Compromisso de Belém integra estratégia brasileira para descarbonizar setores intensivos como a aviação e transporte marítimo
O Brasil lançou nesta terça-feira, 14, em Brasília, durante o segundo e último dia da Pré-COP, o Compromisso de Belém pelos Combustíveis Sustentáveis — também chamado “Belém 4x” —, que prevê quadruplicar a produção e o uso de combustíveis sustentáveis até 2035. A meta, segundo o governo, reforça o papel do país na liderança da transição energética global e mira setores de “difícil descarbonização”, como aviação, transporte marítimo, indústria do aço e do cimento.
“Essa iniciativa busca o apoio do maior número possível de países para emitir um sinal político, inclusive, para os agentes econômicos. Muitas dessas tecnologias são tecnicamente viáveis, mas não são produzidas em escala suficiente”, afirmou João Marcos Paes Leme, diretor do Departamento de Energia do Ministério das Relações Exteriores, durante o evento.
O compromisso foi anunciado junto com o novo relatório da Agência Internacional de Energia Renovável (Irena), apresentado à Aliança Global de Renováveis (GRA) e à Presidência da COP 30. O documento mostra que, embora o mundo tenha adicionado 582 gigawatts (GW) de capacidade renovável em 2024 — um crescimento recorde de 15,1% —, o ritmo ainda é insuficiente para triplicar as fontes até 2030, meta estabelecida na COP 28.
Segundo o documento, seria necessário acrescentar 1.122 GW por ano até o fim da década para alcançar o objetivo global. A eficiência energética, por sua vez, cresceu apenas 1% em 2024, bem distante do avanço de 4% ao ano exigido para dobrar o índice até 2030.
“Esse relatório mostra que estamos avançando mais rápido em renováveis do que imaginávamos, mas precisamos fazer um esforço, especialmente, para dobrar a eficiência energética”, disse o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP 30.
As economias do G20, a qual o Brasil faz parte, devem liderar o avanço na transição energética, representando mais de 80% das energias renováveis do mundo até 2030. Já as economias mais desenvolvidas, do G7, precisam aumentar a capacidade para cerca de 20% da capacidade mundial nesta década.
Para isso, de acordo com Ben Backwell, presidente da Aliança Global de Renováveis, é necessário incrementar também o financiamento, em especial, dos países em desenvolvimento. “É muito importante que o setor privado trabalhe junto com os governos, com o presidente da COP, para ver como a gente implementa essa aceleração de renováveis que o mundo concluiu em Dubai. O relatório mostra que 90% dos projetos renováveis são mais baratos e competitivos que projetos de energia fóssil”, destacou.
O documento também aponta que Ásia, Europa e América do Norte concentram 85% da capacidade instalada de energia renovável, enquanto América Latina e África representam menos de 10%. Para equilibrar o cenário, a Irena recomenda ampliar o financiamento climático internacional e investir em infraestrutura e tecnologias acessíveis nos países em desenvolvimento.
Japão, Itália e Índia já manifestaram apoio à iniciativa brasileira, e novos países devem aderir durante a Cúpula de Líderes da COP 30, marcada para 6 e 7 de novembro, em Belém (PA).