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Agricultor familiar perde toda criação de vacas e porcas em inundação: “sobrou só uma, nem sei como sobreviveu”
O agricultor familiar Mauro Soares é um dos poucos que criam a raça crioula; ele passou três dias no forro da casa fugindo da inundação
Fernanda Farias | Agro Estadão
15/05/2024 - 16:37

Aos 61 anos, o agricultor familiar Mauro Soares ainda se recupera da experiência que viveu na inundação que aconteceu há duas semanas no Rio Grande do Sul. Foram três dias no forro da casa de dois andares, um espaço apertado em que mal era possível ficar em pé. A água quase chegou – alcançou quatro metros de altura. (Confira vídeo no fim da reportagem)
No começo eram só ele, a esposa e sete cães. Depois veio a mãe, uma idosa de 85 anos que também teve a casa inundada. Em seguida, um vizinho. E se o lugar físico não comportava mais gente, o sentimento de solidariedade e humanidade fez abrir espaço. “Eles tavam agarrados nas árvores, porque o galpão que tinham subido desabou”, conta o agricultor sobre o grupo de cinco pessoas resgatado por um voluntário num caiaque e que foi abrigado no lugar mais próximo e seguro – o forro da casa do seo Mauro.

Com uma motosserra, ele abriu um buraco na telha de alumínio e dali pôde ver a enxurrada devastar a propriedade. “A gente estava acostumado a conviver com enchentes, mas não imaginava que teria essa proporção”, contou seo Mauro, lembrando que nunca a água da enchente tinha chegado até a casa dele em mais de 20 anos morando ali.
Mas desta vez a água chegou, inundou e levou tudo – trator, carro, maquinário, animais. Seo Mauro e a esposa conseguiram salvar algumas roupas e sapatos, e nada mais. Na hora de ir para o forro, o casal ainda pegou alguns alimentos, que mais tarde seriam compartilhados.
De todos os animais, uma porca sobreviveu à inundação
A produção de legumes e hortaliças tinha o consumo próprio como prioridade, mas o que sobrava era vendido, conta o agricultor familiar. O relato do seo Mauro ganha um tom emocionado quando ele fala sobre os animais perdidos na inundação. “Umas 44 cabeças de vacas e terneiros, 15 suínos, que a gente contava com isso para ir sobrevivendo… e agora não tem, acabou”.


Ele só não perdeu “tudo”, porque uma porca sobreviveu – e ele nem sabe como isso foi possível diante de tanta água. O animal é da raça moura, de origem crioula que teve a população reduzida ao longo das décadas. O criador conta que é um dos poucos que ainda mantinha criação no Rio Grande do Sul. “É uma semente crioula que a gente mantém. Eu não queria perder isso. O pessoal pede pra continuar… estão dando apoio”.
“Sobrou uma leitoa só. Não sei como sobreviveu, ela estava caminhando em cima dos telhados. Quando baixou a água um pouco, consegui resgatar.”
Mauro Soares – agricultor familiar do RS
A ideia de continuar produzindo ganha mais força, mesmo com a decepção por ver a água e a lama destruírem uma vida inteira de trabalho. Instalado em uma propriedade próxima da antiga casa, seo Mauro conversou por telefone com o Agro Estadão durante cerca de 20 minutos. Em alguns momentos, dava para ouvir os pássaros cantando ao fundo, como se comemorassem a melhora no clima. “O sol apareceu hoje!”, também comemorou o produtor.

Seo Mauro diz que só está esperando a água baixar para buscar os sete cães que deixou protegidos no forro da casa. E com o otimismo peculiar ao homem do campo e a garra característica do gaúcho, dá uma lição ao desânimo. “As coisas materiais a gente reconstrói. A vida continua… o importante é que a gente ajudou a salvar vidas”.
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