CNA é a favor de abertura de novos mercados e vê oportunidade ainda neste ano para discussão do tema
Uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) calculou cenários em um eventual acordo de livre comércio Mercosul-China. O setor mais beneficiado seria o da agropecuária, com um incremento de US$ 14,6 bilhões nas negociações com o país asiático entre 2024 e 2035.
De acordo com o estudo, o segmento de carne suína e de aves teria uma expansão de 15,7%, o que corresponde a aproximadamente US$ 5 bilhões a mais. Sementes oleaginosas, como soja, teriam R$ 2,1 bilhões a mais e óleos vegetais mais R$ 1,8 bilhão.
No caso da carne bovina, a pesquisa vê que o “ganho registrado na produção de carne de bovinos seria pequeno (US$ 235,9 milhões)”. Porém, os pesquisadores ressaltam que houve crescimento nas vendas brasileiras nos últimos anos, sendo “possível especular que os ganhos efetivos seriam bem maiores, considerando o rápido crescimento da demanda chinesa e o fato de que o Brasil vem ocupando espaço de outros fornecedores internacionais”.
Em contrapartida, alguns itens perderiam espaço. É o caso das fibras naturais, que teriam um recuo de 6%, aproximadamente US$ 167,9 milhões, e do arroz, que teria uma perda de 5,8% correspondente a US$ 265,2 milhões.
Apesar dos resultados, a pesquisa também alerta que os ganhos gerais podem ser diferentes, já que a base de dados é de 2014. “É muito provável que os efeitos setoriais do acordo seriam diferentes caso os dados básicos fossem mais recentes”, afirmam os pesquisadores.
Atualmente, não existe um trabalho efetivo de negociação entre o Mercosul e a China para um acordo de livre comércio. No entanto, na visão da diretora de Relações Internacionais da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Sueme Mori, há uma oportunidade para iniciar a discussão sobre o assunto e o estudo pode ajudar nessa reflexão.
“Neste ano estamos fazendo 50 anos das relações diplomáticas Brasil-China, então acho que é um momento bom para fazer essa reflexão sobre a nossa relação com a China. […] Os 50 anos, a vinda do Xin Jinping [presidente chinês] para o G20, tudo isso gera um momento apropriado para a gente discutir a nossa relação com a China”, comenta a diretora ao Agro Estadão.
Apesar disso, Mori pondera que um acordo desse nível não é uma decisão setorial e nem mesmo só de um país, já que envolve um bloco econômico. Além disso, tem que ser avaliado outros aspectos já que a mesma pesquisa também traz que setores como da indústria têxtil, artigos de vestuário e de produtos eletrônicos registrariam perdas com a concorrência de mercado.
A especialista em assuntos internacionais também analisa que as tensões geopolíticas podem influenciar nas questões comerciais, mas não coloca isso como um empecilho para possíveis acordos. “A nossa diplomacia é muito experiente e conhecida pelo pragmatismo, o que beneficia muito nas questões comerciais, assim como as tensões geopolíticas. É preciso estar atento a isso, mas mantendo o pragmatismo, principalmente no Agro”, afirma.
Na última semana, a CNA assumiu a presidência rotativa da Federação das Associações Rurais do Mercosul (Farm). A reunião que oficializou a nova presidência até setembro de 2025 aconteceu em Montevidéu, no Uruguai.
“A gente tem uma proposta, um desenho inicial de um plano de trabalho e que está bem permeado de um fortalecimento da atuação como bloco em defesa diante de medidas protecionistas, unilaterais, como a legislação antidesmatamento da União Europeia”, disse a diretora da CNA que participou do evento.
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