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Projeto do Instituto Biológico identifica vírus em aves em 10 minutos

Método utilizado para o diagnóstico foi premiado em dois congressos e permite adotar medidas imediatas de controle

Um projeto do Instituto Biológico (IB-Apta), vinculado à Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (SAA) de São Paulo, identifica doenças virais em aves em apenas dez minutos e tem permitido aprimorar a prevenção e o controle de infecções nos criatórios, seja de espécies silvestres ou comerciais. Devido aos avanços conseguidos com o método da contrastação negativa para microscopia eletrônica de transmissão (MET), o trabalho recebeu prêmios em dois recentes congressos científicos. 

A pesquisadora Marcia Helena Braga Catroxo, do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Sanidade Animal do IB-Apta, coordenadora do projeto, conta que o Laboratório de Microscopia Eletrônica (LME) do instituto é o único do Brasil que faz diagnósticos por MET em amostras animais, como cães, bovinos, suínos, aquáticos e aves. 

No caso das aves, ela explica serem várias as doenças virais que podem se disseminar com facilidade, provocar alta mortalidade e, consequentemente, prejuízos aos criadouros e à biodiversidade na natureza. Entre elas, estão as causadas pelos herpesvírus, que se manifestam por meio de problemas neurológicos, de visão, de pele, perda de peso, entre outros sintomas, levando a óbito geralmente.  

Durante o II Congresso Veterinário de Especialidades e o III Congresso Brasileiro de Doenças Infecciosas e Parasitárias (Coninfector), o estudante de Biologia e bolsista de iniciação científica Arthur de Oliveira Filtrin apresentou os resultados de duas pesquisas desenvolvidas no projeto com herpesvírus em psitacídeos, e obteve reconhecimento pela relevância em sanidade animal. 

Arthur Filtrin com certificado de um dos congressos. Foto: IB-Apta/Divulgação

No primeiro evento, Filtrin demonstrou estudos feitos com 14 amostras de espécies ameaçadas de extinção, como cacatua-das-moluscas, papagaio-de-cara-roxa, marianinha-de-cabeça-amarela, jandaia-amarela e ararinha-azul — esta última já considerada extinta em vida livre. Foi a primeira vez que a presença de herpesvírus foi relatada nessas espécies. Já no segundo evento, foram expostas 29 análises feitas em exemplares de papagaio-verdadeiro, calopsita, arara-canindé, maracanã-guaçu, entre outros. 

“Os psitacídeos integram uma família de aves muito procuradas pelo comércio ilegal, devido à beleza e ao colorido de suas penas, e possuem o maior número de espécies registradas como ameaçadas de extinção. Os principais fatores que levam ao desaparecimento de muitas delas são a destruição do habitat, tráfico ilegal e as doenças infecciosas virais”, afirma Márcia Catroxo. 

Ela explica que a técnica usada nos diagnósticos é sofisticada e exige um tempo total de apenas 20 minutos, sendo dez para a preparação da amostra. O equipamento, com tecnologia avançada, que permite um aumento na visualização muito superior aos microscópios ópticos, identifica as partículas virais dentro de mais dez minutos. A rapidez e a precisão possibilitam, conforme a pesquisadora, proteger as espécies ameaçadas, diminuir a mortalidade e as chances de contágio para aves comerciais.  

O projeto é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Depois do reconhecimento obtido nos congressos, a Fundação enviou um novo microscópio eletrônico para o instituto, que deverá entrar em funcionamento em um mês, aumentando a abrangência dos diagnósticos. 

Márcia explica que o método permite medidas de prevenção e controle de forma imediata, principalmente porque o herpesvírus pode não se manifestar logo, mas ficar incubado nas aves e só aparecer em situações de estresse ou outros momentos de queda de imunidade. Mesmo assim, continua sendo transmitido e, quando é percebido, pode ser tarde para intervir.  

Riscos às aves comerciais

Os herpesvírus compõem uma grande família que pode causar doenças em humanos e outros animais. No caso das cepas que acometem pássaros, a transmissão para humanos não existe, mas o vírus pode atingir outras aves silvestres e também aves de criações comerciais.   

Marcia explica que a transmissão ocorre pelo contato entre aves infectadas ou pelas fezes, restos de pele, penas e objetos contaminados. O contágio pode ser por ingestão ou por inalação. Por isso, é muito rápido. Tanto que se tornou uma das principais preocupações da avicultura em todo o mundo. 

Criações comerciais podem enfrentar mortalidade com presença de herpesvírus. Foto: Adobe Stock

Na literatura científica, conforme a pesquisadora, existem diversos estudos sobre interações entre aves silvestres e criações de galinhas, perus, patos, gansos, codornas, entre outros. As pesquisas demonstram que houve alta transmissibilidade. “Isso acontece porque aves silvestres podem se alimentar junto com as comerciais, levando o vírus para os plantéis”, diz Marcia. 

Para ela, o reconhecimento obtido por pesquisas advindas do projeto comprova a importância da atenção à sanidade animal e de promover inovação e excelência na área. “No caso específico do trabalho do Arthur, além de ser um incentivo para a carreira dele, é uma forma de, identificando a presença de herpesvírus nos psitacídeos, evitar problemas também na agropecuária”, conclui Marcia.