Número de agtechs cresceu 75% de 2019 para cá e impulsiona transformação no campo com inovação “antes, dentro e depois da fazenda”
O número de startups voltadas ao agronegócio, as chamadas agtechs, cresceu significativamente nos últimos anos, passando de 1.125 em 2019 para 1.972 em 2024. O dado é do Radar Agtech Brasil, levantamento anual realizado em parceria entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a consultoria Homo Ludens e a SP Ventures.
Para Aurélio Favarin, analista da Embrapa e um dos coordenadores do estudo, esse movimento sinaliza um amadurecimento do ambiente de inovação no campo, com impactos diretos para os produtores. “O grande impacto que isso pode gerar é ter tecnologias mais adequadas para atender às necessidades dos produtores”, afirmou em entrevista ao Agro Estadão.
O destaque ficou por conta das incubadoras, que saltaram de 32 em 2023 para 107 unidades em 2024 — um aumento de 224%. As aceleradoras de startups do agro também cresceram significativamente de um ano para o outro, passando de 21 para 40 — alta de 90%. Os hubs de inovação subiram de 82 para 106, crescimento de 29%, enquanto os parques tecnológicos tiveram um avanço de 25%, passando de 93 para 117 unidades.
Favarin explica que o crescimento mais acentuado das incubadoras reflete o aumento da demanda por soluções inovadoras. Já as aceleradoras entram em cena quando a startup já tem um produto validado e precisa de escala para se desenvolver.
O Radar Agtech Brasil classifica as startups do agro em três grupos:
A categoria “dentro da fazenda” foi a mais representativa no ecossistema de inovação em 2024, respondendo por 41,5% das agtechs (818 startups). Os destaques são as soluções de gestão da propriedade rural (157 empresas) e as plataformas integradoras de dados (144).
“As startups estão olhando cada vez mais para a necessidade do produtor. Estão cada vez mais entendendo quais são os problemas relacionados à produção dentro da fazenda e criando agtechs para resolver esses problemas”, ressalta Favarin.
Já na categoria “depois da fazenda”, as startups de “marketplaces e plataformas de negociação e venda de produtos agropecuários” apresentaram retração percentual em 2024 em comparação com o primeiro levantamento, realizado em 2019, mesmo diante do avanço do comércio eletrônico no período pós-pandemia. No ano passado, com 94 startups identificadas, essa categoria representou 4,8% do total mapeado — praticamente a metade dos 9,3% registrados em 2019.
O relatório também aponta para uma descentralização gradual dos ambientes de inovação nas diferentes regiões do país. Embora a região Sudeste ainda lidere com 36,8% do total de polos de inovação, há uma tendência de fortalecimento em outras regiões, especialmente no Sul, que aparece em segundo lugar com 31%, seguida pelo Nordeste (17,5%), Centro-Oeste (9,5%) e Norte (5%).
Em relação ao número de startups do agro, o Sudeste também lidera com 57,7% das agtechs do país, seguido pelo Sul, com 25,3%, e pelo Centro-Oeste, com 6,1%. O destaque são as regiões Nordeste e Nordeste que registraram crescimento no período de 2019 a 2024. O Nordeste ampliou sua participação de 3,5% para 5,9% e o Norte saltou de 1,5% para 5,0% desde o primeiro levantamento.
“Historicamente, a atração de startups do agro sempre esteve voltada para o estado de São Paulo. Mas agora percebe-se que as regiões Sul e Nordeste também atraem. Então, esse crescimento do número de startups e de ambientes de inovação, principalmente nessas regiões, indica que o ecossistema de inovação está em ascensão”, pontua o analista da Embrapa.
Unidade Federativa | Nº de agtechs em 2019 | 2019/% | Nº de agtechs em 2024 | 2024/% |
São Paulo | 590 | 52,5 | 857 | 43,5 |
Rio Grande do Sul | 89 | 7,9 | 189 | 9,6 |
Paraná | 102 | 9,1 | 176 | 8,9 |
Minas Gerais | 99 | 8,8 | 174 | 8,8 |
Santa Catarina | 70 | 6,2 | 134 | 6,8 |
Rio de Janeiro | 41 | 3,6 | 78 | 4 |
Mato Grosso | 18 | 1,6 | 37 | 1,9 |
Goiás | 22 | 2 | 35 | 1,8 |
Pará | 6 | 0,5 | 31 | 1,6 |
Bahia | 12 | 1,1 | 28 | 1,4 |
Espírito Santo | 9 | 0,8 | 28 | 1,4 |
Amazonas | 4 | 0,4 | 25 | 1,3 |
Distrito Federal | 13 | 1,2 | 23 | 1,2 |
Pernambuco | 8 | 0,7 | 23 | 1,2 |
Tocantins | 4 | 0,4 | 22 | 1,1 |
Mato Grosso do Sul | 17 | 1,5 | 21 | 1,1 |
Ceará | 7 | 0,6 | 17 | 0,9 |
Amapá | 0 | 0 | 15 | 0,8 |
Maranhão | 0 | 0 | 15 | 0,8 |
Acre | 0 | 0 | 14 | 0,7 |
Roraima | 1 | 0,1 | 8 | 0,4 |
Rio Grande do Norte | 3 | 0,3 | 6 | 0,3 |
Rondônia | 2 | 0,2 | 6 | 0,3 |
Paraíba | 4 | 0,4 | 5 | 0,3 |
Piauí | 2 | 0,2 | 3 | 0,2 |
Sergipe | 1 | 0,1 | 2 | 0,1 |
Criado em 2017, o PwC Agtech Innovation surgiu como uma plataforma online dedicada a conectar startups e grandes corporações do agronegócio. Com a crescente necessidade de um ambiente físico para interações estratégicas, em 2019, o projeto expandiu sua operação com um hub de inovação localizado em Piracicaba, no interior de São Paulo.
Por articular diferentes atores do ecossistema — de agtechs emergentes a grandes empresas do setor — o Agtech Innovation atua em todas as fases da cadeia produtiva: antes, dentro e depois da fazenda. Ao Agro Estadão, o COO do PwC Agtech Innovation e sócio da PwC Brasil, Dirceu Ferreira Junior, destacou as principais tendências em cada uma dessas frentes:
“Antes da porteira, a conectividade, a digitalização e a inteligência artificial estão estabelecendo uma base sólida para decisões estratégicas mais inteligentes. Ao mesmo tempo, a automação e o Big Data impulsionam a eficiência no uso de recursos, aceleram processos e aumentam a previsibilidade na gestão”, destaca.
“Dentro da porteira, a agricultura de precisão e as práticas sustentáveis estão redefinindo a produção agrícola, tornando-a mais eficiente e alinhada às novas exigências do setor. O uso estratégico de dados, aliado à automação e às soluções biológicas, não apenas melhora a produtividade, mas também prepara o campo para desafios crescentes, como as mudanças climáticas e a demanda por alimentos mais sustentáveis”, ressalta o COO do PwC Agtech Innovation.
“Além da porteira, a inovação na logística, na rastreabilidade e na distribuição de produtos agrícolas vem ganhando protagonismo, garantindo maior transparência e eficiência no fluxo dos insumos e alimentos”, completa.
De forma geral, Ferreira Junior avalia haver uma evolução no profissionalismo das parcerias entre corporações, startups e demais agentes do ecossistema. Segundo ele, o setor está cada vez mais maduro na criação e validação de novas tecnologias, sempre com o produtor rural no centro das decisões. “O futuro do agronegócio depende da sinergia entre tecnologia, sustentabilidade e colaboração estratégica”, conclui.