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Cafeicultores de MG investem em qualificação e conquistam paladares internacionais
Conheça produtores de café que tiveram a vida transformada a partir da produção de grãos especiais

Rafael Bruno | São Paulo | rafael.bruno@estadao.com
30/08/2024 - 08:30

Maior produtor de café do Brasil, Minas Gerais tem conquistado novos paladares mundo afora. De janeiro a junho de 2024, as exportações do grão mineiro totalizaram aproximadamente US$ 4 bilhões, incremento de 35,5% na comparação com o primeiro semestre de 2023. Em volume a alta foi de 34,5%, com o embarque de 17 milhões de sacas.
Por trás desses números expressivos e em meio às plantações, histórias de sucesso estão sendo escritas a cada colheita. Trajetórias inspiradoras de produtores como Pierre Pereira, que é descendente de cinco gerações de cafeicultores.
“Desde o tempo do meu avô, passando pelo meu pai, a cultura do café sempre esteve presente em nossas vidas”, comenta Pierre ao recordar a infância. “É impossível esquecer das colheitas, do aroma envolvente do café e das brincadeiras em meio às sacas armazenadas”, descreve o atual proprietário da Fazenda Terracini, que decidiu investir na produção de cafés especiais na fazenda localizada em Altolândia, na Serra da Canastra.

Pierre conta que, apesar dos grãos de boa qualidade, sempre havia produzido e comercializado um café commodity, com menor valor agregado. Mas há dois anos os rumos mudaram quando o agrônomo e gerente da fazenda, Jonathan Martins das Chagas, sugeriu a Pierre que ele procurasse um programa de assistência técnica para mais orientações e apoio quanto à produção de cafés especiais.
Não demorou muito e ele já estava integrado ao Programa de Assistência Técnica e Gerencial do Sistema Faemg Senar – ATeG Café+Forte. E, após fazer a análise dos grãos, a surpresa foi boa! Os cafés de terreiro da Pierre receberam nota acima de 83, pontuação que já categoriza sua produção como “especial”.
“Diante disso, o que nós fizemos foi orientar e dar o caminho para que ele buscasse um processo de pós-colheita diferenciado, com a separação dos melhores grãos, e a busca por profissionais que pudessem provar e avaliar esse café”, comenta o técnico de campo Antônio Sérgio de Souza. Neste ano, segundo Souza, as notas dos cafés da fazenda subiram para 87 e 88 pontos, respectivamente.
As melhorias têm incentivado Pierre a permanecer no segmento e agora seus cafés de alta qualidade estão prontos para conquistar o mercado norte-americano. “Os Estados Unidos são os maiores consumidores de café e o Brasil é o maior produtor, então quero fazer essa ponte. Atuar também no Canadá e trabalhar para criar uma boa imagem do café brasileiro aqui. Proporcionar experiências, por meio da degustação, que eduquem esse público sobre a nossa qualidade”, argumenta o fazendeiro, que atualmente reside em Washington, com a esposa e os quatro filhos.
Novos mercados e transformações regionais

E se tem café e mineiro, tem mais história. É o caso do Marinaldo de Freitas Santos e do filho Luan Faria, que celebram a entrada no mercado argentino.
Os cafeicultores, que já foram auxiliados pelo Café+Forte, hoje contam com o apoio do programa Agro.BR, um projeto da CNA em parceria com a Apex-Brasil e a Federação de Agricultura de Minas Gerais (FAEMG), que tem a missão de ampliar a pauta exportadora brasileira por meio de capacitação, apoio em plano de exportação, consultoria personalizada, participação em rodadas de negócios, suporte em escritórios no exterior, entre outras.
“Nosso propósito era fazer algo diferente da lavoura à moda antiga para conseguir mais qualidade, mas faltava conhecimento sobre como fazer e sobre o mercado para esse produto diferenciado”, explicou Marinaldo, que relembrou a trajetória do bisavô, o também cafeicultor Dedicácio Faria. “É a realização de um sonho de homenagear o legado que ele deixou, e tudo que construiu para a família com muito trabalho”, comentou.
Segundo o produtor, as exportações estão abrindo novas perspectivas não só para ele e família, mas também para demais produtores da região. “Cerca de 12 famílias estão participando dessa exportação e isso me enche de orgulho”, afirma.

E para fechar o trio de histórias de produtores que ultrapassaram as fronteiras e têm levado o sabor de Minas a diversas nações, mais um relato direto das Matas de Minas. Na região, a Fazenda Jairo Soares, localizada em São Sebastião do Anta, tornou-se um verdadeiro polo de exportação de cafés especiais. Em parceria com a startup Farmly, que conecta produtores a compradores internacionais, a fazenda já exportou mais de mil sacas de café ao ano para mais de 40 países, desde 2019.
Inácio Soares, o proprietário, reforça o impacto transformador para a região. “Diversos produtores estão conseguindo duplicar e até quintuplicar seus rendimentos, graças à qualidade dos nossos cafés e ao apoio de programas como o ATeG Café+Forte”, disse.
De acordo com a FAEMG, a ascensão do café especial em Minas Gerais revela um cenário promissor. Com investimentos em qualidade e apoio de programas de assistência técnica, pequenos e médios produtores estão transformando suas propriedades, gerando renda e desenvolvimento para suas comunidades por meio da exportação, elevando a reputação do café mineiro e brasileiro no mercado internacional.
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