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Controle do percevejo-marrom: um inseto a cada metro linear pode reduzir produtividade em até 75 kg de soja por hectare

Na primeira reportagem da série sobre controle do percevejo-marrom, o Agro Estadão apresenta o sugador considerado um dos principais problemas na sojicultura do Brasil

5 minutos de leitura 31/07/2024 - 05:30

Por: Daumildo Júnior* | Piracicaba | daumildo.junior@estadao.com

Foto: Claudio Bezerra Melo/ Embrapa
Foto: Claudio Bezerra Melo/ Embrapa

Euschistus heros, ou também chamado de percevejo-marrom, faz parte do que pesquisadores na área de controle de pragas têm classificado como complexo de percevejo. Dos muitos representantes desses insetos sugadores de seiva, o percevejo-marrom é o mais danoso para a cultura da soja, especialmente no Centro-Oeste, como explica a professora de Manejo Integrado de Pragas da Universidade Federal de Goiás (UFG), Cecília Czepak. 

“O percevejo-marrom no início [do cultivo da soja] não era um problema. Quando a soja veio para o Centro-Oeste mudou um pouco essa dinâmica de pragas e o percevejo foi uma dessas mudanças. A partir de então, ele começou a atuar e hoje ele é o percevejo mais importante da soja”, afirma Czepak. 

O prejuízo pode ser calculado no bolso do produtor. Um percevejo-marrom por metro linear pode tirar do agricultor até 75 quilos de soja por hectare. Estudos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) apontam que em termos totais na safra 2022/2023, o valor perdido com a ação do inseto foi na casa dos R$ 12 bilhões.  

Quais os danos do percevejo-marrom na soja?

Diferente de outras espécies de sugadores, o percevejo-marrom prefere a vagem e o grão da soja, que é o produto de interesse dos sojicultores. Por isso, o prejuízo é tão sensível.

“Ao inserir o aparelho bucal, ele acaba prejudicando o desenvolvimento do grão. As vezes só uma picada no grão já vai ocasionar um dano”, complementa a professora. 

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A especialista também cita outras consequências:

  • Não formação de todos os grãos dentro da vagem;
  • Grãos com menos pesados;
  • Grãos chochos ou enrugados;

O pesquisador da Embrapa Soja, Adeney de Freitas Bueno, também aponta os prejuízos na qualidade do grão. “Além dos danos de produtividade tem também os danos qualitativos, pois ele abre portas para fungos e bactérias, e na armazenagem isso se degrada. Uma soja que foi atacada por percevejo também tem menor tempo de armazenamento”, aponta. Além disso, a perda pode ser maior para multiplicadores de sementes, pois a qualidade da soja tem impacto direto na receita. 

Na mesma linha, a gerente de Defesa Agropecuária da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Jerusa Rech, também comenta sobre o impacto na qualidade. Segundo ela, isso gera “descontos diretos na classificação, o que pode ter um impacto econômico negativo significativo para os produtores”. 

Outro ponto colocado pelo pesquisador são os gastos com inseticidas. “É uma das principais pragas nas lavouras da soja, responsável por cerca de 50% dos inseticidas usados durante o ciclo da cultura”, completa Bueno. 

Como funciona o ciclo de vida do percevejo-marrom?

O percevejo-marrom é capaz de se alimentar do milho e de outras culturas, porém a soja é a “picanha” do cardápio. Com o aumento da produtividade das cultivares de soja no país, houve uma proliferação desses insetos que encontraram a comida preferida em abundância. 

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Além disso, fatores como a mudança climática têm favorecido e acelerado o ciclo de vida desses sugadores. De forma geral, quanto mais quente, mais rápido o metabolismo desses insetos funcionam e mais cedo seus ovos eclodem. 

Na fase seguinte, os percevejos estão no estágio de ninfas e necessitam de mais energia, por isso é um período mais crítico de ataques. Depois elas se transformam em insetos adultos onde o objetivo é copular para se reproduzir. De forma geral, um percevejo dura em média 50 dias no campo. 

A “hibernação” do percevejo

Apesar de ter um ciclo rápido, o percevejo-marrom é capaz de entrar em uma espécie de hibernação. A diapausa favorece a proliferação do percevejo e é um dos problemas que o produtor enfrenta, porque ela amplia o tempo de vida do inseto. 

“Hoje o que nós temos é um percevejo-marrom à espera da próxima safra. Ele diminui a atividade metabólica e migra para uma área de refúgio sem copular. Antes a gente achava que ele estava nas matas, nas áreas de APP, mas hoje a gente vê na própria palhada ele ali esperando”, conta Czepak. 

Na prática, uma lavoura de soja pode ter até quatro gerações de percevejo no período do plantio até a colheita. A última geração é a que costuma ficar nesse estado de dormência e pode permanecer assim por até sete meses. Por isso, quando a soja da safra seguinte começa a nascer, já existem percevejos botando ovos e dando início à primeira geração nesse novo ciclo de plantio e colheita. 

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O que fazer para combater o inseto?

Quanto às orientações no combate à praga, a professora da UFG é clara: “não existe uma receita de bolo”. Ela defende que os produtores devem observar o combate às pragas com um manejo integrado e não somente focado no uso de defensivos. Inclusive, Czepak esclarece que o uso de defensivos agrícolas funciona como um selecionador rápido dos indivíduos resistentes, por isso sempre haverá novas formulações para combater a praga, já que a eficiência nunca é de 100%.

“Existe uma realidade para cada produtor com base no monitoramento. Aí os produtos podem funcionar. O produto químico sozinho, como a gente está fazendo, está errado. O que a gente tem que trabalhar é com manejo. […] Eu não sou contra a utilização dos químicos. Não é o que você usa, mas como você usa”, indica a professora. 

Além disso, é importante que uma parte das pragas ainda continue vivendo para trazer equilíbrio. Isso porque caso uma população de insetos seja eliminada integralmente dentro de uma propriedade, isso acaba também com os inimigos naturais desses insetos. Com isso, um eventual novo ataque pode ser ainda pior, pois se perde esse elo de controle natural que já existe no ambiente. “A ideia não é retirar, mas sim manejar. A gente vai produzir apesar dos insetos”, comenta Czepak.

Na próxima reportagem da série sobre o controle do percevejo-marrom, o tema será um outro inseto que tem ajudado no controle do sugador da soja. O controle biológico é uma das ferramentas que podem mitigar os danos do percevejo-marrom na soja. 

*Jornalista viajou a convite da Nitro

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