PUBLICIDADE

Sustentabilidade

Embrapa: tutor vivo reduz custo e aumenta qualidade da pimenta-do-reino

Instalação de plantio com gliricídia é mais econômica e gasta 50% menos água com irrigação, aponta estudo

Nome Colunistas

Daumildo Júnior | Brasília | daumildo.junior@estadao.com

15/04/2025 - 08:48

Foto: Ronaldo Rosa/Embrapa
Foto: Ronaldo Rosa/Embrapa

Moída ou em grãos, a pimenta-do-reino forma um trio em muitas panelas Brasil afora, com a cebola e o alho. Por trás dessa especiaria, o que nem todo mundo sabe é que ela vem de uma planta trepadeira, ou seja, depende de tutor, de um guia, para poder se fixar e crescer. O que pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) estudaram foi como a pimenteira se comporta tendo a gliricídia como um tutor vivo. 

A gliricídia é uma árvore leguminosa de origem na América Central e no México. A pesquisa foi desenvolvida pela Embrapa Amazônia Oriental no nordeste do Pará. O estado é o segundo maior produtor de pimenta-do-reino — cerca de 38 mil toneladas em 2023, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Alguns produtores de lá já utilizam essa técnica de cultivo desde 2004. No entanto, não havia estudos que demonstrassem as diferenças entre os cultivos com tutores tradicionais e a gliricídia como tutor vivo. 

O que os trabalhos demonstraram foi que as plantações de pimenta feitas com a leguminosa tiveram um desempenho melhor do que as que foram desenvolvidas com estacas de madeira — tutor tradicional. Os benefícios foram notados tanto nos custos como na qualidade da pimenta e com um efeito cascata na mitigação das emissões de gases do efeito estufa. 

Mais barato para implementar

pimenta do reino
Para implantar um hectare de pimenta no espaçamento de fileiras duplas (2,20m X 2,20m X 4,00m) foram necessárias 1.500 tutores. Foto: Ronaldo Rosa/Embrapa

Como explica o analista da Embrapa Amazônia Oriental, João Paulo Bolth, o custo de implementação de um hectare de pimenta-do-reino cai 46% se utilizar a gliricídia como tutor. Isso porque o custo das estacas de madeira é maior do que o da planta tutora. A madeira utilizada para essa finalidade vem geralmente de árvores que tem um preço alto, como o acapu, massaranduba e jarana.

“O elevado preço das estacas de madeiras praticados no estado do Pará foi o principal fator para a diferença nesse custo de implantação. O preço da estaca de madeira chega a R$ 25,00 enquanto o valor mais alto encontrado para o tutor vivo de gliricídia foi R$ 5,00 a unidade”, disse o especialista. Enquanto com tutores tradicionais o custo é acima de R$ 59 mil por hectare, com a gliricídia esse valor cai para R$ 32 mil.

PUBLICIDADE

Outra despesa que cai é a da irrigação. As folhas da gliricídia ajudam a diminuir a evapotranspiração da pimenta-do-reino. Além disso, a biomassa da planta tutora ajuda a reter mais água no solo. O resultado é uma diminuição pela metade da quantidade de água necessária em comparação à forma de cultivo com estacas de madeira — de oito litros diários por planta para quatro litros. Isso se reflete no custo de energia também, já que os sistemas de irrigação dependem, na maioria, de energia elétrica. 

“Em um cenário de mudanças climáticas com a redução de chuvas e ampliação dos períodos secos, essa diminuição na demanda hídrica sinaliza um ponto positivo de adaptação às mudanças do clima”, destacou o pesquisador da Embrapa, Oriel Lemos.

As podas da planta tutora ajudam na cobertura do solo e, com o tempo, se transformam em adubo orgânico. Além de que, por ser uma leguminosa, a gliricídia fixa nitrogênio no solo. Com isso, os pesquisadores também apontaram que houve uma redução de 30% no uso de fertilizantes químicos. 

Mais qualidade por grão

Entre os parâmetros para se avaliar a qualidade da pimenta-do-reino está a densidade, ou seja, o peso. Basicamente, quanto mais pesado o grão, mais o produto vale. Isso impacta, por exemplo, em classificar se a pimenta vai ou não para exportação. O que a pesquisa demonstrou foi que as pimentas produzidas no sistema de cultivo com tutor vivo têm melhores desempenhos. “Os grãos produzidos nesse sistema são frequentemente maiores e, portanto, com maior densidade”, pontuou o analista da Embrapa. 

