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Elas lideram o Agro: 3 histórias de sucesso e inspiração
Em um setor que pulsa entre a tradição e a inovação, a força feminina segue sendo destaque em diversas áreas do agronegócio brasileiro
Mônica Rossi | Porto Alegre, Sabrina Nascimento | São Paulo e Paloma Custódio | Brasília
08/03/2025 - 08:00

Neste Dia da Mulher, conversamos com três delas que personificam a resiliência, a paixão e a visão estratégica necessárias para liderar negócios quase sempre administrados por homens. Três histórias inspiradoras de quem garante resultados extraordinários no campo e nas mesas de negociação.
Legado e liderança: a força feminina na pecuária
Nascida e criada entre os campos de Pirajuí, no interior de São Paulo, Érika Maria Bannwart é um legado de sua família, que há três gerações mantém uma propriedade que, por muito tempo, foi dedicada ao café. Herança do avô suíço, que comprou a terra em 1929, a Fazenda do Engenho hoje é dedicada à pecuária e simboliza a longa história da família no agronegócio.

A transição do café para a pecuária ocorreu de forma gradual, mas antes disso, por cerca de uma década, o foco da propriedade foi a criação do bicho-da-seda. Ao Agro Estadão, Érika contou que foi uma fase de adaptação e reinvenção, mas com o tempo a pecuária se consolidou.
“Meu pai sempre gostou de gado e sempre teve alguns animais. Aliás, quando tinha alguma dificuldade no café, às vezes, ele vendia o gado, que era criado no fundo da fazenda, para socorrer. Quando os sócios da propriedade foram saindo, a terra ficou só com o pai e ele foi melhorando a questão do gado, retendo mais animais, fazendo mais negócios”, relatou Bannwart.
Desde a morte do pai, há 20 anos, a criadora toca a propriedade tendo uma das quatro irmãs como sócia. Mas, como essa irmã mora em Goiás, a administração ficou com Érika. Sob sua liderança, a pecuária na Fazenda do Engenho prosperou, com investimentos contínuos em genética, melhoramento de pastagens e infraestrutura. “Eu fazia ciclo completo com o Nelore, depois veio a facilidade da IATF, que se chama Inseminação Artificial por Tempo Fixo e a gente começou a produzir bezerros meios sanguíneos”, detalha a produtora. Atualmente, a fazenda conta com cerca de 700 cabeças de Nelore e Angus.
A atuação de Érika não se limita apenas à Fazenda do Engenho, ela passou a ser uma figura importante no fortalecimento do agronegócio, representando uma geração de mulheres no campo. Em 2015, em busca de se conectar com produtoras da sua região, ela iniciou um pequeno grupo de mulheres pecuaristas no WhatsApp para compartilhar experiências. “Quando o grupo nasceu tinha sete, hoje nós estamos em quase 160 mulheres”, destaca.
O grupo cresceu e se transformou no GPB Rosa, uma extensão do Grupo Pecuária Brasil (GPB). Hoje, a iniciativa feminina conta com mulheres de diversas idades e estados brasileiros e tem como foco a inclusão, apoio e troca de experiências.
Com a experiência de uma vida, Érika acredita que a sensibilidade e o “coração doce” são os diferenciais do trabalho das mulheres no campo. “Na pecuária, a mulher tem uma conexão muito forte com a cria, o que eu acho, vem da maternidade. Vejo muitas pecuaristas que se identificam com esse momento de cuidado com os bezerros. Quando nasce o bezerro, a gente não gosta de agressividade, daí vem o bem-estar animal. Então, essas mudanças todas que temos hoje na pecuária, muito aconteceu pelo olhar da mulher”, ressalta a criadora.
Com suas ações em prol da pecuária e da participação das mulheres no setor, Érika já foi reconhecida pela Revista Forbes como uma das 100 mulheres mais influentes no agronegócio.
A primeira a liderar a Organização Internacional do Café
Do sul de Minas Gerais à cadeira de diretora-executiva da Organização Internacional do Café (OIC), a trajetória de Vanusia Nogueira sempre esteve ligada ao setor cafeeiro. Desde a infância, ela acompanhava os pais e os avós na produção e comercialização do grão, cultivando uma paixão que marcou sua vida e carreira.

