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Especialistas analisam como moeda americana pode impactar o agronegócio brasileiro
A moeda americana vem registrando saltos frente ao real nos últimos dias. O dólar saiu de R$ 5 em 9 de abril para R$ 5,29 uma semana depois, na última terça, 16. Mas como alguns centavos de diferença podem afetar o produtor rural? E quais as perspectivas para os próximos meses?
O Agro Estadão conversou com especialistas de mercado para entender como essa subida do dólar pode impactar o setor produtivo brasileiro.
Segundo o pesquisador do Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV Agro) e doutor em Economia, Felippe Serigati, esse cenário da moeda americana é ruim para o agronegócio. Isso porque há uma volatilidade alta o que não permite a previsibilidade tanto para quem exporta como para quem importa.
“Esse desenho, em via de regra, é ruim. Mas o câmbio mais alto não favoreceria o exportador? Favoreceria se ele soubesse que esse câmbio ficaria mais alto. Na situação que temos hoje, o exportador fica quase como um comportamento de especulador. Gera muita incerteza no mercado”, acrescenta Serigati.
Para o pesquisador da FGV Agro, o momento pode ser oportuno para fixar contratos futuros de commodities negociadas na bolsa, como soja, milho, café e açúcar. “A turma que já vem operando com preços muito baixos, pode se beneficiar. Aproveita que o dólar deu uma esticada e tenta travar um contrato. ‘Ah, mas amanhã pode ficar mais caro’. Sim ou não, então aproveita o que tem hoje”, recomenda Serigati.
Além de exportadores, o dólar mais caro também pode refletir nos valores dos insumos agropecuários, já que a maior parte desses produtos vem de fora do país e são negociados em moeda americana. Para Serigati, a volatilidade também acaba jogando contra e os agentes do mercado ficam especulando uma possível queda.
“Isso também pode afetar em termos temporais a aquisição de insumos de novo. Por que? Porque o pessoal pode ficar tentando especular. ‘Será que essa taxa de câmbio não vai cair amanhã daí eu consigo comprar um insumo um pouco mais barato?’. Então, esse que é o retrato dessa volatilidade no mercado cambial, que na verdade não é no mercado cambial, é uma volatilidade do lado do macroeconômico, que tem reflexo naturalmente no mercado cambial”, explica o pesquisador.
“Eu venderia um pouco agora de soja e milho”, avalia o fundador da Harven Agribusiness School e especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio, Marcos Fava Neves.
Para ele, caso o cenário geopolítico internacional – especialmente sobre os conflitos no Oriente Médio – continue como está, a tendência é que o dólar volte aos patamares de oscilação entre R$ 4,95 e R$ 5. “Não tendo essa escalada, pode ser um bom momento para a fixação de soja e de outros produtos do agro porque câmbio deu uma estourada”, complementa.
“No geral, tanto na questão das importações que o Brasil tem que fazer do Oriente Médio, quanto na questão das exportações de produtos para lá, é negativo esse conflito sobre a ótica econômica”, aponta Fava Neves.
Ambos especialistas dizem que as incertezas geradas pelo contexto econômico e político, tanto internacional como nacional, ainda não estão claras. É essa insegurança e falta de previsibilidade que faz com que a moeda americana suba rapidamente, como notado nos últimos dias.