Produto inoculante com base em dois grupos de microrganismos está na fase final de testes
Uma pesquisa feita pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Florestas criou uma coleção com mais de mil bactérias que podem ser utilizadas como base de bioinsumos voltados ao setor florestal. De acordo com a pesquisadora responsável pelo estudo, Krisle da Silva, esse acervo vai ajudar a encontrar novas alternativas para esse setor que ainda carece de inovações na direção do uso dos biológicos.
“No setor agrícola essa parte de bioinsumos está muito consolidada e no setor florestal ainda é um pouco novo, além de que não há nada no mercado tão destinado para o setor florestal”, comenta Silva, que também ressalta o papel desse setor. Dados do último Relatório Anual da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá) mostram que em 2022 esse segmento da economia movimentou R$ 260 bilhões e totalizou 9,94 milhões de hectares de floresta plantada.
O estudo começou em 2018 e desde então vem catalogando bactérias para diferentes funções, como melhoria no enraizamento de mudas, aumento da eficácia da adubação, controle biológico, resistência ao estresse hídrico, entre outros. Silva conta que o trabalho selecionou bactérias não apenas de culturas florestais tradicionais, como pinus e eucaliptos, mas também de solos da Amazônia, da pupunheira e até de formigas.
A investigação científica também está avançando sobre outros organismos, como os fungos. “A gente também tem alguns fungos que estamos estudando para ver qual é a viabilidade deles, a aplicabilidade deles como promotores de crescimento”, revela a especialista.
Como pontua a pesquisadora, essa coleção vai servir como referência para outras pesquisas envolvendo o melhoramento genético e a confecção de produtos. “Esse acervo é um recurso genético que está ali preservado para manter suas características essenciais por um longo período”, acrescenta ao Agro Estadão.
A partir da coleção, o grupo da Embrapa Florestas também está na fase final do desenvolvimento de um produto inoculante destinado para pinus e eucaliptos. Silva explica que devido às diferenças, o desenvolvimento de bioinsumos para essas culturas demora um período maior do que para grãos, por exemplo. Por isso, a expectativa é de que a fase final dos testes dure até dois anos.
“Chegamos nas melhores [estirpes] e agora vamos para os testes finais e para o desenvolvimento de um produto na forma de inoculantes. Estamos nessa etapa de recomendação e desenvolvimento do produto”, explica a pesquisadora.
A base desse novo bioinsumo deve ser dois grupos de bactérias. Um com quatro microrganismos que atuam no enraizamento de estacas e outro com cinco que facilitam a solubilização do fósforo. Silva não adiantou as taxas de melhoria com as bactérias, mas afirma que houve uma redução na adubação fosfatada e os “resultados são promissores”.
Além disso, também foi identificado que algumas dessas bactérias exercem uma multifunção, o que pode conferir mais valor ao bioinsumo. “A gente já viu também que essas [bactérias] que melhoram o enraizamento também parecem ajudar a planta a tolerar o estresse hídrico”, complementa a especialista.
Siga o Agro Estadão no Google News e fique bem informado sobre as notícias do campo.