Mapa já proíbe comercialização de leite de animais infectados pelo vírus da gripe aviária ou de propriedades sob restrição sanitária
A Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) emitiu um alerta de “atenção global urgente” para os frequentes casos de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP) em mamíferos domésticos e selvagens nos Estados Unidos. As autoridades internacionais estão preocupadas principalmente com a circulação contínua do vírus H5N1, que provoca a gripe aviária, em gado leiteiro norte-americano.
Em nota, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) disse que “o Brasil nunca registrou casos de IAAP em vacas. Portanto, não há diretrizes específicas para a comercialização de leite e derivados provenientes de vacas infectadas com IAAP no país”. A nota encaminhada à reportagem detalha as diretrizes para a comercialização de leite e derivados.
“No entanto, o Mapa possui diretrizes gerais para a comercialização de leite e derivados, que incluem a proibição da comercialização de leite obtido de animais sob restrição por ocorrência de doenças infecciosas, bem como a proibição de comercialização de leite obtido em propriedades que se encontravam sob restrição sanitária”, diz.
Segundo a pasta, o Brasil adota uma série de medidas rigorosas para monitorar e controlar a disseminação da IAAP, alinhadas às diretrizes internacionais. Essas medidas incluem:
Segundo o Mapa, nunca foi detectado nenhum registro de gripe aviária em aves comerciais. As ocorrências no país foram:
Os casos podem ser acompanhados no painel de Síndrome Respiratória e Nervosa das Aves do Mapa. Qualquer suspeita de IAAP deve ser imediatamente notificada ao Serviço Veterinário Oficial (SVO). As informações são compartilhadas com a comunidade internacional, especialmente com a Organização Mundial de Saúde (OMS).
“O Brasil participa ativamente das discussões e ações promovidas pela OMS para o controle da IAAP em nível global. O país segue as diretrizes e recomendações da organização, compartilha informações epidemiológicas e participa de grupos de trabalho e projetos de pesquisa em colaboração com outros países. O Mapa também mantém uma cooperação estreita com os serviços veterinários de países vizinhos para a harmonização de medidas de controle e prevenção da IAAP”, reforça a pasta.
De acordo com o Serviço de Inspeção de Saúde Animal e Vegetal do Departamento de Agricultura dos EUA, nos últimos 30 dias, foram registrados 67 novos casos confirmados de gripe aviária em gado nos estados da Califórnia e do Michigan.
Segundo a OMSA, ainda não foi identificada nenhuma adaptação específica do vírus a humanos ou mamíferos. No entanto, a circulação intensiva do vírus no gado leiteiro aumenta consideravelmente o risco de que essa adaptação ocorra. Se isso acontecer, o vírus pode se espalhar com maior facilidade para outros animais domésticos e, eventualmente, para humanos, ampliando o potencial de disseminação e representando uma ameaça mais grave à saúde pública.
No dia 6 de janeiro, uma pessoa morreu de gripe aviária no estado de Louisiana (EUA). A OMSA alerta que o risco para humanos atualmente é considerado baixo para o público em geral. No entanto, é considerado de baixo a moderado para aqueles expostos a aves e animais infectados ou a ambientes contaminados.
Embora o vírus afete principalmente aves domésticas e selvagens, ele tem sido cada vez mais relatado em mamíferos terrestres e aquáticos – mais de 40 espécies foram infectadas até novembro de 2024, segundo a OMSA. Esse número pode aumentar, já que os dados coletados pelo Sistema Mundial de Informação sobre Saúde Animal sugerem que os casos de gripe aviária no Hemisfério Norte tendem a aumentar em outubro e atingir um pico em fevereiro.
Diversos estudos estão sendo realizados para explorar melhor a patogênese e as vias de transmissão desses vírus, incluindo entre o gado e do gado para outros animais.
A gripe aviária é uma doença viral altamente contagiosa causada pelo vírus da Influenza A. Esse vírus é dividido em 16 subtipos de hemaglutininas (H) e 9 subtipos de neuraminidases (N). Segundo o Departamento de Saúde Animal do Mapa, o subtipo H5N1 é o mais predominante no atual período epidêmico.
Em aves, a IAAP é caracterizada principalmente pelas altas taxas de mortalidade, sem manifestação de sinais clínicos. Em outros casos, pode haver doença severa, com depressão intensa e sinais respiratórios e neurológicos. Pode ocorrer também cianose e focos necróticos na crista e na barbela, além de queda na postura e produção de ovos deformados, com casca fina ou sem pigmentação. Os sinais podem variar dependendo da espécie, da cepa e patogenicidade do vírus, do estado imunitário das aves, da presença de infecções secundárias e das condições ambientais.
Já o gado infectado apresenta quadros assintomáticos ou doenças leves, com sinais clínicos não específicos, como redução na produção de leite, com aparência mais espessa, semelhante ao colostro, diminuição do apetite, letargia, febre e desidratação.
Em seres humanos, pode ocorrer desde um quadro de infecção respiratória leve até a progressão rápida para desconforto respiratório, pneumonia grave e óbito. Outros sintomas incluem náusea, vômito, diarreia, febre alta e tosse seguida de dispneia ou desconforto respiratório. Dor de garganta ou coriza são menos comuns, segundo informações do Ministério da Saúde.
O vírus da IAAP é transmitido por secreções respiratórias, fezes e fluídos corporais, seja diretamente (proximidade hospedeiro-hospedeiro) ou indiretamente (água ou objetos contaminados) e ocasionalmente pode infectar mamíferos, incluindo seres humanos.
A introdução da doença em um país ou região ocorre por meio das aves migratórias, que, na maioria das vezes, são resistentes à IAAP e carregam os vírus por grandes distâncias. Segundo o Mapa, o contato direto ou indireto de aves silvestres infectadas com as aves domésticas é a principal fonte de surtos da doença na avicultura comercial ou de subsistência.
Ao Agro Estadão, o pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Luiz Caron, explicou que o vírus da IAAP “não se replica muito bem em bovinos”. Nesses casos, a transmissão ocorre, geralmente, pelos equipamentos de ordenha que são passados de uma vaca para outra.
Segundo Caron, o leite cru produzido pelas vacas infectadas é impróprio para consumo humano. Se o animal estiver em estágio inicial da doença, o leite pode passar pelo processo de pasteurização ou UHT (Ultra-high Temperature ou ultrapasteurização) e o vírus é desativado.
No entanto, a OMSA informa que o leite cru de vacas infectadas nos EUA são de alto risco. Segundo o comunicado, há evidências de transmissão do vírus de vacas lactantes infectadas para outros animais, como gatos e aves domésticas, além das outras vacas. Portanto, somente o leite produzido por vacas não infectadas, que tenha sido pasteurizado ou submetido a um processo semelhante de inativação do vírus, pode ser comercializado.
A transmissão para seres humanos ocorre em contato direto muito próximo, já que os receptores do vírus da gripe aviária ficam bem no fundo do sistema respiratório. “O ser humano tem que ter contato com alguma coisa que faça aerolização, como um pó, porque ele tem que descer profundamente e ter acesso aos alvéolos e aos brônquios lá no trato respiratório”, detalha Caron.
A OMSA orienta os países membro a: