniciar os projetos e com maior flexibilidade de condições. Porém, os cerca de US$ 2,7 bilhões anuais em linhas subsidiadas, com essa finalidade, não são suficientes.
“Esse investimento é muito mais para fazer o produtor aderir a técnicas e tecnologias em curto prazo, porque depois, com o aumento da saúde do solo, ele tem manutenção de produtividade e aumento de produtividade. Então, você trabalha isso nesse investimento em termos de curto prazo para dar mais rapidez no processo de transformação, porque depois a produtividade e produção se mantêm pelo próprio produtor”, ressaltou ao Agro Estadão a diretora de ESG, Comunicação e Compliance da Amaggi e representante da Coalizão de Agricultura, Juliana Lopes.
Além dos recursos para fazer essa transição, o estudo também elencou 15 atividades e ações que fariam o Brasil chegar na descarbonização completa do setor. O número total de emissões de gases do efeito estufa do setor é estimado em 480 milhões de toneladas de carbono equivalente em 2023, conforme o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG). Além disso, esse volume de emissões não considera a mudança do uso da terra por desmatamento, já que se entende que isso não está no controle do setor, mas sim dos órgãos de fiscalização e dos governos.
De acordo com o estudo, apenas cinco dessas iniciativas já seriam suficientes para reduzir essas emissões em aproximadamente 80%. “São as 5 alavancas que permitem a gente ter uma maior redução das emissões em menor prazo”, destacou Lopes. Essas alavancas são:
A entrega desses estudos foi um dos pedidos feitos pelo presidente da COP 30 ao setor empresarial. Por isso, a criação da Coalização de Agricultura foi coordenada pela enviada especial do setor empresarial para COP 30 e presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Marina Grossi. Um dos motivos para isso era buscar dados e informações que comprovassem que o Brasil é uma oportunidade de negócios relacionados às mudanças climáticas.
O Brasil e o Azerbaijão, sedes das COP 29 e 30, ficaram responsáveis por apresentar uma espécie de roteiro para que os financiamentos em transição e adaptação climática cheguem a US$ 1,3 trilhão por ano a partir de 2025. Segundo André Côrrea do Lago, ainda há um desafio sobre isso, uma vez que os investimentos privados tem se concentrado em países já desenvolvidos e os investimentos públicos são escassos ou inexistentes em países em desenvolvimento.
“Ainda há um desequilíbrio muito grande nessa parte financeira e, por outro lado, não tem tido recursos públicos suficientes para estimular essa mudança. Nós estamos botando os números como eles são, ou seja, é claro que precisa de mais recursos públicos, mas também é claro que precisa de muito mais recursos privados porque as proporções são complexas, porque dependendo do país em desenvolvimento, alguns dependem muito mais de um do que do outro”, afirmou Lago à jornalistas, após receber o estudo da Coalizão.