O crescimento econômico tornou-se uma obsessão moderna que, embora tenha gerado benefícios indiscutíveis, agora impõe desafios sérios, principalmente ambientais e sociais
Historicamente, a busca pelo crescimento econômico não era uma prioridade. Economistas clássicos como Adam Smith e John Stuart Mill previam que a humanidade chegaria a um estado estacionário, onde o crescimento contínuo seria impossível. No entanto, a partir da Segunda Guerra Mundial, o crescimento econômico ganhou uma nova importância, sendo fundamental para as estratégias de guerra e, posteriormente, para o enfrentamento da Guerra Fria.
Num paper recente apresentado ao FMI, Daniel Susskind demonstra como o crescimento trouxe muitos benefícios, como a redução da pobreza extrema e o aumento da longevidade, mas também gerou desigualdades e impactos ambientais severos. As mudanças climáticas, em particular, estão intimamente ligadas ao modelo de crescimento atual, o que torna urgente a necessidade de repensar seu caráter. A ideia de “decrescimento”, proposta por alguns ambientalistas, sugere que reduzir ou parar o crescimento econômico seria a solução para os problemas ambientais. No entanto, Susskind critica essa abordagem, argumentando que o crescimento pode ser compatível com um planeta sustentável, desde que se priorizem inovações tecnológicas que permitam o uso mais eficiente dos recursos limitados.
A conclusão é que o desafio não é abandonar o crescimento, mas alterá-lo para que seja menos destrutivo e mais inclusivo. Isso pode ser alcançado por meio de reformas econômicas, maior investimento em pesquisa e desenvolvimento e a inclusão de grupos historicamente marginalizados nas atividades de inovação. São exemplos tecnologias que revolucionaram áreas como a biotecnologia, mostrando que a inovação pode impulsionar o crescimento sem esgotar os recursos do planeta. Fica claro que o futuro do crescimento depende de nossa capacidade de redirecioná-lo para objetivos mais amplos, como justiça social e sustentabilidade ambiental.
Alguns dados impactantes ilustram os limites ambientais do crescimento econômico: estamos consumindo recursos naturais 1,7 vezes mais rápido do que o planeta pode regenerá-los. Se as tendências atuais continuarem, estamos a caminho de um aumento de temperatura de até 3°C até o final do século, o que ultrapassa os limites seguros estabelecidos pelo Acordo de Paris. E o mundo já perdeu aproximadamente 60% das populações de vertebrados, com consequências imprevisíveis para o futuro da biologia.
George Monbiot, jornalista e ativista ambiental britânico, é uma das vozes mais influentes quando se trata dos limites ambientais do crescimento econômico. Em seus textos e palestras, Monbiot argumenta que o atual modelo de crescimento econômico é insustentável e profundamente destrutivo para o planeta. Ele defende que a busca incessante por crescimento econômico está levando ao colapso ecológico. Monbiot propõe a ideia de decrescimento, que envolve a redução deliberada da produção e consumo em países ricos para reduzir a pressão sobre o meio ambiente e promover uma sociedade mais justa e sustentável. O decrescimento, segundo Monbiot, é necessário para preservar os ecossistemas e assegurar que os recursos do planeta sejam distribuídos de maneira mais equitativa entre a população mundial.
Se os desafios ambientais e de adaptabilidade são imensos, também é crescente a dificuldade em criar consensos, em sociedades politicamente polarizadas. Teorias da conspiração que eram ridicularizadas há algumas décadas agora aparecem em planos de governos de candidatos, do Brasil aos EUA. Uma perspectiva sombria numa semana em que, entre chamas e fumaça, o Brasil sente a literalidade dos limites do crescimento.