Tarifa extra pode ser imposta ao Brasil que mantém relações com a Rússia para importar mais de 25% dos fertilizantes e adubos
O Brasil pode ser duramente afetado pelas sanções secundárias que podem ser aplicadas pelos Estados Unidos à Rússia. A medida foi prometida pela Casa Branca, caso o governo Putin não encerrasse a guerra com a Ucrânia até esta sexta-feira, 08.
O sócio da Markestrat Group, José Carlos de Lima Júnior, lembra que a Índia, membro do BRICs — criticado anteriormente por Trump — foi escolhida, nesta semana, como ‘balão de ensaio’ por manter relações comerciais com os russos, especialmente na compra de petróleo.
O governo Trump anunciou, na quinta-feira, 06, a aplicação de tarifas de 50% sobre os produtos indianos, em duas etapas: 25% imediatamente e 25% daqui a três semanas. “O meu receio é que o presidente norte-americano venha a elevar essa tensão política e coloque essa tarifa secundária também sobre o Brasil, porque temos uma relação muito intensa com a Rússia, principalmente na importação de fertilizantes”, salientou Lima.
No agronegócio, as exportações brasileiras são fortemente concentradas em commodities agrícolas como soja, café não torrado e carne bovina. Por outro lado, as importações no setor são dominadas por adubos e fertilizantes químicos — insumos essenciais para manter a produtividade das lavouras e dos quais o Brasil importa cerca de 80%.
Segundo o especialista, o maior custo de uma sanção secundária é a gestão institucional, que é mais complexa quando uma tarifa chega dessa maneira. Além disso, diante da dependência do setor produtivo brasileiro da compra de fertilizantes e adubos, fica o questionamento em relação a outras possíveis fontes de abastecimento.
Em 2024, a Rússia foi responsável por 27,3% dos fertilizantes químicos comprados pelo Brasil. Na sequência, aparecem China (14,2%), Canadá (9,8%), Marrocos (8,6%) e Nigéria (4,0%). “Qual país poderia fazer essas transações para substituir o fornecimento desse insumo Russo? Então, você tem alguns pontos importantes”, diz o sócio da Markestrat Group.
O especialista destaca ainda que, as tarifas podem representar apenas um ‘gatilho’ para efeitos maiores em cadeia. “Como se fosse um processo de uma pedra que você joga na água e vai criando ondas”, exemplifica. Segundo ele, esse processo tende a se estender ao longo do tempo, com certa semelhança ao cenário vivido na década de 1970, marcado pela insegurança jurídica internacional gerada pela crise do petróleo.
Na ocasião, a estabilidade no comércio global só começou a ser restaurada nos anos 1990. “Ou seja, o efeito Trump não acabaria agora. Ele teria uma durabilidade um pouco maior do que a gente está imaginando”, alerta.