Mais investimento em pesquisas e uma estratégia “de estado” são as ferramentas apontadas pelo presidente da Embrapa Soja para o Brasil seguir na liderança em produção e exportação de soja
Explorar o potencial da África é apontado como desafio e oportunidade para o mercado de soja brasileiro. A opinião é do chefe-geral da Embrapa Soja, o pesquisador Alexandre Nepomuceno. O continente vem recebendo investimentos de diversos países e, para Nepomuceno, o Brasil deveria embarcar nessa estratégia que ele diz ser de “estado”.
“Levar nossas empresas para lá, nossas tecnologias de maquinário para produção em áreas tropicais, nossas variedades de soja e milho”, afirma. Uma vantagem para o Brasil, segundo o pesquisador, é que as terras africanas têm muitas características semelhantes às brasileiras. “Claro que elas têm que ser trabalhadas, precisa construir estradas, infraestrutura. Tudo isso está sendo feito por vários países — a China tem muito investimento lá”, completa.
Nepomuceno fala ainda sobre a diversificação de produtos a base de soja, criando “demandas” para o mercado. Como exemplo, ele cita chinelos de borracha feitos de soja ou espuma de soja.
Duas novas variedades de soja estão sendo desenvolvidas pela Embrapa com o uso de edição gênica. O chefe-geral da Embrapa Soja lembra que a CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) avaliou e concluiu que o uso da tecnologia conhecida como Crispr não torna a soja transgênica. O Crispr é uma técnica que permite alterar o DNA da semente. No caso de novas cultivares de soja, a edição genética acontece ao cortar algum gene ou incluir o gene de outra variedade de soja.
“Essa mutação já existe na soja e em vez de cruzar, você usou a técnica. Não tem nenhum DNA de outra espécie, é só soja”, comenta Nepomuceno. “Quando a CTNBio diz ‘isso não é transgênico, é convencional’, um mundo se abre. Porque eu posso cortar onde eu quiser, é uma mutação que já tem na soja”, complementa. Na prática, significa criar novas cultivares sem o custo do processo de transgenia.
Com isso, a Embrapa usou a edição para desenvolver uma variedade resistente à seca e outra para baixa lectina –- substância presente na soja que precisa ser retirada para que o grão vire alimento para os animais. De acordo com Nepomuceno, as variedades estão sendo testadas e ainda não há previsão para que estejam disponíveis no mercado.
Os investimentos na instituição de pesquisa preocupam o chefe-geral da Embrapa Soja, que considera essencial “encontrar uma solução para o orçamento”, que vem reduzindo nos últimos anos.
“Se não se tomar as providências para reerguer o orçamento da Embrapa, vai acontecer que está acontecendo com muitas empresas estaduais de pesquisa”, declara.
Nepomuceno ressalta que a atual gestão está empenhada em tentar resolver, mas é preciso mais. “A nossa diretoria conseguiu repor as nossas instalações. Mas não adianta eu ter um equipamento de 2 milhões se eu não tenho dinheiro para pagar a luz”, comenta.
Segundo ele, 90% dos recursos da Embrapa vão para pessoal. “E aí tem gente que critica. Mas estamos falando de quê? Ciência. Cérebro. Além do equipamento caro e moderno, eu tenho que ter uma pessoa que entenda o que aquele equipamento vai me trazer”, reflete.
O pesquisador destaca a importância do concurso em andamento — 14 anos após o último certame — já que entre 20% e 30% dos pesquisadores devem se aposentar nos próximos 5 anos. “Se tu não encostar um cientista mais novo num cara com experiência, tu perde muito. Tudo tem que começar do zero”.
Para o chefe-geral da Embrapa Soja, parcerias com a iniciativa privada podem ser uma saída para a pesquisa. Um destaque é o projeto piloto com a Petrobrás para produção de soja de baixo carbono, assinado em setembro deste ano. Agora, a fase é escolher a região e os produtores que irão participar.
Nepomuceno explica que a área deve ser próxima de uma refinaria, já que a produção servirá para produção de combustível de aviação (SAF) e, por isso, o Paraná é um candidato forte.
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