Clima
Calor em excesso reduz a produtividade das lavouras
Levantamento de safra da Conab confirmou o que os produtores veem no campo: quebra devido às altas temperaturas

Fernanda Farias
07/02/2024 - 14:11

Quando o produtor rural Ivan Brucelli começou o plantio da soja em Rio Verde, sul de Goiás, a região já havia acumulado 100 milímetros de chuva. Era 24 de setembro do ano passado e o solo estava em condições de receber a semente. Nas semanas seguintes, o clima permitiu à planta nascer saudável. Mas no estágio de enchimento do grão, em meados de outubro, o excesso de calor na lavoura e a falta de chuva mudaram o rumo da produção.
No lugar do verde, plantas secas e murchas. A estimativa de produção dos primeiros 400 hectares não passou de 25 sacas/hec. “Era preciso plantar três hectares para colher o resultado de um hectare da safra passada, quando a produtividade alcançou 75 sacas/ hectare”, lembra, com preocupação.
O agricultor só não perdeu mais porque boa parte da área havia sido coberta de palhada, resíduos que garantem a proteção do solo. Mesmo assim, muitas plantas sofreram tombamento pelo calor. E a perda na lavoura dele deve ser de 30%, enquanto que na região, chega a 20%.
“As áreas sem palhada foram totalmente replantadas, porque a temperatura do solo pode chegar a 60 graus ou mais, o que é uma condição insuportável para as plantas”, afirma Brucelli. O presidente do sindicato rural de Rio Verde também desabafa: “Está muito difícil manter uma lavoura como no ano passado”.
Calor na lavoura de soja derrubou produção em 4,2%
A realidade dos agricultores da região sul de Goiás é a mesma de produtores de soja de outras áreas do país. E a expectativa de quebra na produção foi confirmada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), no último levantamento de safra divulgado em janeiro.
A Conab estima que o país produza 155,3 milhões de toneladas de soja, o que representa uma redução de 4,2% em relação à primeira projeção. A produtividade média caiu 2,2% diante de todos os eventos climáticos que ocorreram, especialmente na região centro-oeste. Com isso, os produtores devem colher 58 sacas por hectare.
No sul, produtores estão em alerta depois das chuvas
No Rio Grande do Sul, o excesso de chuva castigou as lavouras de arroz e milho e atrasou a semeadura da soja. O produtor do grão só começou a se preocupar com o excesso de calor em meados de dezembro passado, quando a seca já afetava outras regiões do país.
O gerente técnico da Emater RS, Luís Bohn está orientando os agricultores a adotar medidas preventivas para evitar que as altas temperaturas impactem na produtividade da soja em desenvolvimento. “Todos os anos, ficamos apreensivos com a chegada do verão, que é sempre muito intenso na nossa região, e neste, a preocupação é ainda maior vendo o que aconteceu nos outros estados produtores”, afirma.
Calor também afeta laranja, café, milho e algodão
Outras culturas também sofrerão quebra de safra por conta das altas temperaturas. Segundo a Conab, a produção deve cair 10% nas lavouras de milho.
Os produtores de algodão estão apreensivos quanto ao desenvolvimento da no centro-oeste. Mas o calor e a falta de chuva que fizeram um estrago na soja, deixaram a lavoura livre pra aumentar o plantio da pluma, especialmente em Mato Grosso e Goiás.
A seca causou estragos em duas frentes nas lavouras de café. No estágio da frutificação, prejudicou o desenvolvimento do fruto. E a combinação excesso de calor e falta de umidade facilitaram o aparecimento de pragas nas lavouras.
O impacto deve ser grande também na produção de laranja. A Associação Brasileira de Citros de Mesa ainda avalia os prejuízos, mas adianta que houve muitas perdas de frutas depois das ondas de calor em setembro e em dezembro passados.
“Frutas maduras, que já estavam prontas para serem colhidas, caíram do pé e foram perdidas”, conta o presidente da Associação Brasileira de Citrus de Mesa Carlos Alberto Lucato. O resultado já é sentido no mercado, com menor oferta e preços mais altos para o consumidor.

Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Clima
1
Geada: campos ficam congelados e produtores relatam impactos
2
Chuva dá trégua, mas frio continua no Sul do país
3
Onda de frio derruba temperaturas com alerta para geada e neve
4
Frente fria avança no Brasil e ameaça lavouras com geadas na próxima terça-feira
5
Risco de geada permanece no Sul e Sudeste; e chuva intensa no litoral do Nordeste
6
Saiba como proteger sua produção da geada

PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas

Clima
Tempo seco predomina no país e favorece avanço da colheita de milho
A ausência de frentes frias e a elevação das temperaturas beneficiam regiões produtoras no Sul, Sudeste e Centro-Oeste

Clima
Risco de geada permanece no Sul e Sudeste; e chuva intensa no litoral do Nordeste
Inmet alerta para a seca no Centro-Oeste, onde a umidade do ar pode atingir níveis entre 30% e 20%

Clima
Lavouras do RS e PR já refletem impactos das chuvas e geadas
Áreas com plantio de grãos são as mais afetadas; frio deve continuar, mas sem grandes chances de geadas generalizadas

Clima
Geada na lavoura: destrói ou protege?
Além dos prejuízos, a geada pode trazer benefícios, como controle de pragas e melhoria da estrutura do solo, impulsionando a produção em algumas culturas
Clima
Chuva dá trégua, mas frio continua no Sul do país
No RS, mínimas podem variar entre 0°C e -3 °C em cidades como Bagé, Livramento, Vacaria e São José dos Ausentes
Clima
Frente fria provoca novos temporais no Sul neste fim de semana
Chuvas previstas se concentram principalmente na faixa leste do país, do Rio Grande do Sul até o sul da Bahia
Clima
Geada: campos ficam congelados e produtores relatam impactos
Frio intenso beneficia culturas de inverno e o fenômeno de dormência das frutas, mas produtores temem perdas com as baixas temperaturas
Clima
Saiba como proteger sua produção da geada
Com a previsão de geada no Sul, avançando para SP e MS, técnicos recomendam medidas preventivas em áreas agrícolas