Regiões sul e sudoeste do estado enfrentam queda de produtividade, com impacto significativo na safra 2024/25
A estiagem em Mato Grosso do Sul, especialmente nas regiões sul e sudoeste, afetou mais de 1,7 milhão de hectares de soja. Juntas, essas áreas correspondem a 38% das lavouras de soja no estado. Segundo a Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja/MS), a situação pode impactar significativamente a produtividade total da unidade federativa.
“A estiagem prolongada e outros eventos climáticos adversos podem reduzir a produtividade das lavouras, afetando a produção total. Por enquanto, a média estimada para Mato Grosso do Sul é de 51,7 sacas por hectare (scs/ha). No momento, 30 municípios apresentam potencial produtivo abaixo dessa média”, disse o engenheiro agrônomo da Aprosoja/MS, Flávio Faedo, ao Agro Estadão.
O produtor rural Diogo Peixoto, do município de Amambai, conta que, em 30 dias, a estimativa foi de uma quebra de até 50% da safra do município, passando de 50 para 25 a 30 sacas na colheita. Segundo ele, a plantação vinha se desenvolvendo bem até o dia 20 de dezembro do ano passado.
“Deu um tamanho razoável, engalhou e enraizou muito bem. A parte radicular da planta ficou excelente e começou a soltar flores. A gente esperava uma produção bem alta. Mas a nossa fazenda ficou do dia 21 de dezembro até o dia 20 de janeiro sem chuvas. Isso acarretou em um prejuízo severo, porque era hora de encher o grão e não tinha água para fazer isso”, relata.
De acordo com a Aprosoja/MS, a baixa precipitação afetou especialmente os municípios da região sul de Mato Grosso do Sul, resultando em cerca de 30 localidades com produtividade abaixo da média estadual estimada. São eles:
A estimativa de produtividade da associação está próxima a da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgada no último Boletim de Acompanhamento da Safra Brasileira. Enquanto a Conab prevê 3.471 kg/ha, a Aprosoja/MS espera 3.102 kg/ha, considerando uma saca de 60 kg. Após a colheita de pelo menos 50% das áreas, a entidade irá atualizar a estimativa para esta safra.
Mesmo com a situação de estresse hídrico, o boletim da Conab aponta para um aumento de 22,9% da produtividade nesta safra em comparação com o ciclo 2023/24, quando a média era de 2.825 kg/ha.
Segundo a companhia, o plantio da cultura começou sob estresse hídrico moderado na região centro-sul do estado, com alguns pontos de forte restrição de água. Entre novembro e dezembro, os índices de chuvas normalizaram, com adequada distribuição espacial e temporal. Na região norte, houve registros de chuvas esparsas, mas os solos estavam com bons níveis de umidade, favorecendo o desenvolvimento e florescimento da cultura.
Em relação à produção, a expectativa é colher 14.763,6 mil toneladas de soja na safra 2024/25, um aumento de 26,7% frente às 11.651,1 mil toneladas do ciclo anterior.
O cenário meteorológico começa a mudar neste final de janeiro. Segundo o sócio-diretor e meteorologista da Nottus, Alexandre Nascimento, “volta a chover [de forma] um pouco mais regular no restante do verão no estado, mas o que já se perdeu não retornará mais. A chuva deve ficar mais frequente e o risco de ondas de calor diminui. [Tem] pequenas chances de invernada”.
Entre 29 de janeiro e 4 de fevereiro, deve haver a formação de um corredor de umidade que favorece a chuva acima da média nos estados do Centro-Oeste do país. De 5 a 11 de fevereiro, a previsão é que a chuva ultrapasse a média em Mato Grosso do Sul, porém na forma de pancadas intercaladas por períodos de tempo mais firme.
“Em situações mais graves, na qual a soja está com o ciclo mais adiantado, não há mais possibilidade de recuperação. Mas se a previsão de chuvas entre 178 e 203 mm se confirmar, isso pode trazer um alívio significativo para as lavouras nas quais estão terminando a fase de formação das vagens e iniciando o enchimento de grãos. No entanto, o impacto positivo dependerá da distribuição das chuvas”, avalia o engenheiro agrônomo da Aprosoja/MS, Flávio Faedo.
Confira a situação da estiagem no Rio Grande do Sul e em Mato Grosso.