Outro aspecto é o nível de piperina, uma substância bioativa predominante na pimenta-do-reino. Ela é a responsável pelo ardor da pimenta. Segundo a pesquisa, em média, o teor de piperina nas pimentas cultivadas com a gliricídia é 14% maior do que as pimentas cultivadas tradicionalmente. 

Menos carbono 

pimenta do reino
Topo dos cultivos com tutores vivos. Foto: Ronaldo Rosa/Embrapa

O sistema de cultivo de pimenta-do-reino com tutor vivo será uma das apresentações da Embrapa na Jornada do Clima, que acontece durante a 30º Edição da Conferência das Nações Unidas sobre o Clima — a COP 30, que ocorre em Belém (PA), entre 10 e 21 de novembro deste ano. 

A ideia é demonstrar que é possível produzir a especiaria adotando práticas mais sustentáveis. Além do sequestro de carbono, diminuindo a presença de gás do efeito estufa na atmosfera, o pesquisador Lemos também destaca outro benefício. “Uma das importantes contribuições desse sistema também é a conservação de recursos florestais, uma vez que o tutor vivo diminui a dependência de madeira comercial para as estacas e, consequentemente, a manutenção da biodiversidade local”, disse. 

Siga o Agro Estadão no WhatsApp, Instagram, Facebook, X, Telegram ou assine nossa Newsletter

PUBLICIDADE
Agro Estadão Newsletter
Agro Estadão Newsletter

Newsletter

Acorde bem informado
com as notícias do campo

Agro Clima
Agro Estadão Clima Agro Estadão Clima

Mapeamento completo das
condições do clima
para a sua região

Agro Estadão Clima
VER INDICADORES DO CLIMA

PUBLICIDADE

Notícias Relacionadas

Brasil pode ampliar em um terço sua área agricultável, aponta Embrapa

Sustentabilidade

Brasil pode ampliar em um terço sua área agricultável, aponta Embrapa

A expansão ocorreria sem desmatamento, aproveitando a conversão de pastagens degradadas e áreas subtilizadas

Hidroponia e aquaponia: qual a diferença entre os dois sistemas?

Sustentabilidade

Hidroponia e aquaponia: qual a diferença entre os dois sistemas?

Sistemas de cultivo sem solo oferecem soluções inovadoras para otimizar a produção, mas diferem em complexidade e sustentabilidade

Saiba qual o animal brasileiro é imune ao veneno de cobras

Sustentabilidade

Saiba qual o animal brasileiro é imune ao veneno de cobras

Marsupial brasileiro possui imunidade ao veneno de cobras, atuando como predador natural e reduzindo riscos nas propriedades rurais

STF debaterá política ambiental de São Paulo em audiência pública

Sustentabilidade

STF debaterá política ambiental de São Paulo em audiência pública

Audiência pública vem após ação que questiona extinção de instituições públicas com produção científica voltada à preservação ambiental

PUBLICIDADE

Sustentabilidade

Brasil lança calculadora de emissões de gases do efeito estufa na pecuária

Ferramenta será utilizada para contabilizar emissões a partir de rejeitos sólidos, mas pode ser expandida para outras atividades

Sustentabilidade

Conheça a fruta da Mata Atlântica que quase desapareceu

Símbolo da Mata Atlântica, o cambuci, travou uma batalha contra a extinção, mas agora se reergue como exemplo de conservação e oportunidade

Sustentabilidade

560 produtores firmam acordos para recuperar áreas degradadas em MT 

Termos de compromisso assinados no 1º semestre preveem restauração de 8,5 mil hectares de reserva legal e preservação permanente

Sustentabilidade

China pode exigir regra ambiental da UE para carne

UE determina que produtos como carne e café só podem entrar no bloco se comprovarem não ter origem em desmatamentos

Logo Agro Estadão
Bom Dia Agro
X
Carregando...

Seu e-mail foi cadastrado!

Agora complete as informações para personalizar sua newsletter e recebê-la também em seu Whatsapp

Sua função
Tipo de cultura

Bem-vindo (a) ao Bom dia, Agro!

Tudo certo. Estamos preparados para oferecer uma experiência ainda mais personalizada e relevante para você.

Mantenha-se conectado!

Fique atento ao seu e-mail e Whatsapp para atualizações. Estamos ansiosos para ser parte do seu dia a dia no campo!

Enviamos um e-mail de boas-vindas para você! Se não o encontrar na sua caixa de entrada, por favor, verifique a pasta de Spam (lixo eletrônico) e marque a mensagem como ‘Não é spam” para garantir que você receberá os próximos e-mails corretamente.