Brasil deixou de embarcar 1,7 milhão de sacas de café até outubro, com uma perda potencial de receita cambial de US$ 489,7 milhões
O ano de 2024 ainda não terminou, mas as exportações de café já atingiram um recorde anual de 46,4 milhões de sacas. Segundo o relatório estatístico mensal do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), o resultado supera em 3,7% o maior volume já registrado na história, em 2020, de 44,7 milhões de sacas. Na comparação com os embarques entre janeiro e novembro do ano passado, a evolução é de 32,2%.
Em receita, o desempenho no período também é recorde. Nos primeiros onze meses deste ano, o Brasil arrecadou US$ 11,3 bilhões com as exportações de café — aumento de 22,3% em relação ao recorde anterior (US$ 9,2 bilhões em todo o ano de 2022). Esse valor também representa um crescimento de 56% em comparação com o mesmo período do ano passado.
No recorte de novembro, o país exportou 4,6 milhões de sacas de 60 kg, resultando em um incremento de 5,4% em relação aos 4,4 milhões de sacas embarcadas no mesmo mês de 2023. Em receita cambial, o crescimento é de 62,7%, saltando de US$ 825,7 milhões em novembro do ano passado, para US$ 1,3 bilhão.
Na avaliação do presidente do Cecafé, Márcio Ferreira, na teoria, a performance das exportações do setor deveria ser um motivo para comemorar, porém, “a realidade é um pouco mais cruel”. “Esse desempenho recorde ocorre devido ao profissionalismo e à criatividade dos exportadores associados ao Cecafé, que buscaram alternativas, como o embarque via break bulk, e vêm arcando com milionários gastos adicionais em seus processos de exportação devido à falta de infraestrutura, especialmente nos portos brasileiros, para honrarem os compromissos com os clientes internacionais dos cafés do Brasil”, frisou Ferreira em nota.
Constantes atrasos nos embarques em 2024, mudanças nas escalas de navios para exportação e frequentes rolagens de cargas resultaram em um acúmulo de 1,7 milhão de sacas de café não embarcadas até outubro — equivalente a 5.2 mil contêineres, segundo levantamento do Cecafé junto aos exportadores associados.
Considerando o preço médio da saca e a cotação do dólar no período, esse volume representa uma perda potencial de receita cambial de US$ 489,7 milhões — algo em torno de R$ 2,7 bilhões.
A situação é agravada pelos custos extras enfrentados pelos exportadores para cumprir seus compromissos. “Devido aos entraves logísticos nos portos brasileiros, nossos associados acumularam um prejuízo portuário de R$ 7 milhões em outubro, englobando despesas adicionais com armazenagem, detentions [taxa pelo uso de contêineres além do tempo permitido], pré-stacking e antecipação de gates”, ressalta Márcio Ferreira. Segundo ele, no acumulado de 2024, esses gastos já somam R$ 30,4 milhões, “evidenciando que, mais do que obsoleta, a infraestrutura logística nacional carece de atenção para que nosso país possa exercer sua excelência no agro”.
Nos primeiros cinco meses da safra 2024/25, o Brasil exportou mais de 22 milhões de sacas de café, gerando uma receita de US$ 5,9 bilhões. Esses números representam aumentos de 16,5% no volume exportado e 61,4% na receita, em comparação ao mesmo período entre julho e novembro de 2023.
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