Equipamento do Inpe tem capacidade de processamento 24 vezes maior e detalhamento espacial quatro vezes mais preciso
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) recebeu um novo supercomputador, que promete aperfeiçoar a previsão do tempo e os estudos climáticos no Brasil. Instalado em Cachoeira Paulista (SP), o novo sistema veio dos Estados Unidos e recebeu investimento de R$ 30 milhões. Segundo o Instituto, representa um salto na capacidade de processamento e armazenamento de dados climáticos do País.
Já em operação, porém em fase de testes, a nova máquina é 24 vezes mais potente que o sistema anterior e aprimora os modelos de previsão do tempo, de clima e ambientais. Além de apoiar o monitoramento de eventos extremos, o supercomputador fortalece estudos sobre mudanças meteorológicas e permite simulações mais detalhadas — fundamentais para a emissão de alertas e o planejamento de safras agrícolas.
Além disso, a grade de previsão do equipamento permite identificar fenômenos locais, como ondas de calor em áreas específicas de grandes cidades, tempestades intensas em regiões delimitadas e efeitos de serras e vales sobre o clima.
Na prática, esse avanço permite um detalhamento espacial quatro vezes superior ao que o Inpe tinha antes. “O objetivo é possibilitar previsões detalhadas, como por exemplo: ‘fortes chuvas com rajadas de vento na Zona Leste da capital, entre 16h e 18h’, diferenciando como será o tempo em regiões separadas por apenas 10 km de distância, além de indicar de forma mais objetiva o intervalo de ocorrência dos eventos climáticos”, explica José Antônio Aravéquia, Coordenador-Geral de Ciências da Terra do Inpe.
Segundo o coordenador, o novo sistema já traz ganhos práticos ao campo. “O supercomputador diminui o tempo necessário para processar previsões e eleva a precisão dos resultados. Antes, a previsão para dez dias levava cerca de três horas; agora, é feita em menos de duas”, afirmou.
Além disso, de acordo com Aravéquia, a capacidade de memória para processamento e arquivamento é “mais de 20 vezes superior”, o que permitirá o uso de observações de satélite de altíssima resolução e redes de estações de superfície. Esses dados alimentam o modelo de previsão desenvolvido pelo Inpe para gerar projeções climáticas mais realistas.
“As previsões meteorológicas de curto e médio prazo são essenciais para o agronegócio, pois chuva, temperatura e umidade afetam diretamente a produtividade e os preços das commodities”, explicou o pesquisador. “Com mais resolução e detalhamento espacial, poderemos aprimorar, por exemplo, a previsão de safra de uma cultura específica”, completou.
Outra aplicação importante é o estudo sobre mudanças climáticas. A expectativa é que o novo sistema amplie a geração de cenários futuros, essenciais para as comunicações nacionais à Convenção do Clima e para o Coupled Model Intercomparison Project (CMIP) — projeto internacional do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC).
Ainda de acordo com o Instituto, está prevista a compra de outros três supercomputadores até 2028, além de modernização da infraestrutura elétrica, do sistema de refrigeração e a implantação de uma usina fotovoltaica. O investimento total previsto é de aproximadamente 200 milhões de reais.