Lideranças do setor alertam para “perda” ao agronegócio do Brasil, caso haja um acordo comercial entre EUA e China
Em um momento em que o agronegócio brasileiro é pressionado por tensões comerciais internacionais e incertezas domésticas, lideranças políticas e do setor produtivo se reuniram nesta terça-feira, 06, para debater os rumos do setor. Durante o evento “Cenário Geopolítico e a Agricultura Tropical” realizado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em parceria com o Estadão e a Broadcast, um cenário complexo foi traçado.
O deputado federal Pedro Lupion (PP-PR), presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) alertou para a crescente dependência brasileira em relação ao comércio com a China. “Eu tenho receio muito claro de uma possibilidade desse processo [possível acordo comercial entre EUA e China], pois cerca de 52% das nossas commodities vão para a China”, disse.
Segundo ele, qualquer mudança na balança entre China e Estados Unidos (EUA) pode provocar um “terremoto” no agronegócio brasileiro. A preocupação vem especialmente diante da possibilidade de negociações bilaterais entre as duas potências, que poderiam colocar o Brasil em desvantagem. Ainda assim, o deputado defende a manutenção de uma relação sólida com os chineses. “É uma necessidade manter esse comércio de produção”, salientou.
A preocupação com um possível acordo entre as duas maiores potências econômicas do mundo também foi indicado pelo presidente da CNA, João Martins. “Nesse caso, o agronegócio brasileiro vai pagar um preço alto”, afirmou. De acordo com Martins, quando há um acordo entre dois grandes países, outra nação perde, e, neste caso, será o Brasil. Além do mais, o dirigente indicou ainda que, não será fácil para o agro brasileiro, se Trump decidir recuar de sua política de tarifaço, com o agro perdendo espaço.
Enquanto o mercado asiático se mostra estável — ainda que concentrado —, as negociações com a União Europeia (UE) surgem como alternativa, principalmente, com o acordo comercial entre Mercosul e UE. No entanto, há barreiras que ainda precisam ser vencidas. “Estamos negociando, principalmente com o Sul da Europa, para tentar desfazer essas narrativas [de desmatamento] impostas lá pela UE”, afirmou Lupion, referindo-se às exigências ambientais cada vez mais rígidas impostas pelo bloco.
Segundo Martins, hoje, o maior problema para avançar com o acordo é o protecionismo europeu. “Apesar do discurso europeu de querer ser parceiro do Brasil, o protecionismo ainda predomina”, destacou.
Apesar das pressões externas, de acordo com a senadora e ex-ministra da Agricultura, Tereza Cristina, os maiores desafios do agro ainda estão dentro de casa. “Não dá para, todo ano, chegarmos no meio do ano e estarmos negociando para ver o que sobrou do orçamento”, comentou.
Ela defende um modelo de financiamento com previsibilidade e planejamento plurianual. “O Brasil é o grande concorrente dos EUA, mas o problema é a falta de infraestrutura e armazenagem. Hoje temos três safras, mas só um terço da produção é financiada pelo governo. O resto vem das tradings e dos próprios produtores”, disse.
Tereza Cristina reforçou que o crédito rural é um dos maiores gargalos. “Além disso, não temos seguro rural efetivo. Isso não pode continuar sendo adiado. Precisamos de uma política estruturada”, disse, ressaltando que, sem seguro rural e sem infraestrutura adequada, o país continuará vulnerável, tanto às pressões externas quanto às próprias limitações internas.