Lançada pela Embrapa Pecuária Sudeste, a BRS Guatã também é alternativa de baixo custo para alimentação de bovinos
A Embrapa Pecuária Sudeste lançou uma nova cultivar de feijão guandu que pode contribuir para a recuperação de pastagens degradadas, auxiliar na alimentação de bovinos, durante a época de seca, e ainda inibir a reprodução dos nematoides no solo. Pesquisas mostram que a BRS Guatã é capaz de controlar até quatro tipos desse parasita que atacam, principalmente, a soja e a cana-de-açúcar: Pratylenchus brachyurus, P. zeae, Meloidogyne javanica e M. incógnita.
Esses pequenos vermes podem afetar significativamente a produção ao parasitar as plantas, retirando substâncias nutritivas e injetando elementos tóxicos no interior da célula vegetal. As larvas penetram nos tecidos da raiz e formam pequenos tumores, podendo chegar até as folhas, as flores e os frutos. Segundo a Sociedade Brasileira de Nematologia, os prejuízos à agricultura nacional podem chegar a R$ 35 bilhões.
Ao Agro Estadão, a pesquisadora da Embrapa Pecuária Sudeste, Patrícia Anchão, explicou que esses nematoides não se multiplicam na cultivar BRS Guatã. “Quando cultivada sozinha em rotação de cultura com as espécies de interesse econômico (soja, cana-de-açúcar, milho, feijão entre outras), a BRS Guatã não favorece a multiplicação desses nematoides, reduzindo a população desses patógenos no solo por inanição e, como consequência, os danos que eles causam”, afirma.
Segundo o pesquisador da Embrapa, Frederico Matta, a nova cultivar também pode ser integrada a outros métodos de controle de nematoides, como biopesticidas. “Essa estratégia combinada pode resultar em uma redução mais significativa da população de nematoides no solo, proporcionando benefícios adicionais às culturas subsequentes”, destacou à reportagem.
A pesquisa da Embrapa mostra que a nova cultivar de feijão guandu possui cerca de 15% de proteína em sua composição, com alta capacidade de se associar às bactérias que realizam fixação de nitrogênio no solo. Por isso, a BRS Guatã se destaca como uma alternativa de baixo custo para a suplementação volumosa de bovinos durante a seca.
Seu uso para essa finalidade melhora a oferta de alimento, permitindo um maior número de animais por hectare e reduzindo a escassez de forragem no período da seca. Como consequência, os bovinos apresentam maior ganho de peso, contribuindo para o aumento da produtividade na pecuária.
Patrícia Anchão explica que o mais comum é fornecer a planta inteira em pastejo ou no cocho para os animais. “O uso dos grãos, assim como em outras leguminosas, necessita de acompanhamento técnico especializado para a formulação da dieta, devido, especialmente, aos teores de proteína e de lipídeos, que necessitam ser balanceados de acordo com a categoria animal”, ressalta.
Segundo a pesquisadora, a cultivar BRS Guatã ainda está em avaliação para consumo humano.
A nova cultivar de feijão guandu demonstrou ser uma opção viável para a produção de cobertura morta e adubação verde em rotação com outras culturas. Em testes realizados pela Embrapa, ela produziu 3 toneladas de massa seca por hectare na condição de sequeiro e 3,3 toneladas por hectare com irrigação. Segundo os pesquisadores, a pequena diferença evidencia a tolerância da leguminosa ao déficit hídrico.
“A BRS Guatã pode ser usada em plantio direto, usando semeadora de soja pela semelhança no tamanho e formato da semente e profundidade de plantio, produzindo uma boa cobertura do solo contra erosão. Quando roçada para o preparo da cobertura morta, ela produz biomassa remanescente (palhada) suficiente para o plantio da próxima cultura; em média 5,4 toneladas por hectares de matéria-seca”, detalha o pesquisador Frederico Matta.
A utilização da cultivar se mostrou bastante promissora nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do país. “Como é uma planta de dia curto, quanto mais próximo o plantio da linha do Equador, menor é a indução ao florescimento, sendo que a biomassa produzida terá menor proporção de grãos e vagens”, ressalta Matta. “De forma geral, qualquer cultivar de feijão guandu não deve ser cultivada em solos com deficiência de drenagem e em regiões frias”, complementa.
Os interessados em adquirir a BRS Guatã podem entrar em contato com as empresas e produtores de sementes parceiros da Associação para o Fomento à Pesquisa de Melhoramento de Forrageiras (Unipasto). Com sede em Brasília (DF), a associação conta com 50 toneladas em estoque para comercialização.