Formada em Tecnologia da Informação e Gestão pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), com doutorado em Administração, com ênfase em Marketing, pela Universidade Nacional de Rosario (Argentina), Vanusia deu os primeiros passos profissionais no setor cafeeiro, no início dos anos 2000, na Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de Três Pontas (Cocatrel).
Em seguida, Vanusia consolidou sua carreiram ficando por 15 anos como diretora da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), até que, em meados de 2021, surgiu a oportunidade de pleitear o cargo de diretora-executiva da OIC. “Pensei e ponderei muito. Se a minha candidatura é uma coisa que o setor privado do Brasil quer pedir ao governo brasileiro, vamos tentar”, contou ao Agro Estadão. A então ministra da Agricultura, Tereza Cristina, e o Itamaraty aprovaram prontamente sua indicação e apoiaram sua candidatura ao cargo de liderança da OIC.
Na Organização Internacional do Café, a escolha de Vanusia ocorreu por aclamação. Ela assumiu a liderança da OIC em 2022, para um mandato de cinco anos, marcando diversos pioneirismos: foi a primeira mulher a ocupar o cargo, a primeira a comandar um organismo internacional de commodities, a primeira oriunda de uma família de produtores e a primeira vinda do setor privado.
“É uma responsabilidade muito grande, principalmente pela questão de ser uma mulher dentro de um ambiente que é eminentemente masculino, que assumiu com a missão de fazer com que essa organização tivesse um lado mais prático, menos burocrático e estivesse muito mais próxima dos produtores em si”. A diretora-executiva da OIC afirma que sentiu a pressão por ser mulher em um cargo de liderança. “Sendo a primeira mulher [líder da OIC], sabia que estava sendo sempre muito observada e avaliada. Mas agora, com quase três anos, eu acho que já relaxamos um pouco, todo mundo já me aceitou muito melhor”, revela.
Vanusia ressalta que, embora a presença feminina seja marcante na produção de café, ela ainda é pouco representada em cargos de liderança. No entanto, ela acredita que esse cenário está mudando gradualmente. “Nós temos que mostrar nossa competência. Não vamos conseguir vender café mais caro só porque o café veio de mulher, isso é uma coisa de curto prazo. Precisamos ter alguma coisa que tenha fundamento para ter uma visão de médio e longo prazo. Mas, aos poucos, vamos conseguindo fazer essas mudanças sem atropelos”, alerta.
Amor e sensibilidade com os cavalos que resulta em prêmios
A paixão de Taiane Zocchetto pelos cavalos nasceu por acaso durante uma viagem em família, quando ainda era pré-adolescente. Aos 15 anos, abriu mão dos presentes comuns entre as amigas (festas e viagens) e debutou na sociedade que lhe interessava: a do Cavalo Crioulo. As primeiras dez éguas da raça presenteadas pelo pai foram o início do que se tornaria a, hoje, premiada Cabanha Taimã. “Se não fosse o apoio da família eu não teria conquistado o que conquistei hoje. Eles apostaram em mim, eles viram que eu havia pegado gosto, que eu estava me dedicando por aquilo”, conta.

O amor pelo mundo equestre levou Taiane a cursar Medicina Veterinária. A cabanha administrada pela criadora tem sede em Alecrim, no noroeste do Rio Grande do Sul. Atualmente, são mais de 130 animais da raça que é símbolo do estado. “Os cavalos crioulos entregam beleza, mansidão e versatilidade. Desde bem jovem me identifiquei muito com a raça. Então, foi um amor à primeira vista, né?”, relembrou em entrevista ao Agro Estadão. Do plantel, já saíram dois grandes campeões da Expointer na categoria morfologia e um finalista da grande prova esportiva da raça, o Freio de Ouro.
Aos 36 anos, Taiane não se restringe à plateia nas competições, ela participa de provas de tiro de laço há mais de duas décadas. A criadora contou que, no passado, não havia outras mulheres competindo nas provas campeiras. “Acredito que lá no início, como fui uma das primeiras aqui na minha região, creio que servi de inspiração para muita menina que hoje laça e inclusive para minha irmã. Consegui mostrar que a gente tem espaço em qualquer lugar que quisermos, desde que a gente realmente queira. Se tem preconceito, não tem problema. A gente simplesmente vai em frente!”, aconselha.
A ligação com a irmã Amanda, oito anos mais nova, é forte: tanto pela paixão pelos cavalos quanto pelos negócios. Foi juntando o próprio nome Taiane com a palavra irmã que teve origem o nome cabanha: Taimã. As duas irmãs e a família estão à frente de cinco empresas, todas voltadas ao mundo do agronegócio.
Sobre a presença feminina cada vez maior no universo do Cavalo Crioulo, Taiane acredita que tenha sido conquistada com muito trabalho. “Se a gente for pegar os últimos campeonatos, a maioria teve como campeões animais de criatório tocados por mulheres. Então, a gente conseguiu espaço e respeito através dos resultados. E o resultado vem da nossa dedicação, desse olhar diferente e sensível que só a mulher tem”, reforça.
Nos planos da gaúcha, estão novos prêmios na Expointer – feira agropecuária do RS, para seguir confirmando a qualidade dos animais da Taimã. “Na verdade, cada conquista coloca mais responsabilidade em cima da gente de mostrar que aquilo não foi ao acaso, mostrar que é muito sólido o trabalho que fazemos. Então, o nosso objetivo é seguir premiando e mostrar que o criatório está evoluindo, sempre em busca de resultados”, finaliza.

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