Movimento de alta perde intensidade diante de aumento da oferta; expectativa é de recuo das cotações do leite cru no 3° trimestre
O preço do leite pago ao produtor vem subindo desde o início deste ano e acumula uma alta de 32,1% até julho (captação em junho). Porém, a média do primeiro semestre, de R$ 2,46 por litro, fica 14,3% abaixo da média de igual intervalo do ano passado (os valores foram deflacionados pela inflação/IPCA de junho).
Conforme pesquisa do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, diante da captação no sexto mês do ano, a ser paga em julho, observa-se uma perda na intensidade das altas. Frente a maio, a valorização foi de 1,3%, em termos reais, de modo que a “Média Brasil” foi de R$ 2,75 por litro.
A perda no ritmo de valorização em junho de 2024 se explica, sobretudo, pelo aumento acima do esperado da oferta nacional, explica a pesquisadora do Cepea, Natália Grigol. “Mesmo com o atraso da safra no Sul e com a seca no Sudeste e no Centro-Oeste, a produção de leite vem se recuperando devido a investimentos de produtores na nutrição do rebanho, estimulados pelo incremento da margem nos últimos meses”, comenta Grigol.
O Índice de Captação Leiteira (ICAP-L) do Cepea avançou 4,14% em junho, puxado pela alta média de 7,2% nos estados do Sul e de cerca de 2% nos outros estados da “Média Brasil”.
Além do aumento na produção interna, o Centro de Estudos também informa que houve alta de 22% nas importações de lácteos de maio para junho, totalizando cerca de 182 milhões de litros em equivalente leite, segundo dados da Secex.
“Mesmo que essa quantidade seja quase 14% menor que a internalizada no mesmo período do ano passado, ao considerar o primeiro semestre do ano, as compras externas ainda estão 1,4% maiores”, diz a pesquisadora.
Também influenciou na queda do ritmo de valorização do leite cru, a dificuldade das indústrias em garantir margem nas vendas dos lácteos ao longo do primeiro semestre. Pesquisas do Cepea apoiadas pela OCB mostram que houve altas de 6,6% no preço médio do UHT (leite de caixinha), de 4,1% para a muçarela, e de 2,5% para o leite em pó fracionado (400g) negociados entre indústrias e atacado em São Paulo, em junho. “Apesar das variações mensais positivas, é importante ressaltar que as elevações se concentraram majoritariamente na primeira quinzena do mês, visto que, a partir da segunda metade do período, houve aumento da pressão dos canais de distribuição sobre as negociações”, explica Natália.
Diante da percepção de queda no movimento de alta, apesar de tradicionalmente a tendência sazonal sinalizar elevações de preço do leite ao produtor até agosto, é possível que esse não seja o comportamento dos preços em 2024.
“Diante da continuidade do contexto de mercado citado, a expectativa é de que o terceiro trimestre seja marcado pelo recuo das cotações do leite cru”, conclui a pesquisadora do Cepea.
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