Com a nova tarifa dos EUA, a carne bovina brasileira pode custar US$ 8.500 a tonelada no mercado norte-americano
Depois do anúncio dos Estados Unidos de tarifar em 50% todos os produtos brasileiros, o mercado do boi gordo abriu nesta quinta-feira, 10, travado e com as cotações em baixa. Segundo a Agrifatto, nos contratos futuros a arroba já está 1,1% abaixo do valor praticado nesta quarta, 9. Para setembro, por exemplo, o valor baixou de R$ 322,00/@ para R$ 318,00/@. Enquanto no mercado físico, o preço negociado já está R$ 10,00 a menos que a média nacional, que foi de R$305,00/@, nesta quarta.
Em entrevista ao Agro Estadão, Lygia Pimentel, analista e diretora da Agrifatto, diz que muitas indústrias estão fora das compras para ajustar suas programações. “A carne produzida hoje entraria para embarque em agosto. Muita indústria vai correr para pegar a tarifa antiga”, disse.
Ela explica que ainda há dúvidas dentro da indústria sobre a aplicação da tarifa de 50%. Isso porque o setor já trabalhava com uma taxa de 10% até uma cota de 65 mil toneladas; depois, a tarifa passa para 26% para o volume excedente à cota. A dúvida, segundo ela, é se os 50% serão somados, chegando a 76%. “Falei com duas indústrias e as informações foram diferentes, mas eu estou propensa a achar que será 76%, pelo conteúdo da carta do Trump ”, avalia.
A analista ainda explica que hoje a tonelada da carne bovina vendida para os Estados Unidos custa, em média, US$ 5.720 por tonelada. Com a aplicação da tarifa, a carne do Brasil passaria a custar cerca de US$ 8.500 a tonelada — valor mais alto do que o Japão paga pelos cortes mais nobres. “Não faz sentido isso. Vai acontecer uma dança das cadeiras. Os Estados Unidos vão tirar o Brasil e vão comprar do Paraguai, Uruguai, Argentina e Austrália, possivelmente da Colômbia”, disse.
Para a analista, não é algo impossível para esses países abastecerem o mercado norte-americano com o volume exportado pelo Brasil, mas esses mercados deixarão de atender outros países compradores, que passarão a adquirir do Brasil. Com isso, segundo a analista, o mercado tende a se reequilibrar a longo prazo.
Os Estados Unidos são o 12° principal destino das exportações de carne suína, com 14,9 mil toneladas exportadas entre janeiro e junho, gerando receitas de US$ 31,6 milhões no período. Já para as remessas de ovos, o mercado norte-americano é relevante, com 15,2 mil toneladas exportadas no primeiro semestre, gerando receitas de US$ 33,1 milhões – aponta a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que informa ainda que o Brasil não exporta carne de frango para esse destino.
No entanto, em nota, a ABPA vê com “preocupação as tratativas entre os Governos do Brasil e dos Estados Unidos”, por conta da relevância deste mercado para as cadeias produtoras. “Exatamente por isso, o setor produtivo confia que as negociações se mantenham dentro do mais alto nível das tratativas comerciais e que tenhamos uma rápida solução diplomática”, diz o comunicado.
Na análise da Markestrat, sendo os Estados Unidos o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China, os efeitos desta tarifa tendem a ser severos sobre os produtos exportados do agronegócio. “Nesse cenário, o impacto da tarifa recairá não apenas sobre o exportador brasileiro, mas também sobre o consumidor americano”, disse José Carlos, analista e diretor da Markestrat
Para o analista, a resposta do presidente americano veio logo depois da reunião dos BRICS, na última semana, no Rio de Janeiro. Um claro sinal de que Donald Trump vai adotar uma “linha dura” contra países que buscam desdolarizar suas relações comerciais.