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Tecnologia pode transformar o campo diante de crise climática

Soluções como integração lavoura-pecuária e plantio direto reduzem impactos ambientais e aumentam a eficiência, mas pequenos produtores ainda enfrentam barreiras de acesso e é preciso financiamento

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Tânia Rabello | Broadcast Agro

22/11/2024 - 14:40

André Lima, Eduardo Bastos, Giampaolo Queiroz Pellegrino e Paulo Hora debateram as mudanças climáticas e o agronegócios. A mediação foi de Leticia Luvison, editora-chefe do AgroEstadão. Foto: Flávio Florido/Estadão
André Lima, Eduardo Bastos, Giampaolo Queiroz Pellegrino e Paulo Hora debateram as mudanças climáticas e o agronegócios. A mediação foi de Leticia Luvison, editora-chefe do AgroEstadão. Foto: Flávio Florido/Estadão

Tecnologias para fazer frente aos efeitos das mudanças climáticas são conhecidas há décadas na agricultura brasileira. Falta, entretanto, ganharem escala, sobretudo entre pequenos e médios produtores. Elas preparam o campo para períodos de seca extrema e contribuem para a prevenção de cheias catastróficas, como as ocorridas este ano na Região Sul ou os incêndios que destruíram não só florestas nativas em vários biomas, mas também lavouras.

Para o diretor da Fauna Projetos e consultor da FGV Agro, Eduardo Assad, essa falta de escala não está, porém, ligada ao baixo nível de consciência dos produtores rurais em relação às mudanças climáticas. Segundo ele, embora a consciência no campo esteja melhorando, as medidas de prevenção e mitigação ocorrem lentamente. “Está melhorando (a visão dos produtores quanto à crise climática); já foi pior”, pontua Assad. “Hoje pelo menos há muita gente querendo discutir o assunto.” 

A coordenadora do Observatório de Bioeconomia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Talita Priscila Pinto, concorda com Assad: “Boas tecnologias existem. O que falta é elas serem mais difundidas”. Assad cita, por exemplo, que uma medida eficiente para minimizar o efeito da seca, como a integração lavoura-pecuária-floresta (ILP) ou a integração lavoura-pecuária (ILP), deveria ganhar mais espaço. Ele diz que, atualmente, dos 80 milhões de hectares ocupados pela agricultura, 17 milhões de hectares são manejados com ILP ou a ILPF, conforme dados da Rede ILPF. “É pouco ainda, tendo em vista o tempo que essa tecnologia existe e todas as políticas públicas desenvolvidas até hoje para disseminá-la”, avalia. A ILP permite que, na mesma área, sejam colhidas no mínimo três “safras”: duas de grãos e uma de boi. Já na ILPF há também a silvicultura, com a safra de madeira, garantindo o efeito “poupa terra”. 

Falta assistência técnica

Para Talita Pinto, mesmo que a consciência ambiental e climática dos produtores seja crescente, os pequenos e médios esbarram na falta de assistência técnica para adotar práticas mais sustentáveis. “Quase 70% dos produtores familiares costumam manter costumes passados de pai para filho, sem conhecimento das consequências ambientais”, exemplifica. Por outro lado, por mais que o Poder Público lance programas e linhas de crédito para estimular uma agricultura de baixo carbono, “há burocracia e dificuldade de acesso a essas linhas”, diz a pesquisadora. 

Ainda para ela, a tecnologia já existente no campo e também em outros setores da economia pode mitigar efeitos das mudanças climáticas, mas ainda não consegue fazer frente aos eventos extremos. “Ninguém está inteiramente preparado para isso ainda”, sentencia. “E devemos nos lembrar de que o setor agropecuário é muito vulnerável às oscilações climáticas e aos eventos extremos.”

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Pontos de atenção

Assad destaca um tema que pode ser considerado o “calcanhar-de-aquiles” do agronegócio: o desmatamento. “Enquanto esse desmatamento, sobretudo da Amazônia, não parar, não há tecnologia de mitigação que chegue.” Assad reconhece que um percentual ínfimo de produtores rurais é responsável pelo desmatamento no bioma. Mas a retirada de árvores no Norte do País, mesmo que não seja feita por produtores rurais e sim por grileiros, mexe, inevitavelmente, com o regime de chuvas e afeta a produção agropecuária. “Por exemplo, o milho safrinha já está tendo uma janela menor de dias de chuva, o que reduz a área plantada; há cálculos de que pelo menos 17 milhões de hectares poderão deixar de ser plantados por causa de secas prolongadas.” Ele cita também que os níveis de desmatamento no País têm diminuído nas áreas de fronteira agrícola, tanto na Amazônia quanto no Cerrado, e que na Mata Atlântica houve aumento de florestas. “Houve pouco aumento, mas em um cenário em que a mata nativa só recuou, ter uma expansão agora é um alento.”

Financiamento climático

Para o presidente da Comissão de Meio Ambiente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Muni Lourenço, o campo acompanha com preocupação o agravamento da crise climática. “Mas, por outro lado, o setor rural já conta com soluções eficientes em adaptação climática”, garante. Por isso ele acha fundamental que, muito além da conscientização, haja mais financiamento climático para o setor. “Mais recursos são necessários para que se tenha o avanço que se espera nas ações de mitigação e diante do agravamento das mudanças climáticas”, pontua. “Financiamento climático é fundamental, por exemplo, para massificar a transferência de tecnologia e as boas práticas agropecuárias, principalmente nos países em desenvolvimento.”

Lourenço diz que, na eventualidade de os países ricos não transferirem os recursos acordados durante as Conferências do Clima, “a agropecuária brasileira não vai parar”. “Mas, certamente, se vierem recursos globais, isso propiciará uma aceleração e ampliação do conjunto de ações de mitigação e adaptação necessárias”, continua. “É um quadro de emergência climática que traz em seu rastro um contexto de emergência financeira.”

Sob este aspecto, Assad demonstra preocupação com o negacionismo climático que pode ganhar força após a eleição do republicano Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos. “Os negacionistas vão voltar”, lamenta ele. 

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