Países antagonistas ao acordo chamam de “concorrência desleal” e prevêem uma “inundação de produtos agrícolas da América do Sul” em seus territórios
Na Europa, o anúncio do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, realizado nesta sexta-feira, 06, está dividindo opiniões. Enquanto a Alemanha apoia os termos estabelecidos, ao que tudo indica, a França ganhou o apoio do setor agrícola da Itália na ofensiva de oposição.
Em publicação na rede X, o chanceler alemão, Olaf Scholz, afirmou que “um obstáculo importante ao acordo foi superado”. De acordo o chanceler, “isso criará um mercado livre para mais de 700 milhões de pessoas, juntamente com mais crescimento e competitividade”.
Contrariando a percepção otimista de Olaf, a ministra de Comércio Exterior da França, Sophie Primas, disse que a luta contra o acordo ainda não acabou. O país tem liderado a ofensiva em oposição ao tratado. “O que está acontecendo em Montevidéu não é uma assinatura do acordo, mas a conclusão política da negociação. Isso não vincula os estados-membros. Agora, cabe ao Conselho Europeu e depois ao Parlamento Europeu expressar suas opiniões. A França lutará em todas as etapas ao lado dos estados-membros que compartilham sua visão”, escreveu Sophie em sua conta no X.
Além da França, a Polônia e a Holanda também defendem uma concorrência desleal com os produtos agrícolas de seus países. Nesse movimento, juntaram-se representantes do agro italiano nesta sexta-feira. Juntos, os quatro países representam cerca de 41% da população da União Europeia. O que, em tese, seria possível barrar uma decisão do Conselho Europeu — atualmente, para que isso ocorra, é necessário o apoio de quatro países que representam, ao menos, 35% da população total do bloco.
Em nota, a Confederação dos Agricultores Italianos (CIA, na sigla em italiano), informou não se opôr, em princípio, aos acordos comerciais bilaterais. “No entanto, o acordo UE-Mercosul parece muito desequilibrado, impactando setores sensíveis que podem sofrer a concorrência esperada de Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai”, disse a nota.
“Esperávamos que esta nova Comissão considerasse a agricultura um setor estratégico, mas o sinal atual parece ir na direção oposta”, enfatizou a CIA. Na visão do presidente nacional da entidade, Cristiano Fini, o setor agroalimentar europeu está em risco de forte penalização devido à liberalização de 82% das importações agrícolas da América do Sul.
Ainda segundo a posição da Confederação, “para a Itália, o risco é ser inundada por produtos agrícolas da América do Sul, com a eliminação de tarifas e barreiras”. “A CIA ressalta que a UE possui os mais altos padrões em segurança alimentar, meio ambiente, saúde e bem-estar animal, que garantem o sucesso dos produtos agroalimentares europeus globalmente. Concorrência de produtos que não respeitam a reciprocidade das regras comunitárias coloca esse equilíbrio em perigo”, finaliza.
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