Com mais de 2 milhões de km de estradas rurais, investimentos necessários para melhoria passam de R$ 40 bilhões
As chamadas estradas vicinais, vias das zonas rurais, transportam por ano 1,4 bilhão de toneladas por ano no Brasil. Mas as condições dos 2,2 milhões de quilômetros não são as melhores. Segundo um estudo inédito sobre o tema, o país chega a perder R$ 6,4 bilhões anuais com custos operacionais devido à situação das estradas vicinais.
Os dados estão no estudo “Panorama das Estradas Vicinais no Brasil” feito pelo Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-Log) a pedido da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Para a estimativa das perdas, os pesquisadores consideraram o custo de oportunidade. Se o padrão de qualidade fosse médio, as perdas evitadas seriam de R$ 2,7 bilhões anuais. Com um padrão de qualidade alto, esse número chega aos R$ 6,4 bilhões.
O maior impacto estimado é na cana-de-açúcar. Considerando o cenário de um padrão de qualidade alta, a cadeia da cana perde cerca de R$ 2,3 bilhões anuais. Depois ficam milho e soja, com R$ 2,1 bilhões, e a produção animal, com R$ 865,4 milhões.
O panorama também traz uma avaliação das vias em oito regiões prioritárias – Imperatriz (MA), Uberlândia (MG), Paragominas (PA), Meia Ponte (GO), Porto Seguro (BA), Dourados (MS), Guarapuava (PR) e Sinop (MT). Nesses pontos, foram feitas entrevistas com diferentes agentes, como motoristas e produtores rurais, sobre a situação das estradas vicinais.
Avaliação da qualidade das vicinais
No total, a percepção dos entrevistados foi de que 65% das vicinais tem uma qualidade péssima ou ruim. Apenas 8% classificaram como boas, 26% como regulares e menos de 1% como ótimas.
Entre os principais problemas com as estradas estão: atoleiros, excesso de pó, erosão, costela de vaca (trepidação), buracos, aderência e pontes danificadas.
O estudo divide as estradas vicinais entre terciárias e não classificadas. As primeiras seriam vias mais largas que fazem a ligação com rodovias estaduais ou federais. Já as segundas são estradas que costumam caber somente um automóvel e ligam as propriedades às estradas terciárias.
Conforme os pesquisadores, somente as estradas terciárias precisam de um investimento de R$ 10 bilhões anuais para se adequarem a um padrão mínimo e para manutenção. Para todas as vias vicinais, o valor estimado do investimento é de R$ 43,5 bilhões.
Durante o lançamento do estudo, o presidente da CNA, João Martins, destacou que a intenção do panorama é fazer uma varredura da necessidade atual com relação a essas vias. Além disso, os números poderão servir para políticas públicas do governo, liberação e gestão de orçamento e propostas legislativas.
“Baseado nesse conceito de que temos de olhar o Brasil como um todo, não olhar só os grandes produtores, mas temos de olhar o pequeno, aquele que vive no campo. E para isso, temos de mostrar ao governo, aos deputados, aos senadores e a todas as autoridades a realidade das nossas estradas mais vicinais. Para que entendam e conheçam a realidade desse Brasil, para ver se a gente consegue mudar”, enfatizou Martins.