Agricultura regenerativa reduz em média 50% das emissões de carbono da soja | Agro Estadão
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Agricultura regenerativa reduz em média 50% das emissões de carbono da soja

Resultado é fruto do projeto piloto de agricultura regenerativa da ADM, que coletou dados em 25 mil hectares durante a safra 2023/24

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Sabrina Nascimento | São Paulo

04/12/2024 - 14:00

Soja cultivada em sistema de plantio direto, uma das técnica da agricultura regenerativa. Foto: Adobe Stock
Soja cultivada em sistema de plantio direto, uma das técnica da agricultura regenerativa. Foto: Adobe Stock

Uma redução média de mais de 50% nas emissões de gases de efeito estufa nos talhões de soja brasileira. Esse é o resultado do primeiro ano do projeto piloto de agricultura regenerativa da ADM (Archer Daniels Midland), uma das maiores empresas de agronegócio do mundo. Atualmente, o programa é realizado em cerca de 25 mil hectares, com 16 produtores distribuídos em Minas Gerais e Mato Grosso do Sul.

No primeiro ciclo da iniciativa, como critério de comparação dos dados obtidos em cada talhão do programa, a companhia levou em consideração o valor de emissões do sistema Eco Invest. Porém, na segunda fase, iniciada nesta safra 2024/25, a ideia é começar a comparar as informações dos próprios talhões para obter a redução das emissões da soja.  

Uma das participantes do projeto é a agricultora Lisandra Zamboni, que cultiva soja em 1.200 hectares em São Gabriel do Oeste (MS). Ela conta que, no primeiro momento, olhou a iniciativa com desconfiança, por isso, antes de aceitar participar se dedicou a estudar mais o assunto. “Entendendo os dados que eu tinha que passar, eu comecei a perceber que aquilo poderia ser proveitoso para mim, porque quando se fala da agricultura se fala muito dos grandes [produtores] ou da agricultura familiar. O médio [produtor] se perde no meio do caminho e esse médio precisa de parceria”, destaca.

Mais confiante na proposta, Lisandra optou por avaliar dois talhões que correspondem a cerca de 15% de sua propriedade e têm características distintas: um de solo mais arenoso e outro mais argiloso. A escolha foi estratégica, pois permite observar como as práticas regenerativas se comportam em diferentes condições de solo. 

A agricultora já percebe, inclusive, os impactos positivos das orientações recebidas ao longo do primeiro ciclo do programa. “Hoje, por exemplo, na aplicação de um defensivo, eu uso muito mais biológico e já troquei um defensivo para poder usar com uma mistura e, consequentemente, eu tenho uma rodada a menos de diesel”, explica.

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Lisandra também destaca as diferenças na adubação. “Se eu tenho um talhão mais argiloso, eu tenho um talhão que tem uma produção maior, eu posso ter uma aplicação menor de adubação. E ele me dá uma emissão muito menor”, detalha Zamboni. “Eu estou muito curiosa para saber o que vai acontecer nos próximos anos”, diz entusiasmada. 

Os agricultores participantes do projeto de agricultura regenerativa da ADM precisam atender requisitos socioambientais da companhia. Entre os quais, destaca-se a exigência de que não tenha ocorrido nenhum tipo de desmatamento, seja legal ou ilegal, nos últimos dez anos. 

Conforme o gerente de negócios de carbono e agricultura regenerativa da ADM para América Latina, André Germanes, esse critério visa a um aspecto mercadológico. “Não é uma restrição para negociação, não é nada disso. Mas nesse programa específico foi feito esse corte porque é o que o mercado acaba pedindo na ponta. Mas isso não impede que a gente compre a soja de outras áreas que tenham desmatamento legal, que cumpram com todas as nossas outras extensas regras socioambientais”, afirma Germanes.

Atualmente, o Código Florestal brasileiro permite a abertura de novas áreas para produção agropecuária, desde que a cobertura vegetal nativa atenda aos limites de preservação previstos na legislação e que variam entre 20% a 80%, dependendo do bioma. 

Amostras de solo no foco na segunda fase do programa

Na próxima etapa do programa, que já está em andamento, além das ações do primeiro ciclo, inclui-se também a coleta de amostras de solo para avaliar o balanço de carbono. O objetivo é conseguir calcular quanto de carbono é sequestrado e emitido pelas práticas agrícolas na cultura da soja.

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“Eu tenho certeza que quando a gente tiver o balanço, de fato, não só as emissões, mas o sequestro, acho que nós vamos ter um resultado que vai ser até disruptivo, talvez, de como as pessoas enxergam a agricultura aqui no Brasil”, menciona André.  

Essa segunda fase vai demandar mais profissionais envolvidos, com isso, há uma projeção de aumento de custo entre 35% a 40% frente aos investimentos do primeiro ano. A ADM, entretanto, não comentou o montante aplicado. 

Processamento dos dados

Estruturalmente, hoje, o programa tem dois pólos de atuação: um em Uberlândia (MG) e outro em Campo Grande (MT). Em cada pólo, há equipes compostas por consultores e assistentes técnicos que acompanham todo o ciclo produtivo dos 16 produtores participantes. Esse acompanhamento é realizado de forma ativa e inclui visitas regulares aos talhões, coleta de evidências sobre práticas agrícolas e alimentação de uma plataforma baseada em blockchain.

Os dados coletados abrangem dezenas de variáveis, como o tipo e a quantidade de insumos utilizados (fertilizantes, defensivos, calcário, diesel) e as práticas agrícolas adotadas pelo produtor, como plantio direto, uso de biológicos e cobertura vegetal. 

Esses dados alimentam a calculadora Footprint PRO Carbono, desenvolvida pela Bayer em parceria com a Embrapa. A ferramenta utiliza fatores de emissão calibrados para a realidade da agricultura tropical brasileira. Além disso, toda informação do talhão passa por seis parâmetros de gestão de qualidade: validade, acurácia, completude, consistência, pontualidade e singularidade. 

“Eu consigo saber o quanto dessas emissões vêm de diesel, vem de aplicação de fertilizantes, vem do uso de uma quantidade maior de sementes. […] Quando eu sei exatamente onde está a minha emissão, é mais fácil eu fazer uma recomendação mais precisa, que vai gerar um maior impacto para o agricultor”, explica Ana Carolina Guedes, líder de parcerias para o negócio de carbono da Bayer para a América Latina.

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