Dólar, commodities e comércio mundial: o que acontece após o tarifaço? | Agro Estadão
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Dólar, commodities e comércio mundial: o que acontece após o tarifaço?

Exportações do agro brasileiro devem ser favorecidas com mudanças na geopolítica e nos fluxos comerciais globais

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Sabrina Nascimento | São Paulo | Atualizada dia 04/04/2025 às 9h35

03/04/2025 - 19:08

Foto: Adobe Stock
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No dia após o tarifaço de Donald Trump, os efeitos nos mercados globais foram de incerteza. Como efeito, o dólar recuou 1% frente ao real, encerrando a quinta-feira, 03, a R$ 5,62, no menor patamar desde outubro do ano passado. A desvalorização na moeda norte-americana puxou para baixo as commodities agrícolas nas bolsas  internacionais. 

Em Chicago, o contrato da soja para maio recuou 1,75%, a US$ 10,11 o bushel, enquanto o trigo caiu 0,60% para US$ 5,36 o bushel, já o milho fechou praticamente estável, com perdas de 0,05%, a US$ 4,57 o bushel. 

Na bolsa de Nova York, o café arábica finalizou a sessão em queda de 360 pontos, sendo negociado a US$ 385,25 centavos por libra peso (cents/lbp) no vencimento de maio de 2025. Por outro lado, o robusta apresentou uma valorização de US$ 5, alcançando US$ 5,371 por tonelada no mesmo vencimento.

Apesar dos recuos, o analista sênior de inteligência de mercado da Hedgepoint Global Markets, Ignacio Espinola, explica que a desvalorização do dólar pode impulsionar a competitividade dos grãos brasileiros. “O dólar mais fraco impacta as exportações americanas, tornando os produtos de outros países mais competitivos no mercado internacional”, afirma Espinola. 

O dólar seguirá em desvalorização?

No curto prazo, segundo o economista Roberto Troster, o dólar deve seguir perdendo força à medida que outras moedas, como o euro e o yuan (moeda chinesa), se valorizam. Segundo ele, esse movimento deve ser sustentado por dois fatores: a redução do fluxo financeiro para os Estados Unidos (EUA) e a perda de confiança no sistema financeiro do país. 

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Troster argumenta que, mesmo com um cenário de juros altos nos EUA, a moeda norte-americana seguirá desvalorizada. “Para mim, as perspectivas não são de valorização do dólar, não. Nesse contexto, o produtor [brasileiro] vai continuar com o cenário positivo”, disse.

Oportunidade para comprar insumos

Se, por um lado, a desvalorização do dólar pressionou para baixo as cotações das commodities na bolsa internacional, por outro, o quadro pode ser favorável ao agricultores, principalmente, na compra de fertilizantes.

Thais Italiani, gerente de inteligência de mercado na Hedgepoint Global Markets, lembra que um dólar mais fraco também impacta os custos de produção, principalmente no caso dos insumos, onde o Brasil importa cerca de 80% dos fertilizantes utilizados nas lavouras. “Muitas vezes, o foco está na venda, mas é essencial considerar os custos. Esse pode ser um momento estratégico para a aquisição de fertilizantes e a gestão do custo de produção”, ressalta.

Mudanças na geopolítica e no mercado global

O professor de geopolítica do laboratório de pesquisa de Relações Internacionais da FACAMP, James Onnig, destaca que a política tarifária adotada pelo governo dos EUA, anunciando tarifas diferentes para cada país, desencadeia mudanças geopolíticas e comerciais. 

Do ponto de vista geopolítico, os EUA buscam enfraquecer o multilateralismo, consolidado há décadas. “O governo norte-americano quer estabelecer relações bilaterais, país a país, evitando os blocos econômicos, pois considera que esses acordos desfavorecem os EUA”, explica. Esse movimento pode tornar o cenário mais fragmentado, mas não significa o fim das alianças comerciais através dos blocos, nem o fim da Organização Mundial do Comércio, apesar de desencadear um enfraquecimento da instituição. 

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Já no campo comercial, a imposição das tarifas sobre produtos de diversos países altera os fluxos de comércio que estavam estabilizados. “Historicamente, commodities e minérios fluíam do Ocidente para a Ásia, enquanto produtos manufaturados seguiam na direção contrária”, contextualiza. 

Segundo o especialista, com a postura protecionista, Trump quer evitar a entrada massiva de produtos estrangeiros, especialmente chineses e asiáticos, no mercado americano, estimulando a economia local e a geração de empregos. No entanto, o efeito pode ser reduzido, uma vez que novas fábricas são avançadas, sendo automatizadas e robotizadas, podendo gerar menos vagas de trabalho do que o planejado pelo republicano. 

Uma nova ordem mundial?

Com o cenário desenhado hoje, Onnig acredita em um 2025 marcado pela tentativa de construção de uma nova ordem mundial, menos multilateral e mais voltada para acordos bilaterais. 

Neste contexto, de acordo com o especialista, entra a oportunidade de acelerar o acordo Mercosul-União Europeia, que após décadas de negociação, teve o fechamento do texto final anunciado em dezembro do ano passado e agora precisa ser ratificado pelos congressos e parlamentos dos países membros de cada bloco econômico. “É um acordo que está aprovado praticamente, mas existem detalhes que precisam ser ajustados. Agora, acho que é importante acelerar”, comenta.

O professor ressalta, no entanto, que a questão da sustentabilidade ainda é um obstáculo, especialmente devido às preocupações europeias com a origem ambiental dos produtos brasileiros. “Isso pode ser um processo um pouco mais rápido. Eu não estou dizendo aqui que o licenciamento ambiental não tem que contar, tem que contar […] Mas, talvez, a partir dessas mudanças estruturais globais nós tenhamos aí algum ganho, e quem sabe aproveitar para fomentar tecnologia, desenvolvimento, porque tem vários campos que a gente pode começar a acelerar”, ressaltou Onnig.

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