Economia

Dólar dispara e bate R$ 6: como fica o agro

Valorização da moeda deve estimular mais recordes nas exportações de carnes, mas impacto em grãos deve ser limitado no curto prazo

Nesta quinta-feira, 28, o dólar comercial disparou e atingiu R$ 6 pela primeira vez na história do Brasil, reagindo à fala do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre o pacote fiscal do governo. O ponto de atenção do mercado é o impacto do anúncio do aumento da faixa de isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais.

Em pronunciamento na quarta-feira, 27, Haddad disse que a iniciativa será compensada com elevação da taxação para quem ganha acima de R$ 50 mil por mês. Na véspera do anúncio, o dólar já havia encerrado o dia no maior patamar da história — R$ 5,91.

Para o agro, a alta do dólar tem efeito dúbio: ao passo que melhora a rentabilidade com as exportações de produtos agropecuários, também aumenta o custo com insumos importados, como fertilizantes.

Segundo o analista de mercado, Vlamir Brandalizze, um dólar em alta neste momento do ano deve beneficiar novos acordos e contratos de embarque do setor de carnes, que estão batendo recordes consecutivamente. “Abre oportunidade para os exportadores fazerem contratos para garantir dólar futuro, em nível alto, que vai favorecer os embarques futuros”, destaca Brandalizze.

Já o complexo de grãos não deve sentir reflexo positivo no curto prazo. Isso porque as bolsas nos Estados Unidos não operam nesta quinta-feira, 28, devido ao feriado de Ação de Graças no país e na sexta-feira, 29, ainda é esperado um dia morno para as negociações. “Se fosse um dia normal, certamente a gente ia ver crescer bastante os negócios futuros para aproveitar esse dólar. […] Vai depender agora dele [o dólar] sustentar esses patamares para a semana que vem”, pontua Vlamir.

Crédito mais caro

Na outra ponta da gangorra da perda de competividade do real frente ao dólar, a Markestrat explica que, o câmbio alto encarece mercadorias importadas, ocasionando aumento nos custos de produção e perda de poder monetário por parte da população.

Alem disso, o agro pode sofrer com crédito mais caro. “Se o receio do Banco Central com o retorno da inflação foi a tônica que justificou elevar a taxa básica de juros Selic para 11,25% em 6 de novembro, fato é que todo o Brasil está sendo exposto a ritmos maiores de encarecimento do crédito a partir de agora”, contextualiza a consultoria em relatório.

Com o cenário atual, a consultoria acredita que o Comitê de Política Monetária (Copom) pode optar, na reunião de dezembro, em elevar para “11,75% ou até mesmo 12%” a Selic. “Se até essa reunião do Copom o real prosseguir em desvalorização, a condição que se põe na mesa é simples: ou o Banco Central aumenta os juros para tentar segurar a disparada no câmbio, ou o governo mostra comprometimento com o Brasil e revisa os próprios interesses para 2026”, destacam os especialistas.

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