Alimentos melhorados, que passaram por décadas de estudos e pesquisa, chegam à mesa do consumidor brasileiro e a outras partes do mundo diariamente
A ciência e a tecnologia estão no centro do desenvolvimento da agricultura brasileira. Da semente à pós-colheita, passando pelo manejo do solo e da água, são os avanços científicos e tecnológicos que ajudaram a transformar o Brasil numa potência agroambiental.
O consumidor muitas vezes não sabe, mas a tecnologia embarcada num grão de soja ou de feijão é muitas vezes maior do que as melhorias incluídas num smartphone ou computador de alta performance. São anos de pesquisa e inovação que geram produtos de melhor qualidade, mais nutritivos e saudáveis. A história da agricultura brasileira é repleta de exemplos, que vão desde a adaptação de culturas ao clima tropical, como o trigo, até o desenvolvimento de híbridos como o gado girolando, uma combinação entre o gado holandês e a raça indiana Gyr. O animal tem dupla aptidão (carne e leite) e países ao redor do mundo, inclusive a Índia, têm interesse na genética brasileira.
A mais recente novidade vem da cadeia produtiva do feijão. Segundo especialistas do setor, a produção deve aumentar em torno de 5,3% em 2025 em relação à última safra, chegando a 3,3 milhões de toneladas. O valor será suficiente para suprir a demanda interna, dispensando a necessidade de importação. Alimento presente no dia a dia dos brasileiros, o feijão é fonte de uma série de compostos que contribuem para a saúde do consumidor como aminoácidos, fibras e sais minerais. Por outro lado, é também associado a desconforto digestivo e flatulência. Os vilões são alguns carboidratos presentes na leguminosa.
Tendo como base este problema do consumidor, os pesquisadores Josias Silva e Rosana Vianello, da Embrapa Arroz e Feijão, localizada em Goiás, com base em conhecimentos no código genético da leguminosa e no emprego de uma ferramenta biotecnológica (CRISPR) editaram o genoma do grão. Basicamente, os cientistas usaram as “tesouras biotecnológicas” para eliminar dois genes associados à produção de carboidratos que causam o desconforto no consumo do feijão. As “tesouras” foram desenvolvidas em 2012 por duas pesquisadoras que receberam o Prêmio Nobel de Química em 2020.
O produto ainda não está disponível no mercado. Mas apresenta grande potencial de avançar no desenvolvimento tecnológico e chegar à mesa do consumidor final. Mais estudos ainda são necessários para que as alterações realizadas no grão sejam “fixadas” e possam ser transferidas a novas gerações da planta. Ainda que demore alguns anos para chegar à mesa do consumidor, o trabalho é mais uma demonstração de que investir em pesquisa agropecuária pode não só beneficiar o produtor, mas a sociedade como um todo.
A próxima etapa do estudo, já em andamento, é o avanço de gerações de plantas editadas com os genes da rota de rafinose desativados. A expectativa é a obtenção de variedades de feijão mais saudáveis e atrativas para produtores e consumidores.