Aberturas podem render US$ 450 milhões a mais para o Brasil ao ano
A visita do presidente chinês Xi Jinping a Brasília (DF) selou a abertura de quatro novos mercados e acordos de cooperação técnica no setor agropecuário. Os novos mercados são para os produtos: uva frescas, gergelim, sorgo e produtos derivados de peixe. Os protocolos e entendimentos foram firmados nesta quarta-feira, 20, no Palácio do Alvorada com a presença do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
“A China é o maior parceiro comercial do Brasil desde 2009. Em 2023, o comércio bilateral atingiu recorde histórico de US$ 157 bilhões. O superávit com a China é responsável por mais da metade do saldo comercial global do Brasil. […] O agronegócio continua a garantir a segurança alimentar chinesa. O Brasil é desde 2017 o maior fornecedor de alimentos para a China”, afirmou Lula no discurso durante a visita.
Ao todo, os governos assinaram 37 atos em diversas áreas e setores da economia. De acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), os documentos envolvendo os mercados estabelecem as normas fitossanitárias e sanitárias para a venda desses produtos ao país asiático. Confira abaixo os acordos que envolvem o Agro:
O presidente Lula também anunciou o investimento da empresa brasileira BRF na compra de uma fábrica chinesa. “A BRF deverá investir cerca de US$ 80 milhões na aquisição de uma moderna fábrica para processamento de carnes na província de Henan, na China”, pontuou Lula.
Em fato relevante divulgado também nesta quarta, a empresa comunicou a aquisição da Henan Best Foods, subsidiária da norte-americana OSI Group, por US$ 43 milhões. Além disso, a empresa prevê um investimento estimado em US$ 36 milhões para expansão das linhas de produção de hambúrguer. Com isso, a expectativa é de que a capacidade de processamento de alimento salte de 28 mil toneladas por ano para 60 mil toneladas anuais.
A finalização do negócio ainda depende da aprovação dos órgãos regulatórios e uma reorganização societária dos ativos que compõem a fábrica. A previsão é que a unidade esteja já funcionando sob direção da BRF a partir do primeiro trimestre de 2025.
“O investimento representa uma oportunidade significativa para expandir a base de clientes e impulsionar as vendas da Companhia. A decisão também potencializa o uso da matéria-prima brasileira, valorizando recursos locais e fortalecendo cadeias de valor sustentáveis e de alta qualidade”, disse a empresa em nota.
A expectativa é de que os quatro novos mercados gerem uma receita anual de US$ 450 milhões por ano. Mas há potencial para ampliar o faturamento, já que a China chega a importar cerca de US$ 7 bilhões desses produtos.
Segundo o Mapa, as exportações da fruta devem sair principalmente dos estados de Pernambuco e Bahia. O país asiático é um consumidor principalmente de uvas premium e em 2023 somou US$ 480 milhões na importação dessas frutas.
A Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas) comemorou o acordo. Em nota, a entidade analisa a abertura do mercado chinês como oportunidade para novos negócios. Ainda de acordo com a Abrafrutas, “essa conquista consolida o Brasil como um dos maiores produtores mundiais de frutas de alta qualidade”.
Os produtos contemplados no acordo são: farinha, óleo, gorduras e proteínas de pescado destinados à alimentação animal. A matéria-prima dos produtos precisa vir de pescados capturados no mar ou criados em cativeiro ou de subprodutos provenientes de estabelecimentos que tratam de pescado para consumo humano.
Para vender o produto aos chineses, as empresas brasileiras precisam implementar o sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) ou um sistema de gerenciamento com os princípios do APPCC. Além disso, precisam ter um sistema para garantir o recall e rastreabilidade dos produtos, estarem aprovadas pelo Mapa para a exportação e estarem registradas pelo governo chinês. O registro terá a validade de cinco anos.
Somente em farinha de peixe, os chineses compraram US$ 2,9 bilhões no ano passado e foi o principal destino das vendas internacionais deste produto.
A China é a maior compradora de gergelim do mundo, com 36,2% das importações globais e uma receita de US$ 1,53 bilhão em 2023. Já no sorgo, o país asiático negociou US$ 1,83 bilhão no cereal, sendo os Estados Unidos o principal vendedor.
Um dos acordos firmados durante a visita é para impulsionar a imagem do setor agropecuário brasileiro na China. Como explica a diretora de Relações Internacionais da CNA, Sueme Mori, a intenção é fazer um intercâmbio na divulgação sobre o setor nos dois países.
“O principal objetivo é levar informações sobre o Agro brasileiro para a China e trazer informações sobre o Agro, sobre o meio rural chinês, para o Brasil. A China é o principal destino do Agro brasileiro e o Brasil é o principal fornecedor de alimentos para a China. Apesar disso, exite um desconhecimento desses dois lados . Então a ideia é a gente construir conteúdos juntos”, comenta ao Agro Estadão.
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